"...não escohi me sentir menino mesmo tendo nascido num corpo de
menina, não escolhi a minha vida toda querer refletir no espelho uma
imagem masculina que habitava na minha mente.
Essa, foi uma decisão e uma seleção da natureza, por um motivo que
infelizmente não sei dizer qual..."
Tudo parecia perfeito, a libertação da personalidade que eu era obrigado
a assumir dia após dia como uma epécie de tortura diária, estava
prestes a ter fim. Olhei no espelho após a primeira grande atitude de
cortar o cabelo e me vestir com roupa exclusivamente masculina ( não
mais unisex ), "enfaixei" aqueles que me incomodavam e de que nada tinha
orgulho, os peitos, que não gostava de denominar seios. E ali estava: a
primeira grande parte de mim. Estava desaprisionando um pássaro que de
tantos anos presos, não sabia voar. Sorri, senti-me leve, e a vida se
simplificou naquele sorriso.
Os efeitos de que tudo era só flores apartir daquele momento confrontaram-se com a realidade ao sair na rua, na verdade, ao sair do quarto. Eu não havia comentado com ninguém mais além da minha namorada, e não imagina o quanto minha família sofreria com o que pra mim seria um desaprisionamento. Tudo era tão bom que eu não conseguia fazer conexão alguma com dor ou sofrimento, mas além deles vierão também os preconceitos, os julgamentos, a rejeição, o afastamento... e eu comecei a perceber que haveria de pagar um preço, mas nada me impediria, nada era maior do que o desejo de ser feliz. Por vezes me questionei se estava sendo egoísta, mas aos poucos entendi que não existem grandes mudanças sem processos de desapego, e que nem sempre são agradáveis. Entendi que eu deveria suicidar a velha personalidade, enterrar, aprender e ensinar a esquecer. E a morte, como é comum que seja, é dolorosa. O transexual precisa morrer para nascer de novo, a grande diferença é que para nós essa morte tem sabor de vida, é prazerosa, libertadora... para os que nos são próximos, é muitas vezes assustadora, eles não sabem o que está por vir, nós sabemos porque convivemos por toda a vida com essa imagem de quem somos em nossa mente. Eles não, não sabem quem somos além de quem temos sido até então. È preciso ter amor, paciência e tolerância com os que amamos, muito mais nós com eles do que o contrário. Essa fase iria passar, aos poucos eles sentiriam junto comigo o alívio de me verem como sou. E passou...
È preciso saber que nem todos vão ficar, alguns, talvez por medo, se afastarão. Mas o tempo vem remediar essas feridas. O amor, quando verdadeiro, sempre permance.
As pessoas não foram os únicos obstáculos, os sistemas, as leis, a medicina, os orgãos públicos... alguns parecem ignorar a existência do homem transexual, ou reunem meias informações e formam conceitos errados sobre nós. Precisei enfrentar cada uma dessas barreiras com a força da minha vontade de viver, impulsionando, pressionando, doando a energia que me mantinha nessa luta. E a vida me doou pessoas, para que eu não me sentisse só, pessoas as quais serei eternamente grato, é preciso saber recebê-las, mantê-las e,principalmente, agradecê-las.
O mais importante nisso tudo, é que percebi a missão: Não adiantava cobrar que os médicos soubessem lidar comigo, que os orgãos públicos soubessem me receber sem olhar torto e muitas vezes criar caso me impedindo de tirar documentos importantes para a minha ação como cidadão. Não, não adiantava bater de frente, seria exaustivo e tão violento quanto a violência que eu sentia em mim. Era fato que o mundo parecia estar despreparado, mas tudo na história teve um começo de luta, de imposição. E como tudo o que é novo, assusta, apavora... eu estava lá, e precisava continuar fazendo parte do mundo, se eles não sabiam lidar comigo, eu é quem precisaria ensinar, com amor e paciência.
Diferente das mulheres transexuais, os homens têm se mantido discretos, querem excercer seu papel na sociedade sem precisar remeter ao passado. E de fato, é isso que a maioria de nós quer. Mas o silêncio fez com que todas essas barreiras continuassem ali presentes para os próximos que viriam a superá-las, tornando nossa trajetória solitária e dificultando o real entendimento a nosso respeito. Acredito que possa existir a revolução silenciosa, sem exposição. Através dela abriremos caminhos, facilitando o entendimento, somos o que somos e é preciso respeitar esse dom, assim como todos os outros!
SUPERANDO OBSTÁCULOS
Os efeitos de que tudo era só flores apartir daquele momento confrontaram-se com a realidade ao sair na rua, na verdade, ao sair do quarto. Eu não havia comentado com ninguém mais além da minha namorada, e não imagina o quanto minha família sofreria com o que pra mim seria um desaprisionamento. Tudo era tão bom que eu não conseguia fazer conexão alguma com dor ou sofrimento, mas além deles vierão também os preconceitos, os julgamentos, a rejeição, o afastamento... e eu comecei a perceber que haveria de pagar um preço, mas nada me impediria, nada era maior do que o desejo de ser feliz. Por vezes me questionei se estava sendo egoísta, mas aos poucos entendi que não existem grandes mudanças sem processos de desapego, e que nem sempre são agradáveis. Entendi que eu deveria suicidar a velha personalidade, enterrar, aprender e ensinar a esquecer. E a morte, como é comum que seja, é dolorosa. O transexual precisa morrer para nascer de novo, a grande diferença é que para nós essa morte tem sabor de vida, é prazerosa, libertadora... para os que nos são próximos, é muitas vezes assustadora, eles não sabem o que está por vir, nós sabemos porque convivemos por toda a vida com essa imagem de quem somos em nossa mente. Eles não, não sabem quem somos além de quem temos sido até então. È preciso ter amor, paciência e tolerância com os que amamos, muito mais nós com eles do que o contrário. Essa fase iria passar, aos poucos eles sentiriam junto comigo o alívio de me verem como sou. E passou...
È preciso saber que nem todos vão ficar, alguns, talvez por medo, se afastarão. Mas o tempo vem remediar essas feridas. O amor, quando verdadeiro, sempre permance.
As pessoas não foram os únicos obstáculos, os sistemas, as leis, a medicina, os orgãos públicos... alguns parecem ignorar a existência do homem transexual, ou reunem meias informações e formam conceitos errados sobre nós. Precisei enfrentar cada uma dessas barreiras com a força da minha vontade de viver, impulsionando, pressionando, doando a energia que me mantinha nessa luta. E a vida me doou pessoas, para que eu não me sentisse só, pessoas as quais serei eternamente grato, é preciso saber recebê-las, mantê-las e,principalmente, agradecê-las.
O mais importante nisso tudo, é que percebi a missão: Não adiantava cobrar que os médicos soubessem lidar comigo, que os orgãos públicos soubessem me receber sem olhar torto e muitas vezes criar caso me impedindo de tirar documentos importantes para a minha ação como cidadão. Não, não adiantava bater de frente, seria exaustivo e tão violento quanto a violência que eu sentia em mim. Era fato que o mundo parecia estar despreparado, mas tudo na história teve um começo de luta, de imposição. E como tudo o que é novo, assusta, apavora... eu estava lá, e precisava continuar fazendo parte do mundo, se eles não sabiam lidar comigo, eu é quem precisaria ensinar, com amor e paciência.
Diferente das mulheres transexuais, os homens têm se mantido discretos, querem excercer seu papel na sociedade sem precisar remeter ao passado. E de fato, é isso que a maioria de nós quer. Mas o silêncio fez com que todas essas barreiras continuassem ali presentes para os próximos que viriam a superá-las, tornando nossa trajetória solitária e dificultando o real entendimento a nosso respeito. Acredito que possa existir a revolução silenciosa, sem exposição. Através dela abriremos caminhos, facilitando o entendimento, somos o que somos e é preciso respeitar esse dom, assim como todos os outros!