Declaração o sofrimento da primeira vez de um gay, trouxe à
tona a pergunta: sexo anal dói muito? homens que
passaram pela experiência e especialistas para esclarecer esta e outras
dúvidas
Depois de interpretar o bruxinho Harry Potter nos sete filmes da série, Daniel Radcliffe
cresceu e passou a se deparar com papéis sexualmente bem mais
complexos. Na peça "Equus", de que foi protagonista, ficou nu e sugeriu
fazer sexo com um cavalo. Quando afirmou em entrevista para a revista
"Flaunt" que procurou ser realista ao filmar sua primeira cena de sexo
gay no filme “Kill Your Darlings", e que para isso precisou demonstrar
dor, trouxe à tona a questão: a primeira experiência com sexo anal é
algo necessariamente doloroso e incômodo para todos?
Para esclarecer essa dúvida, o conversou com homens de 21 a 32 anos que passaram pela perda da
virgindade anal, e foi ouvir também especialistas que deram dicas para
diminuir o desconforto da primeira vez. Como pudemos ver, as histórias
são bem diferentes. Há os que sentiram dor, os que sentiram prazer e
dor, e os que não sentiram nada - nem prazer e nem dor. Muitas vezes,
independente do incômodo físico, a primeira vez é apenas frustrante.
O funcionário público de Brasília Filipe
, 21, relata que passou por várias tentativas prévias antes de consumar a
primeira experiência homossexual. Quando afinal perdeu a virgindade,
sentiu uma certa dor, mas depois aproveitou. “Eu já havia feito
preliminares, aquele lance de ‘só a cabecinha’, mas nada de penetração
mesmo. Quando finalmente aconteceu estávamos na sala, tentamos algumas
posições, mas não dava certo. Depois que lubrificou o pênis, o rapaz foi
de uma vez, e doeu um pouco. Então ele me segurou, me acalmou, e daí
aproveitamos. Foi um pouco desconfortável, mas nada descomunal”, revela
ele.
Com o analista de sistemas bissexual André
, 32, foi bem diferente: sua primeira vez foi sem nenhum preparo.
Segundo ele conta, perdeu a virgindade anal aos 25 anos. Depois de um
dia de trabalho agitado, resolveu ir a uma balada gay em São Paulo, onde
vive. Encontrou um parceiro e os dois foram para a sua casa. “Foi tudo
bem frenético. Sem conversa, sem acordo. A gente entrou, fomos para a
cama já sem roupa, ele me virou de costas e eu fui curtindo. Ele colocou
a camisinha e o sexo rolou sem maiores delongas. Não doeu e sensação
foi ótima, não apenas a penetração em si, mas o ato como um todo. A
submissão inesperada que acabou sendo exercida, assim como a total
diferença dessa condição para aquela de ativo (que realiza a
penetração), ou de uma relação com uma mulher”, explica. A sexóloga Carla Cecarello
afirma que a prática do sexo anal é saudável e prazerosa quando
realizada da forma correta. Com relação à dor, ela diz que é relativa,
assim como no caso da perda da virgindade vaginal. “Doer ou não depende
muito de como o sexo anal vai ser feito, da mesma forma como a relação
vaginal pode doer ou não. É importante lembrar da lubrificação. A vagina
é naturalmente lubrificada, já o ânus não. Por isso é importante o uso
do lubrificante à base de água”.Vai depender muito de como o sexo anal vai ser feito, da mesma forma como a relação vaginal pode doer ou não
Como era de se esperar, o estado de espírito interfere
muito na sensação física da primeira vez. A mesma condição de “duas
primeiras vezes” se repetiu com o relações públicas Bruno
, 26. “Eu tinha 18 anos e conheci um rapaz. Depois de sair algumas vezes
resolvemos transar, preparei tudo, criei um clima. Tudo rolou legal até
ele se lubrificar e me penetrar. Durou só uns cinco segundos, foi
frustrante. Tempos depois, após muito sexo oral e masturbação com um
namorado, tentamos e rolou. Fico bem nervoso sempre, porque acho que dói
um pouco, então tenho que ir devagar para me acostumar e relaxar”,
explica.
O sexólogo Amaury Mendes
lembra que a prática do sexo anal é recheada de tabus. “Até no sexo
vaginal pode existir dor, mas é importante ressaltar que o sexo anal é
circunscrito de tabus, medos e culpa. Tudo que não é reprodutivo tem uma
conotação de pecado, tanto o sexo anal como o sexo oral. A partir do
momento em que duas pessoas rompem esse preconceito e ficam tranquilas,
tudo tende a dar certo. A dor não é uma regra no sexo anal e tem muitos
homens e mulheres que gozam ao praticá-lo”, conclui.
Técnica de relaxamento
Cecarello explica que, ao ser penetrado, o ânus
se contrai, o que dificulta o ato e pode causar dor. Nessa hora não se
deve tentar a penetração. “Tem que encostar devagarzinho e esperar o
esfíncter relaxar, para só então penetrar. Isso tudo com muita
lubrificação, para deslizar tranquilamente”.
Carla Cecarello alerta ainda que o uso de
camisinha também é imprescindível. “Se você vai se submeter a uma
relação anal, pode acontecer de ter fezes, e por isso a camisinha
permite uma higiene”, diz ela. Porém, a prática de lavagem estomacal,
comumente chamada de “chuca”, não é recomendada. “Quando você faz algum
tipo de lavagem com chuveirinho, pode machucar o canal anal e também
elimina a mucosa que protege o ânus de doenças.”
Tomando os cuidados necessários, Filipe é adepto do
processo de lavagem estomacal, e dá também outras dicas para aumentar o
prazer e a segurança do sexo anal - e minimizar os possíveis
constrangimentos. "Eu incluo sempre grãos e alimentos que facilitam a
digestão na minha alimentação. Antes da prática, fico de jejum por
algumas horas, e faço a famosa lavagem intestinal em casa. Sou bastante
vaidoso e me cuido bastante. Assim como hidrato meu corpo, hidrato a
região anal. E, na hora do sexo, camisinha e lubrificação”, conta.
Mendes ressalta a importância do estímulo do parceiro.
“Seja homem ou mulher, durante a prática de sexo anal é preciso lembrar
de estimular quem está sendo penetrado, ou até ele mesmo pode se
masturbar, se tocar”, conclui.
Sobre as posições sexuais mais adequadas, cada um tem
suas preferências. Filipi curte todas, sem restrições, André prefere
ficar sentado de frente para o parceiro, enquanto Bruno, que sente um
pouco mais de desconforto, prefere de lado, a posição recomendada por
Cecarello. “Para começar, é melhor deitado de ladinho, onde o pênis dá
uma curvadinha na hora da penetração. De quatro ou sentado são
penetrações sem obstáculos, o que pode gerar desconforto”, recomenda a
especialista.