Franco Reinaudo, ex-coordenador da
Diversidade Sexual da Cidade de São Paulo – CADS, assumiu a direção do
novo Centro de Cultura, Memória e Estudos da Diversidade Sexual – Museu
da Diversidade, localizado na Estação República do Metrô/SP.
O equipamento cultural foi criado em
maio de 2012 pelo Governador Geraldo Alckmin e uma parceria entre a
Secretaria de Estado da Cultura e a Companhia do Metropolitano de São
Paulo garantiu a instalação de um espaço expositivo na Estação
República, local historicamente relevante para a população de lésbicas,
gays, bissexuais, travestis e transexuais – existem registros da década
de 1940 que já apontavam a República como espaço de moradia e
convivência de “homens solteiros”.
Franco é formado em gestão de empresa e
possui no currículo uma grande experiência na gestão pública e privada,
principalmente nos temas relacionados à diversidade sexual e sua
inclusão no mercado de trabalho. Foi Presidente da Associação Brasileira
de Turismo GLS – ABRAT/GLS. Na área cultural trabalhou como ator,
diretor e autor teatral. Como articulista escreveu para vários veículos
do segmento LGBT e é autor de dois livros sobre turismo e mercado LGBT.
O Site Gay Brasil foi ouvir o novo diretor do Museu da Diversidade. Acompanhe, abaixo, a entrevista exclusiva.
GB – Como foi o convite para assumir a direção do Museu da Diversidade?
FR – Logo que pedi para sair da
Coordenadoria de Assuntos da Diversidade Sexual da Prefeitura de São
Paulo recebi o convite para fazer a curadoria da exposição “O T da
Questão” (ainda em cartaz no museu) com fotos do talentoso e amigo
Eduardo Moraes. Minha intenção era realizar o trabalho e logo depois
retornar para a iniciativa privada onde havia recebido um convite.
Porém, trabalhando mais próximo da equipe do Museu eu me encantei com a
idéia de colocar em destaque esse espaço único que tem como objetivo a
preservação da história de nossa comunidade. Aliás essa política pública
e cultural nasceu quando eu ainda estava na Prefeitura e com minha
ampla participação. Então resolvi aceitar o convite e os desafios
vindouros.
GB – Quais os desafios que se apresentam para sua administração do espaço?
FR – Os desafios são imensos. Basta
pensar que somos o terceiro espaço do gênero no mundo, hoje só existem o
Museu de Berlim e o de São Francisco. Portanto não existem muitas
referências, precisaremos criá-las. Precisamos construir nossa imagem,
ganhar o respeito tanto do universo dos artistas e profissionais da
cultura como também da sociedade LGBT. Acho fundamental para o sucesso
do Museu que a comunidade o adote, o defenda, o repreenda, que participe
intensamente de sua vida cotidiana.
GB – Existe uma programação pensada para o Museu?
FR – Existe sim. O Museu entra em obras
agora em abril para instalação de sistema climatização, iluminação e
pequenos reparos em suas instalações. Reabriremos, em parceria com
Instituto Moreira Salles, com uma das exposições mais sensíveis e
delicadas que conheço sobre os personagens e artistas da chamada cultura
alternativa paulistana: “Crisálidas” de Madalena Schwartz. A
cenografia, um outro privilégio para o Museu, ficará a cargo de Felippe
Crescenti. Logo em seguida vem uma surpresa que não posso contar
(risos).

Foto do livro “Crisálidas”, de Madalena Schwartz, futura exposição do Museu em parceria com o IMS (Instituto Moreira Salles)
GB – Você tem a intenção de levar o Museu para o interior do Estado ou irá centrar as ações na capital?
FR – Claro que temos a intenção de levar
o Museu para o interior, aliás essa é uma das nossas principais
bandeiras e já estamos trabalhando para isso. A exposição “O T da
Questão” já começa a itinerar pelo interior a partir de maio, quando
termina sua temporada em São Paulo. Começaremos por Rio Claro, em
parceria com a prefeitura local, para comemorar o Dia Municipal de
Combate a Homofobia. Crisálidas deve seguir o mesmo caminho. Nossa
intenção é levar as exposições com a mesma qualidade para o interior.
GB – Como é trabalhar com a cultura LGBT? Há um caminho, um conceito, uma forma ideal?
FR – Um grande desafio. Não estamos
falando de estilo, forma ou concepção, e sim de um marco identitário do
artista ou da obra. Há muita discussão ainda, inclusive, se existe ou
não uma cultura LGBT. Disso eu já não tenho dúvida. O que eu acredito
que seja o grande desafio é identificar se existe e de que maneira e em
que intensidade esse marco identitário da sexualidade influencia uma
determinada obra ou um(a) determinado(a) artista.
Outro grande obstáculo é o preconceito
em relação à cultura e diversidade, que vai desde a sociedade, passando
pela família do artista e às vezes ele mesmo não se reconhecendo
enquanto LGBT.
GB – Mas você considera a cultura importante para diminuir preconceitos? De que forma?
FR – Cultura é fundamental para combater
os preconceitos. A cultura consegue tocar as pessoas de uma forma
inexorável. Nossa missão será mostrar para a sociedade artistas LGBTs ou
obras temáticas que são ou foram importantes para construir nossa
própria cultura. Essa será nossa contribuição: o esclarecimento e a
visibilidade.