Homossexuais
revelam como é a vida noturna tendo que enfrentar o preconceito da
sociedade
Samantha e Natasha
São 10h da noite. Avenida Marcus Cherém, Uberaba, Minas Gerais. Esta avenida é bastante conhecida pelos motéis, pelas garotas de programa e pelos travestis.
Conseguir falar com travestis é complicado. Como eles mesmo dizem, "você vai pagar querida? Enquanto você está aqui, estou perdendo clientes".
São 10h da noite. Avenida Marcus Cherém, Uberaba, Minas Gerais. Esta avenida é bastante conhecida pelos motéis, pelas garotas de programa e pelos travestis.
Conseguir falar com travestis é complicado. Como eles mesmo dizem, "você vai pagar querida? Enquanto você está aqui, estou perdendo clientes".
Samantha e
Natasha são dois travestis que trabalham na avenida. A maneira de agirem quando
estão no ponto é diferente das garotas de programa, porque eles se insinuam para
os clientes com roupinhas "indecentes" e algumas vezes até tiram a
roupa.
"Elas", como gostam de ser chamadas, estavam com topizinhos, saias curtíssimas, salto alto e muita, muita maquiagem. São jovens, têm apenas 22 anos, mas 6 de profissão.
Interessante perceber que do ponto de Natasha e Samantha, vemos simultaneamente dois fatos que ilustram bem a situação dessa avenida. De um lado acontece uma negociação para se vender drogas. Trato feito! Um moço sai de moto com o pacotinho dentro da jaqueta. Do outro lado um motel. Movimentadíssimo por sinal. A cada instante, entra um carro. Neste caso até moto-táxi vale!
As duas amigas estão ali, no mesmo ponto, esperando clientes. Eles, ou melhor elas, disputam com as garotas de programa para ganhar um cliente. Neste caso, os travestis ganham delas, vamos dizer assim; a aceitação deles perante o público masculino é melhor. Mas a disputa por fregueses, permanece: "As garotas de programa são umas horrorosas, não deixam a gente trabalhar. O lugar delas é dentro de casa. Se já o homossexual sofre preconceito de estar em uma avenida, obrigação delas é criar vergonha na cara e caçar serviço. Os homens hoje não querem mulher querem um travesti, um transexual".
Tanto Natasha quanto Samantha não escondem que já nasceram homossexuais. "Não me descobri homossexual, nasci assim. Sou uma alma de mulher aprisionada em um corpo de homem. Este comportamento afeminado é um gosto. Deus deu o livre arbítrio e as pessoas têm que saber respeitar o livre arbítrio das outras".
Como já era de imaginar, eles dizem sofrer muito preconceito. Todos os dias passam por situações assim. "Muitas vezes a polícia veio até aqui e por nada nos espancou", diz Samantha mostrando muitas marcas de agressões pelo corpo. Mas não é só a polícia que comete essas barbaridades."Temos uma colega que não quis transar com um cara e então ele passou com o carro por cima dela. Hoje, ela está paralítica". Até mesmo da família eles sofrem precon-ceito. Alguns res-peitam, mas princi-palmente as mães não aceitam esta condição.
Durante o dia se vestem de homem, normalmente. À noite é que tudo se transforma. Samantha está na profissão porque precisa de dinheiro e sendo homossexual as opor-tunidades são menores ainda; por isso muitas vezes já largou de fazer programas para poder buscar um emprego. Natasha, ao contrário de Samantha, não quer sair dessa profissão "foi esta profissão que escolhi e é esta que quero seguir. Eu optei por essa profissão quando fiquei com um colega meu. Gostei e então decidi fazer programas".
Os programas aqui variam de preço. De acordo com o serviço prestado. No geral é R$25,00 a hora. A maioria dos clientes que os procuram são homens casados com mais de 30 anos, "as mariconas vêem aqui não pra gente transar com eles mas pra eles transarem com a gente, falando o português claro, eles são passivos e nós ativos". Não é o tipo de coisa que os travestis gostam de fazer, mas faz parte da profissão, eles tem que aceitar. Neste caso, os clientes chegam a pagar o dobro do valor estipulado. E eles são fiéis, acabam voltando para fazer um outro programa.
"Programas com mulheres nós não fazemos, temos nojo de mulher. Mas existem companheiros nossos que por mais dinheiro fazem programas com casais".
Muitos dos travestis na busca desesperada para parecerem cada vez mais com mulheres, usam silicone nos seios e emplasto sabiá no pênis para escondê-lo. Mas no caso de Natasha e Samantha isso não ocorre porque eles fazem muito mais o papel masculino, vamos dizer assim, do que o feminino. Eles usam uma substância que não quiseram revelar, para conseguirem a ereção.
Natasha já conseguiu juntar um bom dinheiro e agora em julho vai para a Suíça colocar silicone nos seios. Mudar de sexo ela não vai, pois do contrário não teria como trabalhar. E uma curiosidade, é que a Suíça é um celeiro de travestis. Lá, os homossexuais acabam optando por começar a fazer programas.
Como toda profissão, aqui também existe a parte difícil da coisa. "Agüentar as tranqueiras que aparecem aqui é terrível. Existem muitos clientes que vem sujos pra cá. Mas como eles mesmos dizem, eu estou pagando você tem obrigação de fazer o que eu quiser". Samantha falou de uma situação complicada que aconteceu com ela "uma vez, veio um senhor com o filho de 6 anos e queria que eu fizesse programa com os dois. Quando vi a criança, não aceitei fazer esse tipo de coisa".
Neste meio onde o único compromisso é o prazer, muitas vezes a camisinha é deixada de lado até mesmo por uma "sacanagem". "Temos colegas que são soropositivas. Elas não comentam com os clientes e eles pagam o dobro para transar sem camisinha e elas transmitem a aids para eles. Se o cliente voltar para reclamar, elas os matam".
Mesmo assim, eles dizem que os travestis não são agressivos. O que fazem eles terem esse comportamento é quando os clientes não pagam ou os espancam "aí sim, vão para o cemitério, é lógico".
Como ninguém imagina, alguns travestis são fáceis de lidar e até mesmo abertos a conversas, "se vocês estão fazendo isso para um trabalho, podem voltar quando quiser". O que na verdade eles temem é serem discriminados ainda mais do que já são. Como eles mesmos dizem, "não escolhemos ser assim, não temos problemas psicológicos, só queremos ser diferente do que somos".
Vencer este "tabu" que se instala na sociedade há tanto tempo não é fácil. Muitos até acham que os travestis são uma agressão aos nossos olhos. No entanto, eles só estão buscando a sua própria identidade para serem felizes.
Assim é a vida noturna de algumas partes da cidade de Uberaba. Muito movimento. Mesmo tendo tantos bares e boates, os velhos costumes ainda não foram colocados de lado. Os pequenos prostíbulos ainda existem, mas grandes inovações foram feitas nesse setor. Grandes chácaras bem arrumadas e organizadas, com belas mulheres e de fino trato, o surgimento, até então desconhecido, de garotos de programa, os "lover boy", como são chamados.
Ainda temos as casas de massagem, onde os clientes vão para fazer a massagem erótica. As mulheres ficam nuas e o cliente também mas não se faz programas, pelo menos é o que dizem. Tem ainda as linhas de tele-sexo ou tele-amizade onde as pessoas ligam para encontrar pessoas para conversar e, se rolar alguma coisa, marcam um encontro.
É da noite que muitas pessoas sobrevivem. É daí que muitos tiram seu sustento. Como vimos, muitas das pessoas que estão na prostituição, entraram nessa simplesmente pelo dinheiro, pela grana que vem muito mais rápido que nos outros ofícios.
Aqui fantasias podem ser realizadas. Sonhos mais esquisitos e não convencionais podem se tornar reais nas mãos desses profissionais. Mas só uma perguntinha: Tem grana? Se não tiver, desiste. Custa caro. Não tem desconto. Não se paga com cartão de crédito e o cheque não tem prazo. É a vista. Na noite, tudo pode acontecer.
"Elas", como gostam de ser chamadas, estavam com topizinhos, saias curtíssimas, salto alto e muita, muita maquiagem. São jovens, têm apenas 22 anos, mas 6 de profissão.
Interessante perceber que do ponto de Natasha e Samantha, vemos simultaneamente dois fatos que ilustram bem a situação dessa avenida. De um lado acontece uma negociação para se vender drogas. Trato feito! Um moço sai de moto com o pacotinho dentro da jaqueta. Do outro lado um motel. Movimentadíssimo por sinal. A cada instante, entra um carro. Neste caso até moto-táxi vale!
As duas amigas estão ali, no mesmo ponto, esperando clientes. Eles, ou melhor elas, disputam com as garotas de programa para ganhar um cliente. Neste caso, os travestis ganham delas, vamos dizer assim; a aceitação deles perante o público masculino é melhor. Mas a disputa por fregueses, permanece: "As garotas de programa são umas horrorosas, não deixam a gente trabalhar. O lugar delas é dentro de casa. Se já o homossexual sofre preconceito de estar em uma avenida, obrigação delas é criar vergonha na cara e caçar serviço. Os homens hoje não querem mulher querem um travesti, um transexual".
Tanto Natasha quanto Samantha não escondem que já nasceram homossexuais. "Não me descobri homossexual, nasci assim. Sou uma alma de mulher aprisionada em um corpo de homem. Este comportamento afeminado é um gosto. Deus deu o livre arbítrio e as pessoas têm que saber respeitar o livre arbítrio das outras".
Como já era de imaginar, eles dizem sofrer muito preconceito. Todos os dias passam por situações assim. "Muitas vezes a polícia veio até aqui e por nada nos espancou", diz Samantha mostrando muitas marcas de agressões pelo corpo. Mas não é só a polícia que comete essas barbaridades."Temos uma colega que não quis transar com um cara e então ele passou com o carro por cima dela. Hoje, ela está paralítica". Até mesmo da família eles sofrem precon-ceito. Alguns res-peitam, mas princi-palmente as mães não aceitam esta condição.
Durante o dia se vestem de homem, normalmente. À noite é que tudo se transforma. Samantha está na profissão porque precisa de dinheiro e sendo homossexual as opor-tunidades são menores ainda; por isso muitas vezes já largou de fazer programas para poder buscar um emprego. Natasha, ao contrário de Samantha, não quer sair dessa profissão "foi esta profissão que escolhi e é esta que quero seguir. Eu optei por essa profissão quando fiquei com um colega meu. Gostei e então decidi fazer programas".
Os programas aqui variam de preço. De acordo com o serviço prestado. No geral é R$25,00 a hora. A maioria dos clientes que os procuram são homens casados com mais de 30 anos, "as mariconas vêem aqui não pra gente transar com eles mas pra eles transarem com a gente, falando o português claro, eles são passivos e nós ativos". Não é o tipo de coisa que os travestis gostam de fazer, mas faz parte da profissão, eles tem que aceitar. Neste caso, os clientes chegam a pagar o dobro do valor estipulado. E eles são fiéis, acabam voltando para fazer um outro programa.
"Programas com mulheres nós não fazemos, temos nojo de mulher. Mas existem companheiros nossos que por mais dinheiro fazem programas com casais".
Muitos dos travestis na busca desesperada para parecerem cada vez mais com mulheres, usam silicone nos seios e emplasto sabiá no pênis para escondê-lo. Mas no caso de Natasha e Samantha isso não ocorre porque eles fazem muito mais o papel masculino, vamos dizer assim, do que o feminino. Eles usam uma substância que não quiseram revelar, para conseguirem a ereção.
Natasha já conseguiu juntar um bom dinheiro e agora em julho vai para a Suíça colocar silicone nos seios. Mudar de sexo ela não vai, pois do contrário não teria como trabalhar. E uma curiosidade, é que a Suíça é um celeiro de travestis. Lá, os homossexuais acabam optando por começar a fazer programas.
Como toda profissão, aqui também existe a parte difícil da coisa. "Agüentar as tranqueiras que aparecem aqui é terrível. Existem muitos clientes que vem sujos pra cá. Mas como eles mesmos dizem, eu estou pagando você tem obrigação de fazer o que eu quiser". Samantha falou de uma situação complicada que aconteceu com ela "uma vez, veio um senhor com o filho de 6 anos e queria que eu fizesse programa com os dois. Quando vi a criança, não aceitei fazer esse tipo de coisa".
Neste meio onde o único compromisso é o prazer, muitas vezes a camisinha é deixada de lado até mesmo por uma "sacanagem". "Temos colegas que são soropositivas. Elas não comentam com os clientes e eles pagam o dobro para transar sem camisinha e elas transmitem a aids para eles. Se o cliente voltar para reclamar, elas os matam".
Mesmo assim, eles dizem que os travestis não são agressivos. O que fazem eles terem esse comportamento é quando os clientes não pagam ou os espancam "aí sim, vão para o cemitério, é lógico".
Como ninguém imagina, alguns travestis são fáceis de lidar e até mesmo abertos a conversas, "se vocês estão fazendo isso para um trabalho, podem voltar quando quiser". O que na verdade eles temem é serem discriminados ainda mais do que já são. Como eles mesmos dizem, "não escolhemos ser assim, não temos problemas psicológicos, só queremos ser diferente do que somos".
Vencer este "tabu" que se instala na sociedade há tanto tempo não é fácil. Muitos até acham que os travestis são uma agressão aos nossos olhos. No entanto, eles só estão buscando a sua própria identidade para serem felizes.
Assim é a vida noturna de algumas partes da cidade de Uberaba. Muito movimento. Mesmo tendo tantos bares e boates, os velhos costumes ainda não foram colocados de lado. Os pequenos prostíbulos ainda existem, mas grandes inovações foram feitas nesse setor. Grandes chácaras bem arrumadas e organizadas, com belas mulheres e de fino trato, o surgimento, até então desconhecido, de garotos de programa, os "lover boy", como são chamados.
Ainda temos as casas de massagem, onde os clientes vão para fazer a massagem erótica. As mulheres ficam nuas e o cliente também mas não se faz programas, pelo menos é o que dizem. Tem ainda as linhas de tele-sexo ou tele-amizade onde as pessoas ligam para encontrar pessoas para conversar e, se rolar alguma coisa, marcam um encontro.
É da noite que muitas pessoas sobrevivem. É daí que muitos tiram seu sustento. Como vimos, muitas das pessoas que estão na prostituição, entraram nessa simplesmente pelo dinheiro, pela grana que vem muito mais rápido que nos outros ofícios.
Aqui fantasias podem ser realizadas. Sonhos mais esquisitos e não convencionais podem se tornar reais nas mãos desses profissionais. Mas só uma perguntinha: Tem grana? Se não tiver, desiste. Custa caro. Não tem desconto. Não se paga com cartão de crédito e o cheque não tem prazo. É a vista. Na noite, tudo pode acontecer.