Se você tem um filho adolescente, torna-se muito importante
compreendê-lo. Jovens gays e lésbicas que são isolados pelos seus pais
apresentam uma incidência de suicídio e de abuso de drogas e álcool comparativamente
alta. Alguns adolescentes se protegem afastando-se e colocando a maior
distância possível entre eles e seus pais.
Se seu filho ou filha "se assumiu" para você
por vontade própria, você provavelmente já está na metade do caminho.
A decisão de seu filho em revelar para você algo que nossa sociedade reprime,
exige uma grande coragem e compreensão de ambas as partes. Esta abertura
também mostra uma supreendente carga de amor, confiança e compromisso
para com o seu relacionamento com você.
Agora é sua vez de corresponder à coragem, ao compromisso,
à confiança e ao amor de seu filho com os mesmos sentimentos.
Definições usadas
Heterossexual, refere-se a pessoas cujos sentimentos sexuais
e afetivos são na maioria dirigidos a pessoas do sexo oposto.
Homossexual ou gay ou lésbica refere-se a pessoas cujos
sentimentos sexuais e afetivos são na maioria dirigidos a pessoas do mesmo
sexo.
Homofobia refere-se à incompreensão, à ignorância e ao
medo que a sociedade expressa em relação aos gays, às lésbicas e aos bissexuais.
Lésbicas, refere-se às mulheres que são homossexuais.
Bissexuais ou bi, refere-se a pessoas cujos sentimentos
sexuais e afetivos são dirigidos a pessoas de ambos os sexos.
Neste texto, a palavra gay é usada de forma a incluir homossexuais
e bissexuais, tanto homens como mulheres. Mas a palavra lésbica é como
as mulheres homossexuais preferem ser identificadas.
Meu filho é uma pessoa diferente agora?
Nós achamos que conhecemos e entendemos nossos filhos desde
o dia de seu nascimento. Nós temos certeza absoluta de que sabemos o que
se passa nas suas cabeças.
Assim, quando um filho chega em casa como uma revelação
tão importante como "eu sou gay" "eu sou lésbica"
e nós nem tínhamos desconfiado - ou quando sabíamos, mas escondíamos isso
de nós mesmos - nossa reação é de choque e desnorteamento. Choque, porque
nosso filho não é o que nós esperávamos, e desnorteamento porque nós não
sabíamos disso.
"Nossa primeira reação foi dizer a ele que nós o amávamos
e que nada tinha mudado. Mas na verdade tudo mudou. De repente ele se
tornou um estranho."
Desde o momento que um filho nasce, nós temos um sonho,
uma visão do que este filho será, deverá ser, poderá ser. Este é um sonho
que nasce da sua própria história, do que você mesmo desejava ser quando
crescesse, e especialmente da cultura à sua volta. Apesar do fato de que
os gays são uma parcela significativa da população, a sociedade de uma
forma geral ainda nos prepara apenas para ter sonhos heterossexuais em
relação aos nossos filhos.
O choque e o desnorteamento que você sente são uma parte
natural de um tipo de processo de dor. Você perdeu algo: o sonho que você
alimentou para seu filho. Você também perdeu a ilusão de que podia ler
os pensamentos de seu filho, quando na verdade não podia.
É claro que, quando você pára para pensar nisso, este é
um processo que acontece com todos os filhos, sejam eles heterossexuais
ou homossexuais. Eles sempre estão nos surpreendendo. Eles não casam com
as pessoas que nós escolheríamos, não têm o emprego que nós teríamos escolhido,
não moram onde gostaríamos que eles morassem. Porém, na nossa sociedade,
estamos mais preparados para lidar com estas circunstâncias do que com
a orientação sexual não-tradicional de um filho.
Repita sempre para você mesmo que seu filho não mudou,
ele é a mesma pessoa que sempre foi antes de você conhecer sua opção sexual.
É seu sonho, suas expectativas, suas visões que podem ter que mudar se
você realmente quiser conhecer e amar seu filho.
Por que ele teve que nos contar?
Alguns pais acham que ficariam mais felizes se não soubessem
a verdade. Eles começam a pensar na época anterior ao momento da revelação
como uma época sem problemas - esquecendo a inexplicável e desconcertante
distância que eles geralmente sentiam existir entre eles e seus filhos
naquela época.
Às vêzes, tentamos negar o que está acontecendo - rejeitando
o que estamos escutando ("É só uma fase: você vai superar isso"),
isolando-os ("Se você escolher esta forma de vida, não quero ouvir
falar sobre isso"); ou não registrando o impacto do que estamos ouvindo
("Está tudo bem, querido, e o que você vai querer para o jantar?").
Todas essas reações são naturais.
Contudo, se você nunca conhecesse a verdadeira orientação
sexual de seu filho, você nunca conheceria seu filho em sua totalidade.
Grande parte da sua vida permaneceria sendo um segredo para você.
É importante aceitar e entender a orientação sexual de
seu filho porque homossexualidade não é uma fase e muito menos é uma escolha.
Não se escolhe como se escolhe uma roupa ou uma cor. Embora seja possível
que as pessoas passem um período experimentando sua sexualidade, alguém
que chegou ao ponto de contar aos pais que é gay, geralmente não é alguém
que está passando por uma fase. Em geral, ele ou ela já levou um bom tempo
pensando, na tentativa de entender e reconhecer sua orientação sexual.
Então se você está pensando, "Será que ela tem certeza?",
a resposta é quase certamente ‘tem’. Uma pessoa que conta ao
pai ou à mãe que acha que é gay, teve que superar muitas barreiras, dificuldades
e muitos estereótipos negativos que fazem parte das representações da
"nossa" própria cultura machista e sexista. Portanto, está pessoa
está se expondo a muitos riscos para querer dar esse passo prematuramente,
ou sem ter pensado suficientemente.
O fato de que seu filho ou filha assumiu para você sua
verdadeira orientação sexual é um sinal de amor e necessidade de seu apoio.
Essa atitude exigiu muita coragem, e mostra o desejo muito forte de um
relacionamento aberto e honesto com você; um relacionamento que lhe possibilite
amar seu filho pelo que ele é e não pelo que você gostaria que ele fosse.
Por que ele não me contou antes?
Pode ser difícil para você descobrir que seu filho provavelmente
levou meses, talvez anos, pensando em sua homossexualidade e que só agora
está lhe contando. É fácil interpretar isso como falta de confiança, falta
de amor, ou como um reflexo de sua atitude enquanto pai ou mãe. E é doloroso
perceber que você não conhece seu filho tão bem como pensou que conhecia,
e que foi excluído de uma grande parte da sua vida.
Até certo ponto, isso é verdade em todos as relações entre
pais e filhos, sejam os filhos heterossexuais ou homossexuais. À medida
que os filhos se tornam adultos, acontece uma separação natural entre
eles e seus pais. Seu filho vai chegar a conclusões que você não chegaria,
e o fará sem consultar você.
"Depois que minha filha me contou que era lésbica
nós ficamos muito mais próximos".
Mas, nesse caso, consultar você é ainda mais difícil porque
a conclusão à qual seu filho chegou é tão importante e, em muitos casos,
tão inesperada e porque você ficou longe dos pensamentos dele ou dela
por tanto tempo.
É possível que gays e lésbicas se escondam dos seus pais
tanto quanto possível, porque eles precisaram de muito tempo para entender
o que eles mesmos estavam sentindo. Em outras palavras, filhos gays, lésbicas
e bissexuais geralmente sabem que eles se sentem "diferentes"
muito cedo, mas pode levar anos para que eles possam entender o que é
este sentimento.
Como nós ainda vivemos em uma sociedade que não entende,
ou que teme, os gays e as lésbicas, eles precisam de muito tempo para
reconhecer sua sexualidade para eles mesmos. Muito freqüentemente, os
próprios gays internalizaram sentimentos de auto-desprezo ou de insegurança
a respeito da sua identidade sexual. Pode levar algum tempo para que uma
pessoa reflita sobre o assunto e acumule a coragem necessária para conversar
sobre isso com seu pai ou sua mãe. Mesmo que você ache que o relacionamento
entre você e seu filho era tal que eles deveriam saber que poderiam contar
qualquer coisa para você, tudo na forma como nossa cultura trata a sexualidade
manda: "não pergunte, não fale".
Assim, mesmo que você sofra por não ter podido ajudar durante
este período difícil, ou mesmo se você acredita que o resultado poderia
ser diferente se você tivesse sido envolvido mais cedo, compreenda que
seu filho provavelmente não poderia ter lhe contado antes. O mais importante
é que, ao fazer isso agora, ele está lhe convidando para um relacionamento
mais aberto e honesto.
Por que meu filho é gay?
Os pais geralmente fazem esta pergunta por uma série de
motivos: eles podem estar sofrendo por causa da perda da imagem que tinham
do filho, eles acham que fizeram algo errado, acham que alguém "levou"
seu filho para a homossexualidade, ou se perguntam se existe uma causa
biológica para a homossexualidade.
Alguns pais reagem com choque, negação ou raiva à notícia
de que seu filho é gay. Uma reação é perguntar-se: "Como ele pode
fazer isso comigo?" Esta não é uma reação racional, mas é uma reação
humana à dor. Nós comparamos esta reação ao processo de sofrimento pela
perda: neste momento você está chorando pela imagem perdida de seu filho.
À medida que você elabora seus sentimentos, você pode descobrir que a
única coisa que seu filho "fez" com você foi confiar que seu
relacionamento poderia crescer depois que você soubesse a verdade sobre
ele.
É possível que você pense que seu filho foi levado para
a homossexualidade por outra pessoa. A idéia homofóbica de que os homossexuais
"desencaminham" as pessoas é muito comum. A verdade é que ninguém
"fez" de seu filho um gay nem de sua filha uma lésbica. É mais
provável que ele ou ela tenha se sentido "diferente" por um
longo tempo - nenhuma pessoa ou grupo de pessoas "converteu"
seu filho.
Outros pais acham que o comportamento deles, enquanto pais,
causaram tal identidade sexual no seu filho. Por muitos anos, a psicologia
e a psiquiatria divulgaram suas teorias de que a homossexualidade era
causada pelos tipos de personalidade dos pais - a mulher dominante, o
homem fraco - ou pela ausência de modelos sociais do mesmo sexo. Estas
teorias não são mais aceitas dentro da psicologia ou da psiquiatria, e
parte do trabalho do trabalho do Grupo Gay da Bahia é ajudar a apagar
estes conceitos errôneos da cultura popular. Gays vêm de famílias "modelo",
aquelas com mães dominantes ou submissas, pais fortes ou fracos. gays,
lésbicas e bissexuais são filhos únicos, ou caçulas, ou intermediários,
ou os mais velhos. Eles vêm de famílias com irmãos gays e de famílias
sem irmãos gays.
Muitos pais se perguntam se existe uma razão genética ou
biológica para a homossexualidade. Embora existam alguns estudos sobre
homossexualidade e genética, até o momento não existem conclusões sobre
a "causa" da homossexualidade. Na ausência de dados, nós gostaríamos
que você refletisse em por que é importante para você saber o porquê.
será que o apoio ou amor que você vai dar ao seu filho
vai depender de você ser capaz de definir uma causa? Nós pedimos aos heterossexuais
que nos expliquem sua sexualidade? Lembre-se que existem gays, lésbicas
e bissexuais em todas as posições sociais, religiões, nacionalidades e
origens étnicas. Assim, gays, da mesma forma que heterossexuais, são muito
diferentes uns dos outros e chegaram à sua sexualidade por diferentes
caminhos. Embora seja normal sentir curiosidade sobre a razão da homossexualidade,
não é realmente importante saber porque seu filho é gay para lhe dar apoio
e amor.
Por que não me sinto à vontade com sua homossexualidade?
A ambivalência que você pode sentir é um produto da sua
cultura. A homofobia na nossa sociedade é penetrante demais para ser banida
da nossa consciência com facilidade. Enquanto houver homofobia na nossa
sociedade, qualquer homossexual e qualquer pai ou mãe de um gay ou de
uma lésbica terá alguns medos e preocupações bastante legítimos e reais.
Muitos pais podem se confrontar com outra fonte de culpa.
Pais que vêem a si mesmos como "liberais", que acreditam que
estão livres de preconceito sexual - mesmo aqueles que têm amigos gays
- ficam algumas vezes surpresos de reconhecer que não se sentem à vontade
quando é o filho deles que é gay. Estes pais têm não apenas que lutar
contra seus arraigados medos da homossexualidade, mas ainda são acrescidos
do peso de achar que não deveriam estar sentido da forma como estão.
"Quando eu descobri que meu filho era gay,
minha reação foi: ‘O que nós podemos fazer para mudar isso?’"
Uma ajuda é você se concentrar em preocupações reais: o
que seu filho precisa mais que você faça neste momento. Tente não concentrar
sua atenção na culpa. A culpa não se apoia em base nenhuma, nem constrói
nada para você ou para seu filho.
Será que deveríamos consultar um psiquiatra ou
um psicólogo?
Não faz sentido consultar um terapeuta na esperança de
mudar a orientação sexual de seu filho. A homossexualidade não é uma doença
para ser "curada". Em 1973, a Associação Americana de Psiquiatria
retirou a homossexualidade da lista de anormalidades e o GGB,e outros
grupos do Brasil, através de uma campanha nacional conseguiram abolir
o código do INAMPS, que classificava o "homossexualismo" como
doença . A homossexualidade é uma forma natural de ser.
Como a homossexualidade não é "escolhida", você
não pode fazer seu filho "mudar de idéia". A Associação Americana
de Psicologia e a Associação Médica Americana definiram como anti-ético
até mesmo tentar mudar a orientação sexual de um homossexual.
Mas existem situações em que pode ser útil consultar um
terapeuta. Talvez você queira conversar com alguém sobre seus próprios
sentimentos e sobre como trabalhá-los. Talvez você ache que você e seu
filho precisem de ajuda para comunicarem-se mais claramente durante este
período. Ou talvez você reconheça que seu filho está infeliz e precisa
de ajuda para chegar a uma auto-aceitação e desenvolver sua auto-estima.
Mais uma vez, os gays passam por dificuldades para aceitarem a eles mesmos
e à sua identidade sexual. Nestas circunstâncias, a auto-rejeição pode
ser um estado emocional perigoso. O terapeuta, deve proporcioná-lo a sua
aceitação e colocá-lo em sintonia com sua homossexualidade.
Em todos estes casos, você tem um leque de opções e recursos.
Um terapeuta pode lhe oferecer confidencialidade e, até certo ponto, o
anonimato que você pode achar que precisa num primeiro momento. Os membros
do Grupo Gay da Bahia poderão sugerir um terapeuta que já ajudou suas
próprias famílias.
Há muitas outras opções de ajuda, informação e aconselhamento,
além de, ou em vez de, terapia. Nós encorajamos você a explorar suas opções
e a usar os recursos que se adaptam melhor a você e à sua família.
Será que ele/ela vai sofrer discriminação, vai enfrentar
problemas para encontrar ou manter um emprego, ou até mesmo sofrer agressões
físicas?
Todas estas coisas são possíveis, dependendo de onde seu
filho mora, que tipo de trabalho faz e como se comporta. Porém, as posturas
em relação à homossexualidade já começaram a mudar e agora estão mudando
relativamente rápido. Existem muitos lugares onde seu filho pode morar
e trabalhar, mantendo-se relativamente livre de discriminação.
Infelizmente, mudanças sociais sempre são lentas - observe
simplesmente quanto tempo este país levou para permitir o voto feminino.
Os progressos geralmente são seguidos de recuos. Até que um número ainda
maior de pessoas e organizações se tornem defensores dos direitos dos
homossexuais, até que a homofobia tenha sido erradicada da nossa sociedade,
seu filho enfrentará alguns desafios significativos.
Como posso conciliar este fato com minha religião?
Para alguns pais, talvez esta seja a questão mais difícil
de se enfrentar. Para outros este problema não existe.
É verdade que a maioria das religiões continua a condenar
a homossexualidade. Contudo, mesmo dentro destas religiões, em geral existem
líderes respeitados que acreditam que a posição de condenação da sua igreja
é irracional, porque são frutos de má interpretação dos fatos bíblicos.
Muitas religiões importantes assumem atualmente uma posição
oficial de apoio aos direitos dos homossexuais. Algumas já foram mais
além. A Igreja Metodista, por exemplo, criou uma rede de congregações
que aceitam homossexuais. A Igreja Unida de Cristo assumiu desde 1991
uma política interna de que a orientação sexual não deve ser uma barreira
à ordenação. O órgão legislativo da Igreja Episcopal declarou que os homossexuais
têm direitos iguais aos das outras pessoas dentro desta igreja. No esboço
das novas diretrizes pastorais, feito em 1994, os bispos Episcopais dos
Estados Unidos escreveram "Assim como para os heterossexuais, a experiência
de um amor inabalável pode ser também para os homossexuais, uma experiência
de Deus."
Você ainda ouvirá pessoas que citam a Bíblia defendendo
o preconceito contra gays. Mas existem outros estudiosos da Bíblia que
contestam qualquer interpretação anti-gay dos textos bíblicos.
"Aqueles que legalizariam a discriminação com base
na orientação sexual de uma pessoa ou com base em qualquer outro aspecto
estão profundamente enganados a respeito dos valores que fazem de nosso
país uma nação forte. O direito básico à igualdade não pode ser negado
através de uma votação secreta ou de qualquer outro procedimento."
A lista de recursos disponibilizadas em nossa página traz
referências que podem lhe ajudar a aprender mais sobre as novas posturas
religiosas a respeito da homossexualidade. O GGB pode indicar informações
e materiais específicos à sua religião.
E em relação ao HIV/AIDS?
Embora no início a AIDS tenha se disseminado mais rapidamente
entre homens gays e bissexuais e entre usuários de drogas que compartilhavam
seringas, atualmente todas as pessoas e grupos enfrentam a ameaça do vírus
da AIDS.
Portanto, todo pai e mãe precisa pensar na AIDS - seja
seu filho gay ou heterossexual. É preciso que você certifique-se que seu
filho entende de que forma a AIDS é transmitida e que saiba como proteger-se.
Com os adolescentes iniciando a vida sexual cada vez mais
cedo, e com a AIDS ainda se disseminando, nenhum pai ou mãe pode se permitir
ignorar este perigo, nem imaginar que seu filho está protegido.
Se seu filho é soropositivo ou tem AIDS, ele precisa mais
do que nunca de seu apoio. Você e ele precisam saber que não estão sozinhos.
Existem numerosas organizações locais e nacionais que podem lhe ajudar
com assistência médica, psicológica e física. O Grupo Gay da Bahia também
pode lhe ajudar nesse aspecto. Ligue para nós ou nos escreva para saber
quem você pode procurar na sua vizinhança. A esta altura, o relacionamento
entre você e seu filho pode se tornar ainda mais íntimo, mas você e sua
família terão que aprender a se ajustar às circunstâncias físicas e emocionais
relacionadas ao novo estado de saúde de seu filho.
Existe alguma aspecto jurídico especial em relação
ao meu filho?
No Brasil não existe nenhuma lei que criminalize ou condene
a homossexualidade. Pelo contrário, existem em 73 leis orgânicas municipais
e três Estados, a princípio; Santa Catarina, Sergipe e Mato Grosso, o
dispositivo que proíbe discriminar por orientação sexual. É legal ser
gay, lésbica, bissexual ou travesti. Se seu filho sofreu alguma discriminação
tendo como base a sua orientação sexual, com base na lei, constitua um
advogado, ou se você não tiver recursos procure a Defensória Pública de
sua cidade ou a Ordem dos Advogados do Brasil. Exerça o direito de cidadania
e de ir e vir de seu filho homossexual. A lei e a ciência estão do nosso
lado.
Você pode ter maiores informações sobre as leis locais
e estaduais a respeito da homossexualidade entrando em contato com o Grupo
Gay da Bahia ou com o grupo gay de sua cidade.
Nós aceitamos a situação, mas por que ele tem que
se assumir homossexual?
Homens gays, mulheres lésbicas e bissexuais que revelam
sua orientação sexual são às vezes acusados de "ostentar" sua
sexualidade. Embora, a menos que eles se assumam, nossa sociedade falsamente
imagine que eles são heterossexuais ou que sua sexualidade é vergonhosa
e precisa ser escondida. Geralmente o comportamento de gays que são rotulados
de "ostensivos" é considerado despercebido quando adotado por
heterossexuais.
Talvez você se sinta pouco à vontade com as demonstrações
públicas de afeto entre seu filho e o parceiro dele. Muitos gays, lésbicas
e bissexuais irão, certamente, censurar o próprio comportamento, com medo
de uma reação pública negativa. Mas pare um pouco e pense: será que você
é tão crítico com heterossexuais demonstrando publicamente sua afeição?
Lembre-se que "assumir-se" pode ser apenas comportar-se
de forma natural e relaxada em público. Em outras circunstâncias, é possível
que afirmar sua sexualidade seja uma decisão política. Em culturas onde
a homossexualidade é ignorada ou ridicularizada, uma pessoa que deixa
publicamente clara sua sexualidade pode estar fazendo um ato público de
amor próprio.
Será que meu filho terá uma família?
Casais de gays e lésbicas com parceiros permanentes vêem
seus relacionamentos com o mesmo compromisso e com o mesmo sentido de
família que heterossexuais casados. Muitos homens gays e mulheres lésbicas
realizam cerimônias de compromisso para celebrar formalmente seu relacionamento
na companhia de amigos e parentes .
Vários governos da Europa e dos Estados Unidos passaram
a reconhecer cônjuges do mesmo sexo. Um número cada vez maior de empresas,
como a Associação dos Professores Universitários da Federal da Bahia,
oferece benefícios sociais e cobertura de saúde também aos "cônjuges
domésticos".
"Nós tínhamos medo de que nosso filho fosse julgado; nós tínhamos medo de sermos julgados."
Da mesma forma, cada vez mais casais de gays e lésbicas
estão se tornando pais e mães. Algumas lésbicas utilizaram de inseminação
artificial para conceber um filho que possam criar com sua companheira.
Alguns homens gays e mulheres lésbicas, que se assumiram depois de terem
tido relacionamentos heterossexuais, estão criando os filhos destes relacionamentos
com seus companheiros atuais. Além disso, existem cada vez mais casais
gays que adotam crianças.
Como vamos contar para a família e os amigos?
Assim como o processo de assumir-se é difícil para os gays,
este processo é igualmente difícil para os pais, que geralmente irão preferir
esconder esta situação. Os pais que ainda estão lutando para aceitar a
orientação sexual de seus filhos geralmente se preocupam com a possibilidade
de outras pessoas descobrirem. Você provavelmente terá agora que driblar
as perguntas, "Ele tem uma namorada?" "E aí, quando é que
ela vai casar?"
Muitos gays e lésbicas descobriram que seus medos eram
muito piores que a realidade. Alguns deles evitaram anos a fio contar
para seus próprios pais, somente para não ouvir eles dizerem: ‘Nós
já sabíamos disso há muito tempo".
Nosso conselho para você é o mesmo que damos para os gays
e lésbicas. Leia mais a respeito das origens da orientação sexual e sobre
o novo pensamento dentro dos círculos médico, psiquiátrico, religioso,
profissional e político. Existe uma grande quantidade de "autoridades"
que você pode citar como aliados na luta pelos direitos iguais para os
gays.
Leia outra vez neste texto a lista de homens gays, bissexuais
e mulheres lésbicas famosos que deram contribuições importantes ao nosso
mundo. Lembre-se que, como muitos gays escondiam sua orientação sexual,
esta é somente uma pequena fração dos nomes que você pode citar. E isso
também significa que você provavelmente já conhece muitos gays.
Pratique o que você vai dizer da mesma forma como você
ensaiaria um discurso ou as respostas a serem dadas em uma entrevista
de trabalho. Pratique como você faria para ter uma atitude firme ou para
enfrentar qualquer coisa que lhe deixa com medo, nervoso ou como você
praticaria para fazer algo com o qual não tem experiência. Um pai contou
que ele "costumava ir para o banheiro, fechava a porta e ficava ensaiando
na frente do espelho, ‘Eu tenho uma filha lésbica’ e repetindo
esta frase com orgulho. E isso o ajudou. Mas você tem mesmo que praticar."
"Quando eu me revelei e disse ‘Eu tenho uma filha
lésbica’, isso fez com que outros pais e mães achassem mais fácil
lidar com esta questão e se revelar. Eu vi isso acontecer muitas e muitas
vezes."
Converse com pessoas que entendem suas preocupações. Os
membros dos grupos de defesa dos direitos humanos dos homossexuais podem
lhe ajudar, discutindo as experiências que eles viveram.
Existe uma grande probabilidade de que você ouça alguns
comentários negativos ou, no mínimo indelicados, de parentes, amigos ou
colegas. Mas você provavelmente vai descobrir que estes comentários são
menos numerosos que você temia.
Lembre-se que seu filho já percorreu este caminho antes.
Talvez ele mesmo possa lhe ajudar neste sentido.
Lembre-se também que as pessoas com quem você conversará
a respeito da sexualidade de seu filho devem ser escolhidas juntamente
com ele.
O que os vizinhos vão dizer?
Esta pode ser uma preocupação muito real, especialmente
para famílias que se consideram parte de uma comunidade muito unida ou
em regiões onde as religiões fundamentalistas são muito fortes.
Contudo, lésbicas, gays e bissexuais vêm de famílias de
todas os cantos do planeta, de todas as culturas, religiões, grupo étnicos
e profissões. Como disse uma mãe, "Eu juro por Deus que pensei que
era a única mãe na Bahia, que tinha uma filha lésbica. Aí eu comecei a
falar sobre isso e outros pais foram se revelando. E até agora, toda vez
que alguém diz: Jandira, preciso conversar com você; eu sei exatamente
o que está acontecendo."
Repetindo, é bem possível que você encontre reações difíceis
de aceitar, e que seu filho enfrente situações de preconceito.
De que forma posso apoiar meu filho?
Como pai ou mãe, você pode cuidar de você e de seu filho.
Os grupos de defesa dos direitos humanos dos homossexuais estão prontos
para ajudar você superar suas necessidades pessoais para que você possa
ser um pai ou uma mãe ainda melhor.
Ler este texto é o primeiro passo para apoiar seu filho
- você demonstrou estar aberto a informações novas e esperamos que agora
você esteja mais bem informado. Apoiar seu filho deve ser agora uma extensão
natural do seu apoio geral enquanto pai ou mãe: nós precisamos conversar,
escutar e aprender juntos.
Cada filho precisa de coisas diferentes dos seus pais.
Cabe a você aprender a se comunicar com ele sobre as necessidades deles
e as questões relacionadas à sua sexualidade.
Alguns pais e mães acham que eles se tornam mais capazes
de compreender e apoiar seu filho através do reconhecimento das semelhanças
e diferenças com suas próprias experiências. Em alguns casos, talvez seja
útil conversar sobre como você lidou com incidentes dolorosos. Em outros
casos, porém, você tem que reconhecer que a forma como ele sofre discriminação
sexual é única. Neste aspecto, você pode apoiar seu filho aprendendo o
máximo que for possível sobre homossexualidade e ajudando a trazer esta
discurssão mais à tona em nossa sociedade. É o mascaramento da homossexualidade
e o complô do silêncio que permite que o preconceito e a discriminação
sobrevivam.
Aprenderei a lidar com a orientação sexual de meu
filho?
Um psiquiatra respondeu a esta pergunta dessa forma: "Depois
que a maioria das pessoas se ajustar à realidade da orientação sexual
de seu filho, eles descobrirão que existe um mundo completamente novo
à sua frente. Primeiramente eles passam a conhecer um lado de seu filho
que nunca tinham conhecido. Agora eles fazem parte da vida deste filho.
Em geral, eles se tornam mais unidos. E os pais começam a conhecer a comunidade
gay e a entender que estas pessoas são iguais a todas as outras."
Uma outra forma de responder a esta pergunta é deixar alguns
pais e mães falarem sobre suas experiências:
Recursos
Se você precisar de ajuda imediata, a primeira coisa a
fazer é entrar em contato com um grupo de defesa dos direitos humanos
dos homossexuais de sua cidade. Caso não exista nenhum grupo em sua cidade,
telefone ou escreva para os grupos listados nesta página. Saiba que nós
estamos aqui para lhe ajudar a superar as dificuldades relacionadas a
orientação sexual de seu filho.
Se você está procurando por apoio regular, os grupos de
gays e lésbicas locais podem providenciar para que você encontre outros
pais, para que um jovem gay ou lésbica encontrem outros jovens homossexuais
ou para que você e seu filho encontrem outras famílias que podem ajudar
compartilhando suas experiências. Lembre-se que conversar sempre ajuda.
O Grupo Gay da Bahia também está aqui para oferecer as
informações que você precisa para lhe ajudar a compreender e a apoiar
seu filho gay, lésbica ou bissexual. Nós oferecemos recursos e publicações
em vários temas, incluindo HIV/AIDS, direitos humanos, religião e juventude.
Boa sorte e saiba que vocês não estão sozinhos!