
Acabo de falar de medo no último post e ainda o cultivo. Sim, eu ainda tenho medo de me assumir para qualquer pessoa. Às vezes me sinto uma hipócrita.
Hoje foi um desses dias em que o medo de confessar que namoro uma mulher me invadiu. Como vocês já sabem, moro com minha namorada. Marcamos para hoje à tarde de receber uma pessoa para instalar um equipamento aqui em casa. Como estávamos no trabalho e a empresa não tinha horário para depois das 18h, o zelador nos fez o grande favor de receber o funcionário.
Por sorte, eu cheguei quando o rapaz ainda estava fazendo a instalação do equipamento e pude tirar as minhas dúvidas. O pedido estava no nome da minha namorada. Foi então que ele perguntou: “O que você é dela? Irmã, cunhada, tia?” Meu cérebro logo pediu um tempo para pensar e perguntei: “Como?”. E esperei que ele repetisse a pergunta para eu pensar em uma resposta. Ele fez a pergunta novamente e respondi de pronto: “É minha amiga”.
Foi a pior resposta que eu poderia ter dado. Fiquei irritada comigo mesma nesse momento. O pior é que eu sei que nunca mais verei aquele homem na vida e que ele não teria como contar para ninguém sobre mim (e se contar, as pessoas nunca vão saber quem eu sou). Então por que eu não disse logo, da forma mais natural possível, que ela era a a minha namorada? Fiquei com medo da reação dele. Achei que ele pudesse fazer uma cara estranha, ficar sem graça, me deixar constrangida ou sei lá o quê. Obviamente ele não me xingaria (ou seria demitido depois que eu fizesse uma reclamação) e nem teria qualquer reação exagerada. Mas mesmo assim eu fui covarde.
Essa não foi a única situação. Quase toda semana passo por algo assim. No posto aqui do lado de casa, quase todos os frentistas sabem que namoro uma mulher (conto sobre isso nesse post). Ora ou outra passamos por lá juntas e até já nos beijamos na frente de um deles, sem qualquer constrangimento. Mas nem todos eles sabem. Outro dia, quando pedi algumas informações sobre o carro, um frentista que não sabe do meu namoro me disse: “Pergunte ao seu marido, sei que ele vai concordar comigo”. Fiquei sem reação na hora. Deveria ter dito, “não, moço, eu namoro uma mulher. Mas certamente ela saberá sobre isso, vou perguntar sim”. Mas eu também não tomei essa atitude.
No trabalho, a mesma coisa acontece. Vira e mexe o pessoal me pergunta se estou com alguém e eu sempre desconverso. Acho que eles já até desconfiam. Outro dia, quase falei… mas o medo falou mais alto e novamente me calei sobre o assunto.
Na minha roda de amigos, só os mais chegados sabem (desde o começo). Mas também ainda não tive coragem de falar pra todos. Eu sei que se eu falar pra um, todos vão saber, a notícia vai se espalhar e eu vou ter de lidar com isso de vez. Sim, eu estou adiando esse momento: ter de lidar de verdade com alguns preconceituosos. E por que eu ainda tenho medo disso? Não faço a mínima ideia, porque vou ser feliz com eles ou não.
E eu sei que algumas pessoas vão dizer (como eu mesma já disse): nem todo mundo precisa saber da nossa vida. A gente não sai por aí dizendo que é heterossexual. Mas se eu tivesse um namorado, eu já teria falado para todas essas pessoas que eu não falei. E se eu tenho CERTEZA de que a homossexualidade e a bissexualidade são normais, por que escondo isso? Aí está o meu grande erro. E vou tentar consertá-lo o quanto antes.
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Logo quero fazer outro post dizendo que estou falando abertamente e naturalmente sobre o meu namoro. E vocês? Contem um pouco sobre os seus medos. Sei que algumas leitoras nunca falaram com ninguém sobre o assunto e só conseguiram conversar sobre isso aqui no blog. E sei também que se muitas confessarem para a família, podem ser expulsar de casa, infelizmente…