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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Mundo "gay"

Em 1982 a então deputada Natália Correia reduziu os argumentos mais conservadores em relação à sexualidade com um poema venenoso, dirigido ao deputado do CDS João Morgado, opositor da liberalização do aborto: "O acto sexual é para ter filhos - disse ele/ Já que o coito - diz Morgado - tem como fim cristalino,/ fazer menina ou menino;/ e cada vez que o varão/ sexual petisco manduca/ temos na procriação/ prova de que houve truca-truca./ Sendo pai só de um rebento,/ lógica é a conclusão/ de que o viril instrumento/ só usou - parca ração! -/ uma vez. E se a função/ faz o órgão - diz o ditado -/ consumada essa excepção/ ficou capado o Morgado." Um livro recentemente publicado nos Estados Unidos surge na mesma senda do poema de Natália Correia, ao compor uma lista exaustiva de exemplos de comportamentos homossexuais entre os animais.

A ancestral visão bíblica do dilúvio universal, em que Noé constrói uma arca para salvar um casal de cada espécie animal, parece ser muito redutora. É cada vez mais reconhecido que muitos animais - pelo menos, mamíferos e pássaros - têm relações homossexuais. Um livro publicado nos Estados Unidos analisa extensivamente toda a literatura publicada sobre o assunto, e apresenta 470 exemplos deste nosso mundo "gay" - ou, pelo menos, bissexual. "Biological Exuberance: Animal Homosexuality and Natural Diversity" (Exuberância Biológica: Homossexualidade Animal e Diversidade Natural) é um livro de 750 páginas, publicado pela St Martin's Press, em que Bruce Bagemihl, um investigador de Seattle (Washington, EUA), relata os resultados de uma pesquisa realizada em dez anos. Durante uma década, leu todos os artigos publicados em revistas científicas que indiciassem casos de relações homossexuais entre os animais, e conversou com outros investigadores, para conhecer mais detalhes que tivessem ficado de fora dos artigos. As opiniões dividem-se: há quem considere a homossexualidade animal um disparate à luz da teoria da evolução de Darwin e não a aceite, mas também há outros investigadores que louvam o gigantesco levantamento de dados feito por Bagemihl, que trazem para a ribalta uma faceta do comportamento animal que permanece muito ignorada. "A beleza do livro é ter tanto dados. Fiquei impressionado com bestiário de comportamentos homossexuais realizado por Bagemihl. Fica claro que atravessam o reino animal", disse Paul Harvey, um biólogo da evolução da Universidade de Oxford, no Reino Unido, à revista de divulgação científica britânica "New Scientist", que dedicou um longo artigo a este livro na sua edição de 7 de Agosto.Os exemplos recolhidos por Bagemihl mostram que o comportamento homossexual entre os animais não é um fenómeno único e uniforme. Por vezes, os preliminares às relações homossexuais são semelhantes às heterossexuais, como acontece entre os pinguins e as morsas. Mas, em alguns casos, são completamente diferentes, como entre as avestruzes: os machos tentam cativar outro macho com uma dança de piruetas, de uma forma diferente do que fazem quando procuram atrair as atenções de uma fêmea. Quanto às fêmeas dos macacos "rhesus", brincam às escondidas umas com as outras, num comportamento exclusivo do cortejamento entre fêmeas. Em cerca de um quarto dos casos descritos, há apenas aquilo que Bagemihl chama comportamentos afectuosos, sem contacto genital directo, "mas com contornos claramente sexuais ou eróticos". Os leões esfregam narizes e rolam abraçados, enquanto alguns morcegos ficam com erecções quando animais do mesmo sexo os lambem e limpam. As girafas machos acariciam-se mutuamente, no rosto e no pescoço, e as carícias muitas vezes culminam em orgasmo. Mas também há comportamentos sexuais mais explícitos: as fêmeas de ouriço fazem sexo oral e os orangotangos machos também. "Quase todos os tipos de actividades sexuais entre parceiros do mesmo sexo praticadas pelos seres humanos têm um equivalente no reino animal", diz Bagemihl. A mensagem que quer fazer passar é simples: a homossexualidade é tão natural como a heterossexualidade, e não uma coisa que apenas os estranhos seres humanos fazem. Só que, apesar de ser aparentemente tão comum, a homossexualidade animal é pouco conhecida, até mesmo entre os cientistas. "Embora os primeiros artigos sobre comportamentos homossexuais entre primatas tenham sido publicados há mais de 75 anos, quase todos os principais livros de primatologia a ignoram", afirma o primatólogo Paul Vasey, da Concordia University, em Montreal, no Canadá.Os motivos para isto, diz Bagemihl, são uma mistura de preconceitos individuais e ansiedade profissional entre os zoólogos. As soluções mais comuns para lidar com a questão são dizer que os animais se enganam - não sabem bem se estão a fazer sexo com uma fêmea ou um macho - ou que a penetração de um macho por outro não é mais do que o estabelecimento de uma relação de supremacia. Um exemplo desta última desculpa foi confessado pelo biólogo Valerius Geist, que estudou carneiros de montanha nas Montanhas Rochosas. "Arrepia-me pensar que aqueles magníficos animais eram homossexuais. Oh, meu Deus!" Durante dois anos, tentou convencer-se a si próprio de que quando viu um macho penetrar outro estava apenas a ver uma forma agressiva de estabelecer uma relação de domínio. "Nunca publiquei essas desculpas esfarrapadas e estou contente por não o ter feito. Acabei por chamar os bois pelos nomes e admitir que os carneiros vivem numa sociedade que é essencialmente homossexual."Mas as objecções intelectuais são mais profundas. A homossexualidade parece ser uma perda de tempo, numa perspectiva darwiniana: para quê perder tempo em relações deste tipo quando se podiam estar a fazer bebés e a perpetuar a espécie? Um dado adquirido é todos os animais serem uma espécie de máquinas biológicas cujo objectivo é espalhar os seus próprios genes. Por isso, alguns cientistas não acreditam em animais homossexuais.O que Bagemihl responde a estas objecções é que os comportamentos homossexuais existem, seja qual for a sua explicação ao nível da evolução biológica ou função social. "Só porque um comportamento é de cariz sexual, isso não quer dizer que não possa cumprir um papel social", diz o canadiano Paul Vasey.Linda Wolfe, que hoje é catedrática de Antropologia na Universidade da Carolina do Leste, em Greenville (Carolina do Norte), em meados dos anos 70 estudava macacos no Japão e descobriu que as fêmeas faziam sexo entre si, tem uma explicação simples. Tendo comida e tempo livre, "fazem-no apenas para ter prazer." Nos anos 70, Wolfe teve de enfrentar os olhares de lado de muitos outros investigadores, que lhe perguntavam porque é que ela se interessava por coisas esquisitas. E, mesmo hoje, encontra comentários do mesmo género: "Há três anos, numa conferência de primatologia, apresentei esta ideia e fui expulsa da sala." Os comentários eram do género: "Bem, se assim fosse, estávamos todos a fazer sexo no corredor."Mas este argumento tem uma expressão reconhecida pelo menos entre os bonobos ou chimpanzés-pigmeus. "Se o que se pretende é sexo homossexual, não é os humanos que devemos observar, mas os bonobos. É escandaloso", comenta, divertido, o primatólogo Robin Dunbar, da Universidade de Liverpool, em declarações à "New Scientist". "Eles fazem sexo com qualquer um, de qualquer sexo ou idade." É fácil ver fêmeas abraçadas de frente, para se estimularem genitalmente, ou machos a beijarem-se com amplo uso da língua. Mas, no caso dos bonobos, que vivem em grupos sociais muito grandes - com 20 ou mais animais -, o sexo funciona como uma forma de construir relações e evitar conflitos. E a estratégia parece funcionar, pois a sua sociedade é muito mais harmoniosa do que a dos seus primos mais próximos, os vulgares chimpanzés. Ainda que os bonobos sejam o caso mais espectacular, Bagemihl está convencido de que os casos que apresenta no seu livro são apenas a ponta do icebergue. Afinal de contas, é raro observar actos sexuais entre muitas espécies. Acasalamentos heterossexuais de chitas, em ambiente natural, por exemplo, só foram vistos cinco vezes. "O facto de em muitas espécies nunca terem sido detectados comportamentos homossexuais não quer dizer que não existam. Pode significar apenas que ainda nunca foram observados", conclui Bagemihl.
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