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segunda-feira, 10 de março de 2014

Travestis têm gênero, respeite!

É recorrente encontrarmos nas notícias e no falar geral o uso dos pronomes tratando mulheres travestis no masculino. Também ocorre o mesmo com pessoas transexuais. No entanto, intuitivamente acredito que com as travestis essa situação é um pouco mais “grave”, pois existe a crença ou imaginário social de que, como travestis não procuram a CRS (cirurgia de redesignação sexual), são “apenas” “homens que se vestem de mulher”. Isso se deve ao preconceito cissexista de acreditar que existe uma verdadeira essência por trás da biologia ou da morfologia. É acreditar que alguém que tenha um pênis esteja de alguma forma ligada a uma identificação ou condição masculina, assim como ocorre com a vulva e vagina com a feminilidade. Se a mulher trans* não quer construir uma vagina cirurgicamente, ou não tem a disforia corretamente “diagnosticada” por um psiquiatra, relacionada ao seu genital, não desenvolver uma narrativa esperada pela equipe de médicos, ela não é uma mulher de verdade ou nem ao menos é uma mulher.
Assim, pessoas transexuais/trans* que percorrem todos os procedimentos esperados ganham certa credibilidade em suas identidades. Mesmo que elas também não estejam isentas de serem desqualificadas e ojerizadas, pessoas trans* – neste caso, travestis, como são comumente designadas pelo discurso médico – que estão à margem desses processos médicos/jurídicos de validação de identidades podem estar em uma situação ainda mais vulnerável. Sem contar com diversos outros possíveis marcadores de subalternidade associados à identidade travesti: raça, escolaridade, situação de vulnerabilidade devido à prostituição ou outras condições… Assim fica ainda mais fácil se referir a uma travesti – mulher – no masculino indevidamente. As pessoas que fazem esse erro recorrem de justificativas das mais absurdas até as mais escancaradamente preconceituosas, passando inclusive pelo argumento de autoridade que a gramática normativa supostamente concede. Já ouvi:
1) Eu posso usar a flexão masculina, pois você não conhece a identidade dx travesti. Logo, se elx se identificar como homem, eu tenho esse direito;
2) Se alguém errar o meu pronome, eu –pessoa cisgênera –não vou ficar chateado. Aliás, acho até engraçado. É só uma piada, vocês não estão falando sério né, se eu posso rir vocês também podem!
3) A gramática normativa exige a utilização da flexão masculina para homens e como travestis são apenas homens que se vestem de mulher, eu tenho esse direito;
Então vamos por partes… Primeiro, podem de fato existir pessoas que se identificam como travestis e se apresentarem com uma fluidez de gênero, ou além do binário, de forma que elxs podem se identificar como homens, mulheres ou algo entre ou além dos dois e isso certamente não é um problema. Todas as pessoas tem o direito pela auto identificação, apenas elas decidem qual é a melhor forma de se definirem. Por isso é importante perguntar para a pessoa como ela gostaria de ser chamada.
No entanto, isso não é desculpa para reproduzir uma opressão estrutural e histórica contra as mulheres travestis: de as chamarem com pronomes que elas não desejam. De uma maneira em geral as pessoas travestis que se identificam com o gênero feminino preferem serem tratadas no feminino. Por isso não é adequado tratar mulheres transgêneras, apenas por serem transgêneras, no masculino de forma generalizante. Se alguma mulher cis apresenta roupas e acessórios femininos, sutiã dentre outros “marcadores” de feminilidade certamente ela será tratada pelo feminino e a chance de ocorrer misgender – errar o seu gênero – é pequena. Se ocorrer a mesma situação, porém com uma mulher transgênera, na qual pelo simples fato dela ser identificada como trans* ela ser tratada no masculino, o cissexismo fica evidente.
Errar o gênero, pronome e nome das pessoas trans* não é jamais a mesma coisa que com uma pessoa cisgênera. Afinal, pessoas cis nem ao menos são alvos dessa situação, a menos que tenha algo na aparência física/apresentação que remeta o gênero oposto, é extremamente improvável que isso aconteça. Ter seu gênero deslegitimado é opressão que acontece com pessoas trans* cotidianamente, é a violência que diz que alguém não é um homem ou mulher o bastante (ou simplesmente não existir a possibilidade de ser) por possuírem determinado genital ou aparência e que leva à disforia. Pessoas trans* não tem o privilégio de rirem quando isso acontece e nem de se esquecerem da situação ou de não se importarem com ela.
Por fim, usar a gramática para corroborar transfobia é hilário, mas trágico, pois é uma realidade. Regras gramaticais são convenções sociais, elas não são escrituras sagradas, que podem dizer as “verdades” a cerca dos pronomes das pessoas trans*. A única verdade sobre o gênero de alguém é a que ela diz sobre si mesma. Se alguma pessoa usar o argumento que é necessário tratar mulheres travestis no masculino ela não está sendo neutra – como a principio o argumento da “língua” poderia soar – ela vai estar sim em uma posição privilegiada – a cis – exercendo uma relação de dominação contra pessoas trans*, ao deslegitimar suas reivindicações – de serem tratadas como querem.
Pessoas trans* já cotidianamente são levadas a nem mesmo serem o que são. É ter que nadar contra a correnteza, a identidade de alguma pessoa trans* não foi obtida com pouco sacrifício, pois a todo momento somos lembradxs através dos mais diversos ataques transfóbicos de que não poderíamos nos identificarmos como nos identificamos. É realmente necessário reforçar essa violência ainda mais ao chamar pessoas trans* com o gênero a qual ela foi designada de forma coerciva? A regra é básica e simples: 1)Individualmente, chame alguém como elx gostaria de ser chamadx, pergunte 2) Ao tratar de grupos, da mesma forma que designamos o gênero feminino às mulheres cis com apresentação feminina, o mesmo tem que ser feito com mulheres trans* – assim como para homens cis e trans*.
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