CFM considera válidos procedimentos para mudança de sexo de
transexuais femininos. O Brasil tem novas regras e regulamentos para a
cirurgia de readequação, que possibilita a troca de sexo.
A Resolução do Conselho Federal de Medicina
(CFM) nº 1955/2010 reconhece o tratamento de transgenitalismo de
adequação do fenótipo feminino para masculino. A matéria autoriza
procedimentos de retirada de mama, útero e ovários. A resolução foi
publicada nesta quinta-feira (2), no Diário Oficial da União (DOU).
Para o CFM, o tratamento de neofaloplastia (construção
do pênis) continua sendo um procedimento experimental. “Entendemos que o
procedimento é de resultados estéticos e funcionais ainda
questionáveis, e por isso seja mantido como experimental”, apontou o
relator da resolução e conselheiro federal, Edvard Araújo.
Outra novidade
na resolução é que agora os tratamentos de transgenitalismo podem ser
realizados em qualquer estabelecimento, desde que siga os pré-requisitos
da resolução. “Por ser um procedimento válido não é necessário
limitarmos o local onde será feito”, explica Araújo.
O presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays,
Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis, destaca que
existem muitos casos do transexual se mutilar, por rejeitar o próprio
corpo. “A medicina pode ajudar a construir a cidadania das pessoas independentemente da identidade de gênero”, disse Reis.
Regras – A seleção dos pacientes para cirurgia continua
obedecendo a avaliação de equipe multidisciplinar constituída por médico
psiquiatra, cirurgião, endocrinologista, psicólogo e assistente social. Este acompanhamento deve ser de, no mínimo, dois anos.
O tratamento só pode ser realizado em maiores de 21 anos, depois de
diagnóstico médico e com características físicas apropriadas para a
cirurgia.
A gaúcha Cristyane Oliveira foi uma das pioneiras da cirurgia no
país. Ela teve seu processo concluído em 2002 no Hospital de Clínicas de
Porto Alegre (RS). Hoje trabalha como secretária, é casada há oito
anos, e diz se sentir realizada. “A cirurgia foi uma janela para
realizar um sonho. Não me sinto mais mulher, a cirurgia me fez sentir
mais cidadã”, apontou Oliveira.