
Em segundo lugar, as principais organizações mundiais de saúde,
incluindo muitas de Psicologia, não mais consideram a homossexualidade
uma doença ou distúrbio ou perversão. Desde 1973, a homossexualidade
deixou de ser classificada como tal pela Associação Americana de
Psiquiatria. Em 1975 a Associação Americana de Psicologia adotou o mesmo
procedimento, deixando de considerar a homossexualidade uma doença. No
Brasil, em 1985, o Conselho Federal de Psicologia deixou de considerar a
homossexualidade um desvio sexual e, em 1999, estabeleceu regras para a
atuação dos psicólogos em relação às questões de orientação sexual,
declarando que "a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e
nem perversão" e que os psicólogos não colaborarão com eventos e
serviços que proponham tratamento e/ou cura da homossexualidade. No dia
17 de maior de 1990, a Assembléia-geral da Organização Mundial da Saúde
(sigla OMS) retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais, a
Classificação Internacional de Doenças (sigla CID). Por fim, em 1991, a
Anistia Internacional passou a considerar a discriminação contra
homossexuais uma violação aos direitos humanos.1
De posse dessas informações, é imprescindível suprimir o preconceito
interno e tentar desmitificar algumas opiniões formadas antes mesmo de
ter os conhecimentos adequados. Ser gay ou ser lésbica não é questão de
opção sexual. Ninguém escolhe “ser ou não ser” homossexual ou
heterossexual. Em ambos os caso, o desejo é espontâneo e involuntário.
Existem vários fatores que estabelecem esta orientação, os quais nada
dependem da vontade das pessoas, por esse motivo não podem ser definidos
como uma opção. Acredita-se que fatores genéticos, culturais e sociais
influenciem. Entretanto, nem mesmo a ciência ou psicólogos chegaram a
qualquer conclusão.
Sabemos
que para a grande maioria dos pais (e ainda mais para os filhos) é um
verdadeiro dilema o processo de definição da homossexualidade. Os pais
sentem-se frustrados, culpados e questionam-se: “onde erramos?” Os
filhos, por sua vez, também se culpam de certa forma por não
“corresponderem às expectativas” e relutam, sofrem, sentem-se confusos.
Dependendo do ambiente em que vivem, sentem-se sufocados pelo
preconceito, pelo temor da rejeição e pela angústia de ter que esconder
esse segredo de todos e principalmente da família... Mas enfim, não
existem culpados, nem inocentes nessa história. Ninguém é homossexual
para torturar os pais ou rebelar-se contra a sociedade.
Segundo Steve Bidduplh (livro Criando Meninos da Editora Fundamento –
pág 124)2: “Mesmo antes do nascimento no nosso filho, já fizemos um mapa
para a vida dele. E os sonhos são sempre conservadores: carreira,
casamento e netos para sentar no colo! Descobrir que o filho adolescente
é homossexual destrói várias dessas esperanças tão queridas,
substituindo-as por imagens que lhes parecem obscuras e lhes assustam. É
natural sofrer e se preocupar.”
Em
meio a todos esse “tsunami” de decisões, receios, aceitações e
aprendizados, se eu posso dar uma sugestão, seria : a regra geral é
educar seus filhos para uma sexualidade sadia. Isso envolve
esclarecimentos e, sobretudo saber ouvi-los. A pergunta mais importante
não deveria mais ser: “onde erramos?” e sim: "Como devo agir para que
meu filho (a) seja verdadeiramente feliz?” (tanto pessoal como
profissionalmente falando). Chegou o momento de aprender mais.Tentar se
opor ou “remar contra a maré”, nesse caso, não é a estratégia mais
aconselhável.
Como diz o médico, Dr. Dráuzio Varella: “não
vale a pena insistir em um debate tão antiquado, seria o mesmo que
discutir se a música que ouvimos ao longe vem de um piano ou de um
pianista. Por que é tão difícil aceitar a riqueza da biodiversidade
sexual de nossa espécie? Por que insistir no preconceito contra um fato
biológico inerente à condição humana ?”3
Entendo
que para os pais o processo é lento e doloroso, pois trata-se não
apenas de vencer o preconceito em si, mas por saber das dificuldades que
o filho (a) irá enfrentar nessa sociedade essencialmente heterossexual.
Contudo, deve-se respeitar os direitos individuais de cada pessoa,
deixando de lado os medos e dogmas. O amor não deve mudar por conta de
uma orientação sexual. O vínculo amoroso deve ser capaz de vencer o
preconceito.
E
finalmente, se acharem que necessitam de auxílio, não para reverter a
situação, mas para aprender a lidar com esta, uma psicoterapia seria de
grande ajuda.