Este Blog foi escrito para o Público LGBT de todas as idades que estão a pensar em assumir-se. Nós sabemos que tomar a decisão de se assumir pode ser assustadora e desgastante. É por estas razões e devido ao nosso trabalho na área de homossexuais que fizemos este Blog. Acreditamos que informação útil e as experiências de outras pessoas em assumirem-se podem preparar-te para algumas das consequências que podem resultar de te assumires perante a família e amigos. Blog que reúne as principais notícias sobre o público Gls Glbt Lgbt (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). Tem por objetivo manter tal comunidade informada, para que usufruam de seus direitos, comemorem suas conquistas e lutem pela diminuição do preconceito. Deixe seu recado, mande suas fotos e videos poste no nosso blog Faça parte você também Participem deste blog, Mail sociedadelgbt@hotmail.com

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Mãe, sou gay

Minha mãe estava ocupada. Eu disse que queria falar com ela mas que esperaria até que se desocupasse. Saí ouvindo "pode falar, eu te escuto". "- Não, mais tarde", tentava prolongar mais a revelação e me convencer de que tudo daria certo. Já vinha passando por alguns problemas e esse estava ocupando um espaço enorme diante de outros. Após almoçarmos, ela me chamou e insistiu que eu falasse. Relutei muito a dizer e após nos olharmos com notável tristeza, consenti que sim ao seu": é isso que estou pensando, não é?". Seguiram-se minutos terríveis de silêncio, na certa enquanto passavam cenas da minha vida em sua mente, tentando sem sucesso saber se aquele bom filho do passado era o mesmo que via em sua frente dizendo ser gay. Aos poucos fui me tornando um desconhecido.
Com certeza foi um dos dias mais tristes da minha vida. Contá-la o que sinto, de quem amo, dizer a verdade cortou metade do amor que ela pudesse sentir por mim. Não falamos gay nem homossexual aquele dia. Meu pai chegou logo em seguida e ela me perguntou se poderia contá-lo, disse que sim. Estava feito, apesar da tristeza, eu não queria voltar atrás. A primeira fala de meu pai, homem do interior e de ensino fundamental incompleto, foi: "bom, eu acho que a pessoa já nasce assim. Não há o que pode ser feito, resta-nos apoiá-lo". Eu esperava por seu apoio porque nunca deu a entender e nem se manifestou grosseiramente contra gays, mas não esperava que seria tão rápido e da forma que foi. Me ajudou e ajuda muito.

Mais tarde soube que ela estava chorando e ameaçou até de se matar. Vê se pode? Meu pai disse pra eu ter calma e não me importar que tudo ficaria bem. "Ela só está precisando de um tempo", disse ele. Tempo esse que nunca chega. Claro que tem melhorado, ainda assim não é mais a mesma, no fundo ainda sinto sua reprovação   ao mudar de canal quando passa alguma cena de Roni, em Avenida Brasil, por exemplo. Ela não sabe o mal que me faz ao vê-la ser tão intransigente ao que eu sinto, ao amor alheio. Não sei como isso pode incomodar tantas pessoas. Já tentei entender mas é difícil, principalmente sabendo que é um filho, e que você deveria ou pelo menos antes o amava de forma mais intensa que agora.

À noite, no mesmo dia, enquanto eu assistia um vídeo dos funcionários LGBT da Pixar dizendo que ficaria tudo bem, disse-me sussurrando pra eu esquecer isso que era um pensamento bobo que haviam colocado em minha cabeça. Sim, o sentimento que sinto por um outro homem não passa de algo bobo/idiota/menos/inferior do que outras pessoas sentem. Fui pro banheiro e chorei até não querer mais. Quem viu o vídeo sabe o quão emocionante é, em especial o depoimento de um rapaz ao falar da alegria que sente em chegar em casa e ver o seu companheiro a sua espera. Depois de tudo que viveu, depois de tantos choros e em meio a incertezas, encontra-se com uma vela acesa no fundo da escuridão. "Vai ficar tudo bem", dormi pensando nisso.

No outro dia acordei com uma sensação indescritível de ser você mesmo, de estar dentro do seu corpo, de saber quem é. Nunca tive pensamento de não me assumir pra eles, ou de aguardar pela tão sonhada liberdade financeira pra contá-los e, depois disso tudo, esperar pela aceitação, já que pode se bancar sozinho. Ter e o ser se confundem com esse pensamento. Você espera ter pra que as outras pessoas -- nesse caso, os seus pais -- só então deem valor pelo que você é. "Enquanto isso vai sofrendo, por que ão deve ser tão difícil esconder isso das pessoas que mais ama", devem pensar essas pessoas. Não vale a pena, gente. Ao menos pra mim. Responsabilidade e certeza do que se está falando e passando no momento são imprescindíveis.

Lembro vagamente de ouvi-la dizer, muito preocupada com a opinião alheia, principalmente de sua família, do que seus irmãos vão pensar, que isso deveria ficar somente entre a gente. Parece até que sua preocupação gira em torno de si mesma.  Por mais que eu queria acreditar que seu apoio não é importante, estarei mentindo pra mim mesmo. O máximo a se pode conseguir é não depender tanto desse ombro amigo que deveria ser uma mãe. O apoio dos pais é vital na construção de qualquer individuo, e mostra-se mais necessário ainda quando se é gay, quando o resto do mundo te esnoba. Aí vem seus pais e fazem o mesmo? PQP!

Se você é um mãe de algum LGBT, peço, POR FAVOR em letras gigantes, ame seu filho. Sente-se com ele e  diga o quanto o ama e que essa diferença que tem não deve afetar em nada o sentimento que sentem um pelo outro. Mostre-se pai e mãe, acolha, dê colo. Pra você LGBT, que como eu, sofre com essas dificuldades básicas da vida, vamos ao contrário deles, pais e familiares intolerantes, tentar entendê-los ou simplesmente ignorá-los. Sei que é difícil e será sempre, então o que nos resta é torcer pelo melhor e lutar pra que aconteça. Feliz dia 13 de maio a todos!
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