Este Blog foi escrito para o Público LGBT de todas as idades que estão a pensar em assumir-se. Nós sabemos que tomar a decisão de se assumir pode ser assustadora e desgastante. É por estas razões e devido ao nosso trabalho na área de homossexuais que fizemos este Blog. Acreditamos que informação útil e as experiências de outras pessoas em assumirem-se podem preparar-te para algumas das consequências que podem resultar de te assumires perante a família e amigos. Blog que reúne as principais notícias sobre o público Gls Glbt Lgbt (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais). Tem por objetivo manter tal comunidade informada, para que usufruam de seus direitos, comemorem suas conquistas e lutem pela diminuição do preconceito. Deixe seu recado, mande suas fotos e videos poste no nosso blog Faça parte você também Participem deste blog, Mail sociedadelgbt@hotmail.com

segunda-feira, 10 de março de 2014

Número de casamentos entre homossexuais aumenta 78% em SP

São Paulo – Três meses após a regulamentação do matrimônio homoafetivo, aprovada pela Corregedoria-Geral de Justiça do Estado de São Paulo, o número de casamentos entre pessoas do mesmo sexo aumentou 78% na cidade de São Paulo.
O levantamento da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo informa que foram realizados 171 casamentos desde que passou a vigorar a norma, que autoriza os cartórios a celebrarem os matrimônios, sem a necessidade de autorização judicial.
No mês de março, quando ocorreu a regulamentação, foram realizados 41 matrimônios homoafetivos. Em abril, o número chegou a 57. Em maio foram 73 casamentos. Nos meses de janeiro e fevereiro, antes da norma, a média de uniões formais era 11 na cidade de São Paulo.
Antes da regulamentação, o casamento entre homossexuais deveria ter autorização de um juiz de primeira instância. Caso o pedido fosse negado, o casal poderia recorrer à Segunda Instância do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e ter seu pedido atendido.
Na capital paulista, o cartório que mais realizou casamentos homoafetivos nos últimos três meses foi o 21° Subdistrito, localizado no bairro da Saúde, com 10 celebrações, seguido pelas unidades de Cerqueira César (9), Santa Cecília (8), Bela Vista (7), Tucuruvi (também 7), e Itaquera (6).


“Cura gay” só serve de munição para o preconceito, avaliam petistas

Existe cura para a homossexualidade? Não. Segundo entendimento do Conselho Federal de Psicologia, que data de 1999. Mas a bancada evangélica da Câmara dos Deputados, convencida de estar mais credenciada para dar a palavra final sobre o assunto, aprovou um projeto que estabelece o tratamento psicológico da homossexualidade. Medida que é vista com perplexidade pelos senadores petistas Paulo Paim (RS) e Ana Rita (ES). Para eles, a proposta só contribui para aumentar o preconceito, que já existe, contra um grupo da sociedade.
Paim disse que ainda procura a “razão de existir” da proposição. O senador destacou que a matéria fere o “direito de escolha das pessoas”. “Não entendi o porquê de um projeto específico para tratar a comunidade gay. Não vejo motivo nenhum. Acho que o psicólogo atende a todos que lhe procuram, na análise e ajuda que cada um precisa”, afirmou.
Na opinião de Ana Rita, admitir a possibilidade de haver “cura gay” é reconhecer que a homossexualidade é uma doença. “Estão tratando a homossexualidade como um problema de saúde; e não é. A Comissão de Direitos Humanos da Câmara aprovou um projeto que é contra o que propõe os direitos humanos: o tratamento igualitário de todas as pessoas. As pessoas precisam ser respeitadas em sua essência, elas precisam ser valorizadas e reconhecidas como sujeitas de direito”, criticou.
A senadora ainda advertiu que já existe muita animosidade dentro da sociedade contra o grupo gay. Ana Rita avalia que esse tipo de discussão não contribui para a evolução do debate e nem para que as pessoas se assumam como são. “Vivemos em uma sociedade que é muito



preconceituosa. Então, muitas vezes, o homossexual precisa de acompanhamento psicológico justamente para superar essa dificuldade que ele tem de ser tratado com preconceito”, elucidou.
O projetoDe autoria do deputado João Campos (PSDB-GO), o projeto (PDC 234/11) popularizado como “cura gay”, anula artigos da Resolução 1/99 do Conselho Federal de Psicologia para permitir que psicólogos possam propor o tratamento da homossexualidade a pacientes. Para justificar a matéria, Campos diz que o conselho “extrapolou seu poder regulamentar” ao “restringir o trabalho dos profissionais e o direito da pessoa de receber orientação profissional”.
Na versão atual, a resolução determina que “os psicólogos não se pronunciarão, nem participarão de pronunciamentos públicos, nos meios de comunicação de massa, de modo a reforçar os preconceitos sociais existentes em relação aos homossexuais como portadores de qualquer desordem psíquica”. Postura que encontra respaldo na Organização Mundial da Saúde (ONU), que retirou, em 1990, a homossexualidade da sua lista de doenças mentais - a Classificação internacional de doenças (sigla CID). Desde 1991, a Anistia Internacional considera a discriminação contra homossexuais uma violação aos direitos humanos.
Mesmo assim, a sanha da bancada evangélica não titubeou em aprovar o texto na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, sob o comando do pastor Marco Feliciano (PSC-SP).
TramitaçãoAntes de virar lei, o projeto ainda terá de ser analisado pelas comissões de Seguridade Social e Família e de Constituição e Justiça até chegar ao plenário da Câmara. Se aprovada pelos deputados federais, a proposta será submetida à análise do Senado.

Dificuldades e preconceitos

Homossexuais revelam como é a vida noturna tendo que enfrentar o preconceito da sociedade


Samantha e Natasha
São 10h da noite. Avenida Marcus Cherém, Uberaba, Minas Gerais. Esta avenida é bastante conhecida pelos motéis, pelas garotas de programa e pelos travestis.
Conseguir falar com travestis é complicado. Como eles mesmo dizem, "você vai pagar querida? Enquanto você está aqui, estou perdendo clientes".
Samantha e Natasha são dois travestis que trabalham na avenida. A maneira de agirem quando estão no ponto é diferente das garotas de programa, porque eles se insinuam para os clientes com roupinhas "indecentes" e algumas vezes até tiram a roupa.

"Elas", como gostam de ser chamadas, estavam com topizinhos, saias curtíssimas, salto alto e muita, muita maquiagem. São jovens, têm apenas 22 anos, mas 6 de profissão.

Interessante perceber que do ponto de Natasha e Samantha, vemos simultaneamente dois fatos que ilustram bem a situação dessa avenida. De um lado acontece uma negociação para se vender drogas. Trato feito! Um moço sai de moto com o pacotinho dentro da jaqueta. Do outro lado um motel. Movimentadíssimo por sinal. A cada instante, entra um carro. Neste caso até moto-táxi vale!

As duas amigas estão ali, no mesmo ponto, esperando clientes. Eles, ou melhor elas, disputam com as garotas de programa para ganhar um cliente. Neste caso, os travestis ganham delas, vamos dizer assim; a aceitação deles perante o público masculino é melhor. Mas a disputa por fregueses, permanece: "As garotas de programa são umas horrorosas, não deixam a gente trabalhar. O lugar delas é dentro de casa. Se já o homossexual sofre preconceito de estar em uma avenida, obrigação delas é criar vergonha na cara e caçar serviço. Os homens hoje não querem mulher querem um travesti, um transexual".

Tanto Natasha quanto Samantha não escondem que já nasceram homossexuais. "Não me descobri homossexual, nasci assim. Sou uma alma de mulher aprisionada em um corpo de homem. Este comportamento afeminado é um gosto. Deus deu o livre arbítrio e as pessoas têm que saber respeitar o livre arbítrio das outras".

Como já era de imaginar, eles dizem sofrer muito preconceito. Todos os dias passam por situações assim. "Muitas vezes a polícia veio até aqui e por nada nos espancou", diz Samantha mostrando muitas marcas de agressões pelo corpo. Mas não é só a polícia que comete essas barbaridades."Temos uma colega que não quis transar com um cara e então ele passou com o carro por cima dela. Hoje, ela está paralítica". Até mesmo da família eles sofrem precon-ceito. Alguns res-peitam, mas princi-palmente as mães não aceitam esta condição.

Durante o dia se vestem de homem, normalmente. À noite é que tudo se transforma. Samantha está na profissão porque precisa de dinheiro e sendo homossexual as opor-tunidades são menores ainda; por isso muitas vezes já largou de fazer programas para poder buscar um emprego. Natasha, ao contrário de Samantha, não quer sair dessa profissão "foi esta profissão que escolhi e é esta que quero seguir. Eu optei por essa profissão quando fiquei com um colega meu. Gostei e então decidi fazer programas".

Os programas aqui variam de preço. De acordo com o serviço prestado. No geral é R$25,00 a hora. A maioria dos clientes que os procuram são homens casados com mais de 30 anos, "as mariconas vêem aqui não pra gente transar com eles mas pra eles transarem com a gente, falando o português claro, eles são passivos e nós ativos". Não é o tipo de coisa que os travestis gostam de fazer, mas faz parte da profissão, eles tem que aceitar. Neste caso, os clientes chegam a pagar o dobro do valor estipulado. E eles são fiéis, acabam voltando para fazer um outro programa.

"Programas com mulheres nós não fazemos, temos nojo de mulher. Mas existem companheiros nossos que por mais dinheiro fazem programas com casais".
Muitos dos travestis na busca desesperada para parecerem cada vez mais com mulheres, usam silicone nos seios e emplasto sabiá no pênis para escondê-lo. Mas no caso de Natasha e Samantha isso não ocorre porque eles fazem muito mais o papel masculino, vamos dizer assim, do que o feminino. Eles usam uma substância que não quiseram revelar, para conseguirem a ereção.

Natasha já conseguiu juntar um bom dinheiro e agora em julho vai para a Suíça colocar silicone nos seios. Mudar de sexo ela não vai, pois do contrário não teria como trabalhar. E uma curiosidade, é que a Suíça é um celeiro de travestis. Lá, os homossexuais acabam optando por começar a fazer programas.

Como toda profissão, aqui também existe a parte difícil da coisa. "Agüentar as tranqueiras que aparecem aqui é terrível. Existem muitos clientes que vem sujos pra cá. Mas como eles mesmos dizem, eu estou pagando você tem obrigação de fazer o que eu quiser". Samantha falou de uma situação complicada que aconteceu com ela "uma vez, veio um senhor com o filho de 6 anos e queria que eu fizesse programa com os dois. Quando vi a criança, não aceitei fazer esse tipo de coisa".

Neste meio onde o único compromisso é o prazer, muitas vezes a camisinha é deixada de lado até mesmo por uma "sacanagem". "Temos colegas que são soropositivas. Elas não comentam com os clientes e eles pagam o dobro para transar sem camisinha e elas transmitem a aids para eles. Se o cliente voltar para reclamar, elas os matam".

Mesmo assim, eles dizem que os travestis não são agressivos. O que fazem eles terem esse comportamento é quando os clientes não pagam ou os espancam "aí sim, vão para o cemitério, é lógico".

Como ninguém imagina, alguns travestis são fáceis de lidar e até mesmo abertos a conversas, "se vocês estão fazendo isso para um trabalho, podem voltar quando quiser". O que na verdade eles temem é serem discriminados ainda mais do que já são. Como eles mesmos dizem, "não escolhemos ser assim, não temos problemas psicológicos, só queremos ser diferente do que somos".

Vencer este "tabu" que se instala na sociedade há tanto tempo não é fácil. Muitos até acham que os travestis são uma agressão aos nossos olhos. No entanto, eles só estão buscando a sua própria identidade para serem felizes.

Assim é a vida noturna de algumas partes da cidade de Uberaba. Muito movimento. Mesmo tendo tantos bares e boates, os velhos costumes ainda não foram colocados de lado. Os pequenos prostíbulos ainda existem, mas grandes inovações foram feitas nesse setor. Grandes chácaras bem arrumadas e organizadas, com belas mulheres e de fino trato, o surgimento, até então desconhecido, de garotos de programa, os "lover boy", como são chamados.
Ainda temos as casas de massagem, onde os clientes vão para fazer a massagem erótica. As mulheres ficam nuas e o cliente também mas não se faz programas, pelo menos é o que dizem. Tem ainda as linhas de tele-sexo ou tele-amizade onde as pessoas ligam para encontrar pessoas para conversar e, se rolar alguma coisa, marcam um encontro.

É da noite que muitas pessoas sobrevivem. É daí que muitos tiram seu sustento. Como vimos, muitas das pessoas que estão na prostituição, entraram nessa simplesmente pelo dinheiro, pela grana que vem muito mais rápido que nos outros ofícios.

Aqui fantasias podem ser realizadas. Sonhos mais esquisitos e não convencionais podem se tornar reais nas mãos desses profissionais. Mas só uma perguntinha: Tem grana? Se não tiver, desiste. Custa caro. Não tem desconto. Não se p
aga com cartão de crédito e o cheque não tem prazo. É a vista. Na noite, tudo pode acontecer.

Leandra Leal diz que sofreu preconceito para filmar travestis

Prestes a assinar seu primeiro longa, a atriz Leandra Leal disse que sofreu preconceito velado na captação de verbas de “Divinas Divas”, documentário sobre oito travestis veteranas do Rio de Janeiro.
“Tive justificativas bem escorregadias. Eu tive perto de vários ‘sim’ que se converteram em ‘não’. Sempre bem escorregadios. E eu fui identificando um preconceito bem velado, porque esse filme trata de dois tabus, que infelizmente ainda são tabus no Brasil, que é a questão de gênero e a questão da idade, e as marcas não querem se associar a isso”, contou Leandra ao portal “UOL”.
Como o “ParouTudo” já relatou mês passado, a diretora iniciou um sistema de “crowd funding” para conseguir o restante do dinheiro – R$ 100 mil – que faltam para finalizar o longa.
Os interessados podem doar de R$ 20 a R$ 5.000 e poderão assistir ao espetáculo de dez anos, de mesmo nome do filme, que será reencenado pelas travestis em dezembro, e até fazer figuração nas filmagens.
O projeto do filme nasceu há três anos e retratará a vida de Rogéria, Jane Di Castro, Waléria, Camille K, Fujika de Halliday, Eloína dos Leopardos, Marquesa e Brigitte de Búzios, travestis pioneiras que se apresentavam nos palcos cariocas nos anos 1960.
“Eu sou muito apaixonada por elas e achei que seria muito fácil de viabilizar esse projeto. Eu nem gosto de ficar me prendendo na questão do gênero, porque elas são muito talentosas e a história de vida delas é incrível. Elas não se vitimizam, apesar de todas as dificuldades que passaram na vida”, revelou Leandra à publicação.

Perguntas Frequentes

O que é Gênero?
Refere-se à identidade adotada ou atribuída a uma pessoa de acordo com seus genitais, psicologia ou seu papel na sociedade. Para a maioria das pessoas, homem ou mulher. Ainda que gênero seja usado como sinônimo de sexo, nas ciências sociais e na psicologia refere-se às diferenças sociais, conhecidas nas ciências biológicas como papel de gênero. Historicamente, o feminismo posicionou os papéis de gênero como construídos socialmente, independente de qualquer base biológica.
O que é o Binarismo de Gênero?
É a idéia da divisão de gênero em apenas dois: masculino e feminino / homem e mulher.
O que é Identidade de Gênero?
Identidade de Gênero diz respeito a qual gênero nos identificamos (masculino, feminino, outros). A identidade de gênero não necessariamente corresponde ao genital. De forma que há pessoas que são mulheres, mas possuem pênis; há pessoas que são homens, mas possuem vagina.
O que é Papel de Gênero?
O papel de gênero diz respeito à construção social. É com qual gênero o mundo nos identifica de acordo com a nossa aparência (roupas, acessórios, cabelos, físico, etc.).
Dentro da nossa sociedade, por exemplo, aos homens é vetado usar saias, vestidos, batons, esmaltes (…). De um modo geral, todos esses acessórios são vistos como femininos e quem os usa é considerado mulher. Da mesma forma, barba e bigode são características que essa sociedade considera masculinas e, logo, quem os usa é considerado homem.
O que é Orientação Sexual?
A orientação sexual diz respeito ao gênero pelo qual nos atraímos.
Se uma pessoa tem identidade de gênero feminina (mulher) e se atrai por alguém com identidade de gênero feminina, logo, ela é homossexual.
Se uma pessoa tem identidade de gênero feminina (mulher) e se atrai por alguém do gênero masculino, logo, ela é heterossexual.
Se uma pessoa tem identidade de gênero feminina (mulher) e se atrai por pessoas dos gêneros masculino e feminino, logo, ela é bissexual.
Se uma pessoa tem identidade de gênero masculina (homem) e se atrai por alguém com identidade de gênero masculina, logo, ela é homossexual.
Se uma pessoa tem identidade de gênero masculina (homem) e se atrai por alguém do gênero feminino, logo, ela é heterossexual.
Se uma pessoa tem identidade de gênero masculina (homem) e se atrai por pessoas dos gêneros masculino e feminino, logo, ela é bissexual.
O que é ser Transexual?
Transexual é uma pessoa que quando nasceu foi registrada de um gênero diferente daquele com o qual se identifica.
O que é ser Cissexual?
Cissexual é uma pessoa que possui identidade de gênero idêntica à registrada quando do nascimento.
O que é ser Travesti?
A diferença entre travesti e transexual se dá por sustentação artificial, muitas vezes sócio econômica, do ponto de vista psiquiátrico, a maioria prefere dizer que ser travesti é ter prazer em usar o próprio órgão sexual, ainda que a pessoa nascida e compulsoriamente designada como homem no registro, identifique-se como mulher – ou alguém pertecendo a um terceiro gênero, nem homem e nem mulher mas, tão somente, travesti. Assim, as travestis não gostariam de fazer a cirurgia de transgenitalização. De qualquer forma, pessoas que foram registradas como pertencendo ao sexo masculino, quando nasceram, mas que são travestis, preferem ser tratadas no feminino, como qualquer outra mulher. Historicamente, as pessoas nascidas e compulsoriamente designadas como mulheres, porém, que se sentem e se vêem como homens, sempre reclamaram para si o título de homens trans, transhomens ou homens transexuais, de forma que não há “o” travesti.
O que é ser Cis ou Cisgênero?
Cisgêneras são todas as pessoas que possuem identidade, papel e expressão de gênero correspondentes com o que foi registrado quando do nascimento. A abreviação é cis, que é um sufixo que vem do latim, significa “do mesmo lado”. Estamos falando de pessoas que nasceram com um pênis e portanto, foram compulsoriamente registradas como homens, e se reconhecem como homens e não possuem incômodo em performatizarem o papel de gênero masculino dentro da sociedade, o mesmo se dando com as pessoas que nasceram com vagina, sendo portanto compulsoriamente designadas como mulheres e não possuem incômodo em performatizarem o papel de gênero feminino.
O que é ser Transgênero?
Transgêneras são todas as pessoas que possuem identidade e/ou papel e/ou expressão de gênero divergentes do que lhes é imposto pelas regras cissexistas que definem que alguém que nasceu com tal genital é homem ou mulher, impondo como devem aparentar e se comportar. Assim, transgênero é um grande grupo de identidades, abarcando em seu universo travestis, transexuais, crossdresser, drag queen, drag king, andrógino, dois espíritos, agênero, sem gênero, dois gêneros, genderfucker, gênero fluído (…)
O que é Trans*?
A palavra “trans” costuma ser usada como abreviação da palavra transexual ou como sinônimo de “trans*”.
O asterisco na palavra trans* vem da informática: coloque uma letra seguida de um asterisco em uma busca, nos sistemas operacionais, e você obterá todos arquivos começados com aquela letra.
“Trans*” visa incluir no grupo todas as pessoas com identidades dentro e fora do binário de gêneros (homem/mulher) com papel/expressão/identidade de gênero em não conformidade com o genital, de acordo com as regras cissexistas impostas que dizem o que é, como se parece e como se comportam os únicos dois gêneros legitimados dentro da sociedade.
Exemplos de pessoas trans*: transexual, travesti, crossdresser, drag queen, drag king, andrógino, dois espíritos, agênero, sem gênero, dois gêneros, genderfucker, gênero fluído (…)
Qual sigla é mais pertinente para a causa homo/bi/trans*?
O termo atual oficialmente usado para a diversidade no Brasil é LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e trangêneros). A alteração do termo GLBT em favor de LGBT foi aprovada na 1ª Conferência Nacional GLBT realizada em Brasília no período de 5 e 8 de junho de 2008. A mudança de nomenclatura foi realizada a fim de valorizar as lésbicas no contexto da diversidade sexual e também de aproximar o termo brasileiro com o termo predominante em várias outras culturas.
Para ler a nota a esse respeito no site da ABGLT, clique aqui: Sobre a sigla LGBT.
O que é ser Mulher? O que é ser Homem?
Ser mulher ou ser homem são construções históricas, sociais e políticas, refletindo no psíquico/psicológico que introjeta o discurso social, trabalha internamente esse discurso e o reprojeta para o meio externo por meio de uma construção identitária. É o biológico que se submete ao psíquico e, não o contrário.
Alguns homens perderam seus pênis em acidentes ou por motivos de doença, deixaram de ser homens? Não! Pois o fato do sujeito ser homem não está afiançado pelo pênis.
Algumas mulheres removeram mamas, removeram útero, ovários… Deixaram de ser mulheres? Não! Pois ser mulher não é algo que está instalado em uma parte específica do corpo.
Da mesma forma que, possuir cromossomos XX não impede que uma pessoa viva como alguém do gênero masculino e seja vista como homem. Do mesmo modo, do ponto de vista prático, ter cromossomos XY não impede que alguém viva e seja vista como mulher.
A diferença entre uma mulher transexual/travesti e uma mulher não transexual/travesti é que a não transexual/travesti é biológica?
A diferença entre um homem transexual e um homem não transexual é que o não transexual é biológico?

Não! Inclusive o corpo de pessoas transexuais é biológico. Essa definição: homems/mulheres biológicos e não-biológicos é excludente e limitadora. Não é o corpo/fisiologia das pessoas que as faz homens/mulheres, mas, como vimos, todo um grande conjunto que não pode ser esquecido.
O feminismo deve aceitar mulheres transexuais e travestis?
Sim, pois as mulheres transexuais e travestis possuem identidade de gênero feminina, isso significa que se reconhecem como pertencendo ao gênero feminino. E como já foi dito anteriormente, ser homem ou ser mulher não são inscrições anatômicas e, dado que o feminismo é um movimento de libertação das mulheres, ele também deve se ocupar em livrar as mulheres transexuais e travestis das opressões a que são submetidas socialmente: transfobia, cissexismo, transmisoginia [misoginia contra as mulheres trans*] e machismo.
O que é FtM? O que é MtF?
Alguns teóricos dividem as pessoas transexuais em FtM (sigla vinda do inglês [Female to Male - Fêmea para Macho]) para designarem pessoas que quando nasceram foram registradas como alguém do sexo feminino, porém a pessoa se identifica/apresenta como homem; e MtF ([Male to Female - Macho para Fêmea]) para designarem pessoas que quando naceram foram registradas como do sexo masculino, porém se identificam/apresentam como mulheres.
Essa classificação também pode ser considerada cissexista, uma vez que parte do genital para definir identidade de gênero, como se alguém se transformasse de um gênero para outro. Ninguém se transforma ou vira homem ou mulher, as pessoas se reconhecem como homens e mulheres e se apropriam dessas identidades.
Dizer “uma mulher transexual/travesti” é o mesmo que dizer “gay afeminado”?
Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Uma mulher transexual/travesti (alguém que foi registrada quando do nascimento do sexo masculino, porém se identifica/apresenta do gênero feminino) quando se relacionar com um homem (trans* ou cis) será considerada heterossexual, com outra mulher (trans* ou cis) será considerada homossexual/lésbica e tanto com homem quanto com mulher (trans* ou cis) será considerada bissexual.
Dizer “um homem transexual” é o mesmo que dizer “lésbica masculinizada”?
Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Um homem transexual (alguém que foi registrado quando do nascimento do sexo feminino, porém se identifica/apresenta do gênero masculino) quando se relacionar com uma mulher (transexual ou cissexual) será considerado heterossexual, com outro homem (transexual ou cissexual) será considerado homossexual/gay e tanto com homem quanto com mulher (transexuais ou cissexuais) será considerado bissexual.
Uma mulher transexual/travesti era um homem que virou mulher? Um homem transexual era uma mulher que virou homem?
Não! Ninguém vira homem ou mulher. Ser homem ou ser mulher não está instalado nos genitais. Logo, uma mulher transexual nunca foi um homem, apesar de ter sido registrado do sexo masculino por conta do genital. Assim como, um homem transexual nunca foi mulher, apesar de ter sido registrado como alguém do sexo feminino por conta do genital. Como vimos anteriormente, ser homem ou ser mulher é algo que extrapola o campo dos genitais/anatomia.
Uma travesti é um homem gay com roupas de mulher?
Não! Travesti não é uma pessoa com identidade de gênero masculina, logo, não é homem.
Dizer “o travesti” é ofensivo? [Ao se referir às travestis - papel de gênero feminino]
Sim! Travestis se apresentam como mulheres (nome social feminino e trajando geralmente roupas que a sociedade considera próprias às mulheres) e é respeitoso tratá-las no feminino pois, é dessa forma que as travestis se sentem respeitadas. E, ainda que alguma travesti não se incomode de ser tratada no masculino, há centenas de travestis se incomodando; mas não há NENHUM CASO registrado de travesti que se incomodava de ser tratada no feminino, logo, é de bom tom tratar as travestis todas no feminino – a fim de não propagar transfobia e cissexismo, como a mídia faz geralmente, ignorando a identidade de gênero feminina das travestis.
O que é Transfobia?
A transfobia refere-se à discriminação contra as pessoas transgêneras (o que inclui travestis e transexuais). Seja intencional ou não, a transfobia pode causar severas consequências para quem sofre esta discriminação. As pessoas transgêneras também podem ser alvo da homofobia, tal como as pessoas homossexuais podem ser alvo de transfobia, por parte de pessoas que incorretamente não distinguem identidade de gênero de orientação sexual.
Como outras formas de discriminação, o comportamento discriminatório ou intolerante pode ser direto (desde formas fisicamente violentas até recusas em comunicar com a pessoa em causa) ou indireto (como recusar-se a garantir que pessoas transgêneras sejam tratadas da mesma forma que as pessoas cisgêneras).
O que é Cissexismo?
Qualquer discriminação baseada em:
  • Noção de que só existe um tipo de morfologia (corpo) e este deve estar alinhado com o gênero designado ao nascer e/ou;
  • Noção de que só existem 2 gêneros (binários: masculino/feminino) e que uma pessoa deve estar alinhada dentro de um desses 2, e/ou;
  • Noção de que uma pessoa trans* tem uma vivência menos ‘verdadeira’, e/ou nunca será ‘verdadeira’ se não fizer modificações em seu corpo para ficar mais próxima de um dos gênero binários, e/ou;
  • Noção de que uma pessoa precisa estar dentro de um desses gêneros binários, porque senão ela não será feliz, ou não será aceita etc. e/ou;
  • Noção de que pessoas que não se encaixam no binário são doentes mentais, tem patologia e precisam se tratar de algum modo para se curar e que essa cura ou será o alinhamento ou o processo transsexualizador, e/ou;
  • Noção de que o corpo da pessoa é “bizarro”, que ela não pode viver no “entre” etc. o que pode caracterizar também transmisoginia e/ou transmisandria e/ou;
  • Noção de que a pessoa “dá pinta”, é muito “escandalosa” chama atenção, principalmente no que diz respeito a performance/atitudes que não estão alinhadas do ponto de vista cis. Achar que porque essa pessoa ‘chama atenção’ e não age como esperado do alinhamento cis, ela irá “atrapalhar a causa”, “estragar a imagem do grupo” etc. Atenção porque esse discurso está bastante difundido no meio LGBT. E/ou;
  • Uso de termos ofensivos, mas que muitas pessoas (atenção LGBT’s) não acham ofensivos, ou evocar arbitrariamente (sem a permissão da pessoa) o nome designado ao nascer, a experiência “pregressa” (falar em “antes” e “depois” é cissexistatambém); termos como ‘transvestir’,’transformista’, ‘traveco’, ‘transsex’, ‘t-gata’ (sim ‘t-gata’ é um termo fetichizador cissexista e sexista também, objetificador: atenção pessoas que se identificam como “t-lovers”); uso de termos como crossdress, drag, drag queen/king, quando você não sabe qual é a identidade da pessoa. E/ou;
  • Designar arbitrariamente a identidade da pessoa. Conhecer alguém e prontamente decidir qual é a ID da pessoa baseada na imagem (visual e/ou performática) (da sua posição cis) que você tem dela. Alinhar pronomes e identidades também é cissexista. E/ou;
  • Na simples discriminação pela pessoa não ser cis, por ter qualquer comportamento diferente do esperado pelo alinhamento cis. Nesse ponto o sexismo também tem papel importante. Cissexismo e Sexismo são faces da mesma moeda. Desenvolverei esse assunto em outro post. E/ou:
  • Qualquer outra situação que se encaixar em discriminação, pois com certeza não consegui listar tudo aqui, existem inúmeras outras

Travestis têm gênero, respeite!

É recorrente encontrarmos nas notícias e no falar geral o uso dos pronomes tratando mulheres travestis no masculino. Também ocorre o mesmo com pessoas transexuais. No entanto, intuitivamente acredito que com as travestis essa situação é um pouco mais “grave”, pois existe a crença ou imaginário social de que, como travestis não procuram a CRS (cirurgia de redesignação sexual), são “apenas” “homens que se vestem de mulher”. Isso se deve ao preconceito cissexista de acreditar que existe uma verdadeira essência por trás da biologia ou da morfologia. É acreditar que alguém que tenha um pênis esteja de alguma forma ligada a uma identificação ou condição masculina, assim como ocorre com a vulva e vagina com a feminilidade. Se a mulher trans* não quer construir uma vagina cirurgicamente, ou não tem a disforia corretamente “diagnosticada” por um psiquiatra, relacionada ao seu genital, não desenvolver uma narrativa esperada pela equipe de médicos, ela não é uma mulher de verdade ou nem ao menos é uma mulher.
Assim, pessoas transexuais/trans* que percorrem todos os procedimentos esperados ganham certa credibilidade em suas identidades. Mesmo que elas também não estejam isentas de serem desqualificadas e ojerizadas, pessoas trans* – neste caso, travestis, como são comumente designadas pelo discurso médico – que estão à margem desses processos médicos/jurídicos de validação de identidades podem estar em uma situação ainda mais vulnerável. Sem contar com diversos outros possíveis marcadores de subalternidade associados à identidade travesti: raça, escolaridade, situação de vulnerabilidade devido à prostituição ou outras condições… Assim fica ainda mais fácil se referir a uma travesti – mulher – no masculino indevidamente. As pessoas que fazem esse erro recorrem de justificativas das mais absurdas até as mais escancaradamente preconceituosas, passando inclusive pelo argumento de autoridade que a gramática normativa supostamente concede. Já ouvi:
1) Eu posso usar a flexão masculina, pois você não conhece a identidade dx travesti. Logo, se elx se identificar como homem, eu tenho esse direito;
2) Se alguém errar o meu pronome, eu –pessoa cisgênera –não vou ficar chateado. Aliás, acho até engraçado. É só uma piada, vocês não estão falando sério né, se eu posso rir vocês também podem!
3) A gramática normativa exige a utilização da flexão masculina para homens e como travestis são apenas homens que se vestem de mulher, eu tenho esse direito;
Então vamos por partes… Primeiro, podem de fato existir pessoas que se identificam como travestis e se apresentarem com uma fluidez de gênero, ou além do binário, de forma que elxs podem se identificar como homens, mulheres ou algo entre ou além dos dois e isso certamente não é um problema. Todas as pessoas tem o direito pela auto identificação, apenas elas decidem qual é a melhor forma de se definirem. Por isso é importante perguntar para a pessoa como ela gostaria de ser chamada.
No entanto, isso não é desculpa para reproduzir uma opressão estrutural e histórica contra as mulheres travestis: de as chamarem com pronomes que elas não desejam. De uma maneira em geral as pessoas travestis que se identificam com o gênero feminino preferem serem tratadas no feminino. Por isso não é adequado tratar mulheres transgêneras, apenas por serem transgêneras, no masculino de forma generalizante. Se alguma mulher cis apresenta roupas e acessórios femininos, sutiã dentre outros “marcadores” de feminilidade certamente ela será tratada pelo feminino e a chance de ocorrer misgender – errar o seu gênero – é pequena. Se ocorrer a mesma situação, porém com uma mulher transgênera, na qual pelo simples fato dela ser identificada como trans* ela ser tratada no masculino, o cissexismo fica evidente.
Errar o gênero, pronome e nome das pessoas trans* não é jamais a mesma coisa que com uma pessoa cisgênera. Afinal, pessoas cis nem ao menos são alvos dessa situação, a menos que tenha algo na aparência física/apresentação que remeta o gênero oposto, é extremamente improvável que isso aconteça. Ter seu gênero deslegitimado é opressão que acontece com pessoas trans* cotidianamente, é a violência que diz que alguém não é um homem ou mulher o bastante (ou simplesmente não existir a possibilidade de ser) por possuírem determinado genital ou aparência e que leva à disforia. Pessoas trans* não tem o privilégio de rirem quando isso acontece e nem de se esquecerem da situação ou de não se importarem com ela.
Por fim, usar a gramática para corroborar transfobia é hilário, mas trágico, pois é uma realidade. Regras gramaticais são convenções sociais, elas não são escrituras sagradas, que podem dizer as “verdades” a cerca dos pronomes das pessoas trans*. A única verdade sobre o gênero de alguém é a que ela diz sobre si mesma. Se alguma pessoa usar o argumento que é necessário tratar mulheres travestis no masculino ela não está sendo neutra – como a principio o argumento da “língua” poderia soar – ela vai estar sim em uma posição privilegiada – a cis – exercendo uma relação de dominação contra pessoas trans*, ao deslegitimar suas reivindicações – de serem tratadas como querem.
Pessoas trans* já cotidianamente são levadas a nem mesmo serem o que são. É ter que nadar contra a correnteza, a identidade de alguma pessoa trans* não foi obtida com pouco sacrifício, pois a todo momento somos lembradxs através dos mais diversos ataques transfóbicos de que não poderíamos nos identificarmos como nos identificamos. É realmente necessário reforçar essa violência ainda mais ao chamar pessoas trans* com o gênero a qual ela foi designada de forma coerciva? A regra é básica e simples: 1)Individualmente, chame alguém como elx gostaria de ser chamadx, pergunte 2) Ao tratar de grupos, da mesma forma que designamos o gênero feminino às mulheres cis com apresentação feminina, o mesmo tem que ser feito com mulheres trans* – assim como para homens cis e trans*.

Descolonizando os entremeios de Travestis e Transexuais

Sinto a necessidade de abordar uma velha questão, que mesmo sendo velha, tenho certeza que continuará a ser posta na ordem do dia através de perguntas e controvérsias acerca das diferenças (opacas, já vou adiantando) entre “travestis” e “transexuais”. Acho interessante falarmos sobre isso pensando o dia da visibilidade trans*, já que muitas vezes (senão todas), são a partir destas duas categorias que pessoas trans* são designadas e, portanto, trazidas para a ordem da representação e do cognoscível (e também para uma ordem do político, como espero mostrar). Quando se pergunta acerca do “estatuto” de uma pessoa trans* – se ela é “travesti” ou “transexual” – não está ocorrendo apenas uma mera pergunta se ela “é travesti ou transexual”. Este tipo de pergunta está atrelada a uma memória discursiva sobre os sentidos de “travesti” e “transexual”, que é rememorada no momento da enunciação, tencionando constantemente os sentidos sobre essas duas palavras na enunciação.
Autores como Bruno César Barbosa e Jorge Leite Júnior¹, mostram como essas categorias médicas referentes à transgeneridade mudaram com o passar do tempo. O que parece ocorrer é uma variável flutuação dos termos “travesti” e “travestismo” (sic); “transexual” e “transexualismo” (sic); “transtorno de identidade de gênero” e “disforia de gênero” (dentre outras variações). Ora são termos mais ou menos intercambiáveis, ora não; ora significam mais ou menos a mesma coisa e ora não². Fica bastante evidente que se trata, antes de uma questão meramente médica ou psíquica, afeita aos campos da psiquiatria e psicologia, uma questão linguística, por estarem expostas questões da significação de palavras – e seus equívocos – permeados e indissociáveis de seus contextos históricos. Percebem-se aí como certas palavras tem uma “importância” pela qual o discurso médico insiste, através de inúmeros pequenos e contínuos deslocamentos, uma apreensão definitiva, legitimada e verdadeira do real.
Os esforços presentes nas diversas categorizações e subdivisões das identidades transgêneras, tanto inicialmente feitas por Harry Benjamin nos anos 50 e 60 quanto pelos atuais manuais diagnósticos como o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) e CID (Classificação Internacional de Doenças), operam com o intuito de produzir um norte capaz de conter, pelas palavras e nosologias, a diversidade tida como patológica do gênero. Essas categorizações, com um suposto intuito inicial de descrever objetivamente um “fenômeno”, acabam por prescrever e idealizar, dentro da própria categoria abjeta da transgeneridade, corpos e identidades mais ou menos inteligíveis, utilizando para isso as categorias “travesti” e “transexual” e outros conceitos analíticos como “falso” ou “pseudo”, “diagnósticos diferencias” e “intensidades” (referentes aos tidos “desvios” de gênero).
Afinal de contas, o que está em jogo é o preciso “diagnóstico” capaz não apenas de desvelar uma suposta verdade essencial e anterior sobre corpos, identidades e práticas, mas também capaz de imputar um poder colonizador de natureza biomédica: o “tratamento” tido como correto. Médicos e profissionais psi, ao conceber os sujeitos trans* como completamente incapazes de decidir sobre si mesmos, são tidos como corpos passivos que o conhecimento médico deve preencher. Para isso, o poder médico concebe práticas que julgam proteger os sujeitos trans* de si mesmos. É então, por exemplo, que o mito³ da correlação mágica e completamente linear entre cirurgias de redesignação sexual e suicídios é trazido à tona para alertar sobre os “perigos” de uma maior autonomia para as pessoas trans*. As pessoas trans* são destituídas de autonomia sobre seus corpos, narrativas e identidades através destas formas perversas de controle cispatriarcal. E estas formas de dominação irão articular a dicotomia “travesti-transexual” em seu favor.
Para isso, vão operar discursos que procuram estabelecer uma coerência inequívoca entre as palavras, produzindo então uma verdade essencializada sobre esses dois termos. Essa construção de coerência, que visa esconder, por um processo de naturalização apoiada pelas ciências médicas e psi, o caráter contraditório dos termos, vai conseguir operar um controle biopolítico dos corpos e identidades trans*, na medida em que estes termos são acionados e articulados pelos saberes e poderes da medicina e do jurídico enquanto “mediadores” de direitos civis. Para citar dois exemplos clássicos: as resoluções sobre o “diagnóstico” (que permitirá uma pessoa trans* acessar cuidados básicos de saúde) e dos processos judiciários de retificação de documentos (que são condicionados por laudos psi/médicos/sociais pautados, em sua maioria, na patologização da transexualidade). Este controle está guiado por um processo de legitimação4 da identidade transexual em detrimento da travesti. Isso ocorre através de uma burocratização do acesso a atendimento médico e jurídico, pela estrita necessidade da apresentação do laudo de transexualidade. Percebam que quando falamos sobre o tal “laudo”, enquanto um dispositivo normativo requerido para o acesso à cidadania, não é qualquer laudo, na medida em que um hipotético laudo atestando travestilidade jamais teria o mesmo valor que aquele atestando a transexualidade. Nem ao menos concebemos a ideia de um laudo de travestilidade, pois é a transexualidade a categoria almejada e regulada. Isso se torna especialmente cruel, na medida em que reconhecemos a existência de pessoas travestis que requerem certas demandas que são as mesmas das pessoas transexuais, e que são ameaçadas por este dispositivo de terror que é o laudo médico/psi/social. Em última instância, a exigência do laudo de transexualidade como mediador de direitos humanos é uma forma de excluir pessoas trans*, em especial, travestis, negrxs, deficientes e pobres.
Podemos, a partir do momento que compreendemos as relações de poder que articulam essa dicotomia identitária, fomentar novas formas de se pensar e entender as identidades travesti e transexual: extrapolando o “bom-senso” médico-psiquiátrico e jurídico; reafirmando a humanidade das pessoas trans*, em especial das travestis; exigindo a desburocratização do acesso a direitos civis para a população trans* e o respeito à auto identificação; apontando para a própria relação de poder (que procura em si mesma se mostrar inexistente para garantir sua dominação) que está sendo articulada pelos discursos médicos e jurídicos e denunciar os cinismos políticos no que se referem políticas públicas acerca da transgeneridade; problematizar, questionar e borrar os limites entre as duas categorias, ao apontar para os efeitos de pré-construído (o efeito que produz uma transparência e a necessidade de um já-dito para fazer sentido) delas, elaborar, enfim, formas emancipatórias, descolonizadas, empoderadoras e não prescritivas de “ser” travesti ou transexual e negar os entendimentos cisgêneros e patriarcais sobre nossas identidades trans*/femininas.
Isso significa que não estamos discutindo sobre se travestis fazem a cirurgia de redesignação sexual ou não ou outra coisa parecida (como frequentemente ocorrem em discussões homéricas e desnecessárias), mas sim entender que não existe forma correta e definitiva de ser travesti e transexual. Quero, portanto, acirrar e problematizar esses termos a ponto de extrapolar uma nova perspectiva que pode soar absurda que se refere em última instância para a impossibilidade de uma definição unívoca para tais palavras e que, portanto, “existem” e ao mesmo tempo “não existem” as “diferenças” entre travestis e transexuais.
Vamos entender como se constrói a subalternidade5 da identidade travesti em relação à transexual e não naturalizar esta relação. Trata-se de colocar estas palavras de volta ao lugar em que pertencem ao compreendê-las na história e, portanto, enquanto materialidades contraditórias do discurso. Desta forma, se tornam passíveis de serem contestadas as articulações ideológicas destas palavras que corroboram cissexismo. Por fim, cabe desvelar o absurdo e perversidade que é controlar e oprimir pessoas trans* por meio de suas próprias categorias identitárias (que são também, em última instância, palavras). O empoderamento se dará também através das palavras e acredito que as palavras “travesti” e “transexual” trazem à cena um palco privilegiado e necessário para práticas de resistências transfeministas.

Qual a diferença entre travesti e transexual? Especialista esclarece

existe uma característica que diferencia uma identidade da outra

Apesar de as características se aproximarem muito, entre um e outro, existe uma que faz toda a diferença. O transexual nasceu homem, mas não se sente como tal, adotando roupas do sexo oposto, consumindo hormônios e logo se decide pela cirurgia de mudança de sexo.

O travesti, ainda que ele tenha o mesmo desejo e invista em roupas e hormônios femininos, tal qual o transexual, ele mantém o órgão genital masculino. 


 

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