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terça-feira, 12 de junho de 2012

A Transfobia Oculta nas Histórias de CDs Que Se Deram Mal

Por mais paradoxal que pareça, a maioria das pessoas transgêneras sentem medo, culpa e têm vergonha de serem transgêneras, como repudiam o contato com outras pessoas transgêneras.
Embora o aparente progresso na aceitação e no respeito à diversidade humana, a maior parte das pessoas transgêneras ainda permanecem trancadas nos seus armários, apavoradas com o “inferno de Dante” que aguarda quem ousa assumir publicamente essa condição. A questão é que, mesmo nesses tempos de pós-revolução feminista, com o homem cada vez mais confuso e perplexo com o esvaziamento dos seus papéis e privilégios pela mulher, o travestismo continua sendo uma das mais graves transgressões contra a milenar instituição da “masculinidade”. Em pleno século XXI, o ultraconservador “catecismo machista” continua tratando crossdressing (travestismo) como uma coisa intrinsecamente má, doentia e socialmente reprovável.
Educadas nos moldes de uma sociedade que ainda é essencialmente patriarcal e machista, até as próprias pessoas transgêneras tendem a enxergar o crossdressing (travestismo) como prática vexatória, ridícula e pecaminosa; algo inteiramente desaconselhável e fora-de-questão para “homens de bem”. Assim, é um conflito muito grande para qualquer pessoa transgênera tentar atender, de um lado, o desejo avassalador de se expressar como membro do gênero oposto ao seu e, de outro, corresponder ao modelo de homem (ou de mulher) que nos é imposto pela sociedade em função do seu sexo genital.
Diante do impasse, e sem meios de se impor como indivíduo diferente da maioria, a solução adotada pela maior parte das pessoas transgêneras é “permanecer no armário”, em total segurança – e sofrimento psíquico, claro. Os mais “ousados” encontram uma dose extraordinária de coragem para fazer incursões solitárias ao “reino do proibido”, tentando expressar sua transgeneridade através do crossdressing. Mas muitos quase enlouquecem para manter tudo debaixo do mais estrito controle e sigilo, temerosos das terríveis represálias que poderão sofrer caso venham a ser descobertos usando roupas, calçados e adereços socialmente atribuídos ao gênero feminino.
O folclore transgênero é repleto de “histórias exemplares” sobre crossdressers que tiveram suas vidas transformadas num “vale de lágrimas” depois que se abriram para suas esposas, namoradas, chefes e colegas de trabalho ou tiveram sua “compulsão de se travestir” acidentalmente descoberta ou revelada de maneira intempestiva.
Obviamente, a “moral” de tais histórias, em vez de contribuir para melhorar a combalida auto-estima dos crossdressers, apenas reforça o ideário machista onde crossdressing (travestismo) aparece como uma prática absolutamente abominável sob todos os pontos de vista.
Sob o inocente pretexto de alertar os “neófitos” e ”desavisados”, quanto às gravíssimas conseqüências de se deixarem apanhar nas suas “identidades secretas”, histórias de crossdressers “que se deram mal” traduzem apenas o clima de total baixa-estima e auto-rejeição de pessoas transgêneras pela sua própria transgeneridade.
Tanto desprezo e aversão pela condição transgênera tem nome: – chama-se transfobia. Por mais paradoxal que pareça, existe transfobia – e muita – dentro do próprio grupo transgênero. De fato, a maioria das pessoas transgêneras sentem medo, vergonha, culpa e têm repúdio de serem transgêneras, assim como repudiam o contato com outras pessoas transgêneras.
Apontado como o segmento transgênero onde a transfobia é mais evidente, a maioria dos chamados “crossdressers” – “armarizados” e até mesmo “assumidos” – sente e demonstra uma incrível repulsa pela sua própria “compulsão para se travestir”. Ao contrário das travestis e transexuais, cuja sobrevivência no dia-a-dia depende da constante afirmação de “si mesmas” perante a sociedade, os crossdressers adotam uma postura totalmente dissimulada, de permanente negação, distância e ocultação do seu status transgênero. De uma maneira geral, são absolutamente relutantes em admitir prontamente a sua “compulsão para se travestir” exibindo, muitas vezes, um grau elevado de desprezo e desvalorização do próprio ato de se travestir. Fazem questão de reafirmar sua “masculinidade a toda prova”, conferindo às suas montagens um caráter de lazer, hobby e coisa totalmente passageira. Assim, ao mesmo tempo que relatam enorme conforto e prazer no ato de se travestir, vivem um intenso conflito para se livrar da culpa que sentem de ser “crossdressers”. Esse permanente conflito – de natureza notoriamente transfóbica – é o grande responsável pelos crossdressers não permanecerem travestidos em tempo integral (como as travestis e transexuais, de quem eles tanto se esforçam para se diferenciar…), assim como pelas gigantescas “urges” e “purges” que caracterizam a vida de um CD típico.
Uma forte manifestação da “transfobia” existente no meio transgênero, conveniente e cuidadosamente disfarçada de “prudência”, tornou-se, na verdade, uma das características mais representativas dos “crossdressers”. Trata-se do temor absurdo que a maioria dos crossdressers têm de serem vistos/ reconhecidos/ identificados/ descobertos/ denunciados ou terem sua “identidade secreta” revelada publicamente. Numa sociedade que ainda engatinha na área dos direitos humanos, é bastante razoável que uma pessoa tenha medo de ser excluída do convívio social, além de outras retaliações possíveis, em função da sua transgeneridade. A transfobia existente na sociedade em geral é sabidamente uma das mais graves e permanentes ameaças à segurança e ao bem-estar das pessoas transgêneras. As histórias de crossdressers mal-sucedidos mostram como pessoas “de bem” deixaram de ser respeitadas como cidadãs, amadas como pessoas e privadas de ganhar a vida decentemente, em função da “transfobia dos outros”. Entretanto, o que é mais nítido em tais histórias é a própria “transfobia” dos protagonistas, caracterizada por sua baixa auto-estima, sua ostensiva desqualificação da condição transgênera e até mesmo seu reconhecimento de que “os outros” estavam certos em repudiá-los, tripudia-los e condena-los pois, afinal de contas, eles estavam errados…
Ora, quando os próprios crossdressers se tornam os primeiros a condenar seu “crossdressing” significa que a auto-estima do grupo atingiu o fundo do poço e a transfobia o cume da montanha. Em vez de histórias de insucessos, decepções e desditas, de cunho altamente homofóbico e que apenas reforçam a dissimulação e a repressão de algo totalmente natural, vamos contar histórias de pessoas transgêneras que superaram o medo e o preconceito e se afirmaram como pessoas dignas de amor, respeito e admiração dentro da sociedade.
Em vez de histórias sombrias de pessoas que se escondem até de si próprias, envergonhadas e repudiando a sua própria natureza, vamos contar histórias de gente que deixou o armário e vive uma vida digna e respeitável como qualquer outro cidadão ou cidadã decente.
É impossível esconder indefinidamente uma parte tão essencial de si mesmo sem causar grandes transtornos, sofrimentos e danos, físicos e psíquicos, a si próprio. Qualquer pessoa transgênera vai se sentir infinitamente melhor, mais confortável e mais confiante quando revelar ao mundo o seu “grande segredo”.
Ser crossdresser não é crime. Temos o direito de revelar nossa condição transgênera a quem desejarmos, sem que isso jamais represente pontos a menos na nossa reputação ou provoque um tsunami na nossa vida pessoal e profissional. Mas, pela mesma razão de que não constitui delito, estamos igualmente dispensados de “ter que confessar” nossa condição diante de delegado, juiz, chefe ou colega babaca ou esposa preconceituosa e mal-informada.
A tentativa de manter “sigilo absoluto” na prática do crossdressing pode resultar em conseqüências totalmente opostas às desejadas. Pessoas transgêneras que ocultam a sua condição tornam-se ainda mais vulneráveis a uma súbita e precipitada revelação pública do seu status.
Em lugar do medo permanente e absurdo de ser “exposto” ou “descoberto” na condição de transgênero (transfobia de último grau) tod@s nós devíamos erguer a cabeça e falar de nós mesm@s como as pessoas muito especiais que somos.
O maior aliado que nós transgêner@s podemos ter contra a transfobia – a nossa própria e a dos outros – é sentir e demonstrar orgulho de ser o que somos. Permanecer no armário não ajuda ninguém; é uma forma totalmente inconveniente de “proteção”, que inúmeras vezes termina em “descobertas indesejadas” e até em suicídio.
A saída do armário é a mais notável prova de auto-amor e de auto-aceitação por nós mesm@s, que nos leva a superar a vergonha de ser “diferente” e descobrir razões para sentir orgulho de ser transgênero.

Sem Medo de Parecer Mulher

Ninguém pune uma mulher por ela se comportar como um homem. Pelo contrário, mulheres que desempenham papéis até ontem considerados exclusivamente masculinos são cada vez mais prestigiadas na sociedade.
Só o homem continua se envergonhando de parecer com a mulher, manifestação típica do macho da espécie que, por milênios considerou-se e foi respeitado como rei absoluto da natureza.
Até praticamente o início do século XX, ser mulher era sinônimo de ser escrava do homem, tendo que viver sob sua tutela, sem nenhum direito a ter uma vida própria. Depois das lutas da mulher pela emancipação – quase todas ganhas, e bem ganhas, até agora – é o homem que está sofrendo os efeitos da mão pesada da repressão social, que o mantém sitiado dentro das estreitas normas de conduta do gênero masculino onde, para ser reconhecido como homem não basta ter nascido macho, mas parecer homem, agir como homem, vestir-se como homem, pensar, sentir (sentir?) e até morrer como homem, 24h por dia, 365 dias por ano, de “mamando a caducando”.
Na cultura patriarcal-machista que tem imperado pelos últimos 10.000 anos, “ser e parecer homem” significa, essencialmente, “não ser e não parecer mulher”. O homem sempre se definiu a partir da negação e da repulsa, em si mesmo, de todo e qualquer traço de “mulheridade”, por assim dizer. Se a mulher tem ou faz isso, um homem terminantemente não pode ter nem fazer – nem isso, nem qualquer coisa semelhante. Ser homem é ser o oposto da mulher em todos os sentidos, por mais absurda que seja essa idéia. Apesar do disparatado da idéia, a rígida divisão dos gêneros masculino-feminino, com um sendo o oposto do outro, funcionou a contento enquanto os espaços sociopolíticoeconômicos foram mantidos bem delimitados, com os papéis de homem e de mulher claramente definidos. A coisa pega exatamente a partir do momento em que a mulher sente-se livre para exercer papéis antes exclusivos do homem, para vestir-se como homem quando bem lhe aprouver, para substituir o homem num sem número de atividades nas quais ele se julgava insubstituível. Nessa hora o homem ficou totalmente sem referências para definir-se, já que não há mais um perfil estável de mulher para ser negado.
A Revolução Feminista veio complicar tremendamente a vida desse personagem patético chamado “homem”, cuja “existência” até então se dava essencialmente em função da “inexistência” da mulher. Com os movimentos de liberação feminina, praticamente tudo o que a mulher não tinha ou não fazia ela passou a ter e a fazer, estabelecendo com o homem uma insuspeita (e totalmente inoportuna e indesejada) “igualdade de direitos”. Ao tornar-se “igual ao homem” a mulher fez muito mais do que tomar posse do que sempre lhe pertenceu de fato e de direito: – ela detonou a definição de homem como alguém que não tem e não faz nada do que uma mulher tem ou faz. Mandou para os ares o conceito de homem firmado a partir da negação e do repúdio a tudo que fosse considerado como “feminino” no comportamento do macho.
Um grande vazio institucional está criado: – se agora a mulher já pode tudo e já faz tudo o que um homem faz, em função de que sobreviverá daqui para frente o conceito de homem? A coisa é ainda mais grave se observarmos que a própria tecnologia, basicamente “inventada” pelo homem tornou-se fortíssima aliada da mulher, ao permitir a ela “dispensar” a participação do homem até mesmo na concepção dos filhos… São cada vez mais claras – e mais assustadoras – para o homem as conseqüências do fim das prerrogativas absolutas do gênero masculino.
A supremacia da mulher é uma realidade incontestável. Mesmo porque, a mulher “é” e sempre será a mãe, a geradora de tudo. Pai, como outros tantos papéis sociais do homem, não passam de meras ficções culturais.
A transgeneridade pode ser um passo adiante na redefinição do que será o homem na sociedade surgida após a revolução da mulher. Homens que imitam – e saboreiam – o comportamento feminino com a mesma naturalidade que as mulheres imitam o comportamento dos homens. Homens que se vestem de mulher, com muita graça, beleza e nenhuma vergonha do que estão fazendo. Homens desvinculados da brutalidade do gênero masculino, que descobrem a graça do gênero feminino e se orgulham de incorporar esses valores à sua própria personalidade. De homem.

Devo Contar À Minha Esposa?

“Devo contar à minha esposa sobre o meu crossdressing? Tem jeito de fazer isso sem magoá-la profundamente? Serei aceito? Serei rechaçado? Ela me expulsará da vida dela, maldizendo a hora que me conheceu? Fará escândalo? Contará para todos os nossos amigos que eu sou um homem que gosta de se vestir de mulher? Nossa relação terminará ali mesmo, no momento em que eu me confessar, sem nenhuma chance de continuidade? Diante dessas “inevitáveis catástrofes” não é melhor manter a coisa toda escondida, sem ela saber?”
Questões como essas atormentam a vida de praticamente todo CD que vive em relações matrimoniais ou tem namoradas firmes, de longa data, com as quais aspiram até mesmo casar-se. Por ser o crossdressing um dos maiores estigmas ainda existentes na nossa sociedade, fortemente repelido pelos valores tradicionais, todo crossdresser se sente, na sua intimidade, como um transgressor da “ordem natural das coisas”, por assim dizer. Nessa condição, o sentimento predominante é uma profunda “menos-valia”, uma visão de si mesmo como sendo uma pessoa inadequada para o convívio com “pessoas sadias e normais”. Medo, vergonha, incerteza e culpa são conhecidas companheiras de todo crossdresser.
É daí que vem o medo absurdo de se “confessar” às esposas e namoradas que, na cabeça de um crossdresser, pode ser equivalente a declarar-se culpado de um crime hediondo, gravíssimo, indigno de compreensão e perdão por parte de quem quer que seja.
Assim, quando muitos crossdressers dizem que jamais contariam às suas esposas porque elas reagiriam com repúdio, ódio e total inaceitação, na verdade estão apenas confessando a maneira como eles próprios reagem diante do seu crossdressing ou seja, com repúdio, ódio e total inaceitação. Nesse caso, a expectativa da reação que esperam por parte das suas esposas e namoradas apenas reflete a sua própria auto-estima rebaixada, o seu próprio senso de inadequação frente ao crossdressing.
O primeiro passo para eu conseguir revelar-me para minha esposa, sem temer as reações que ela possa ter, é ser capaz de me aceitar como crossdresser, sem temer as minhas próprias reações. Caso contrário, pode ser que eu simplesmente esteja transferindo para ela a minha própria dificuldade de me aceitar.
Se, na minha cabeça, o ato de me travestir é de alguma forma algo impróprio, feio, nocivo, imoral e pecaminoso, é inevitável que eu pense que é assim que os outros também irão pensar. Dificilmente eu vou imaginar que exista alguém capaz de compreender e aceitar em mim uma condição que eu mesmo repudio.
Comigo aconteceu exatamente assim: – eu repudiava tanto a idéia de ser crossdresser que imaginei que minha mulher ia me botar pra fora de casa quando eu lhe contasse. Por isso mesmo, antecipei-me à suposta reação dela e eu mesmo fui. Querendo pelo entender o que estava acontecendo comigo, pra eu ter saído de casa daquele jeito, ela foi atrás de mim. E aí, eu acabei contando tudo pra ela. O problema é que a reação dela foi completamente outra, ou seja, de muito acolhimento e fazendo um grande esforço para compreender e aceitar o que eu acabara de lhe revelar como sendo uma parte muito antiga e muito reprimida do meu ser. Dei sorte demais, porque, em virtude da minha baixa auto-estima em relação a ser crossdresser, eu podia ter jogado fora a melhor relação e a melhor pessoa que eu jamais conheci em toda a minha vida.
 Em virtude da traumática separação dos meus pais, meus antigos conflitos de gênero conseguiram romper o duríssimo cerco que eu lhes havia imposto e invadiram minha vida de modo definitivo e arrasador, depois de permanecerem décadas como um vulcão aparentemente extinto. De uma forma ou de outra, eu os revelaria para minha mulher, sempre, ao primeiro sinal de que o crossdressing estava tomando, de novo, a oposição de grande destaque que já tinha ocupado em meu corpo, em minha mente e em minhas emoções. Revelaria, sim, porque acredito que a confiança é a base de uma relação a dois. Quando não existe confiança, não existe intimidade. E sem intimidade, a coisa pode ser tudo, menos casamento, no sentido de uma relação sólida, viva e verdadeira entre duas pessoas.
“Contar” não quer dizer que a mulher TENHA QUE aceitar o crossdressing do marido embora, na minha opinião (e de todas as mulheres do meu círculo de amizades…), conviver com um homem feminino, fina e elegantemente vestido de mulher, é algo muito mais sensual, saudável, gostoso e sedutor do que aturar as exigências de um machão grosso, rude e ignorante.
Nunca me vi no direito de trair unilateralmente a relação com a minha mulher no que quer que fosse, ainda mais ocultando dela um lado tão essencial da minha personalidade (ou não é?). E além disso, a decisão de esconder da minha mulher o lado feminino da minha personalidade, implicaria em sufocar ainda mais a minha já tão judiada “mulher interior”, condenada a viver trancada dentro de mim, nas sombras, feito alma penada, desde que eu me entendo por gente.
Imagino toda a energia vital desperdiçada para se encontrar subterfúgios, esquemas, explicações, meias-verdades e desculpas, a fim de manter o meu crossdressing oculto da minha mulher! É muita perda de tempo, muita estratégia inútil, muita adrenalina – e nenhuma satisfação, a menos que a pessoa tenha uma particular atração por filmes de suspense… Na verdade, existe mesmo crossdressers cujo prazer maior vem exatamente de sentir que estão fazendo algo proibido e às escondidas; algo que, se revelado ao mundo, perderia toda a graça e o sabor de “aventura”. Sinceramente, não acho graça nenhuma em ser a “parte perseguida” numa eterna seqüência de perseguição. Ainda mais se eu tivesse que pensar o tempo todo que a “parte perseguidora” era minha mulher!
A ocultação para a esposa tem conseqüências piores. É uma frustração muito grande eu não poder me movimentar de forma mais natural dentro da minha própria casa. O impedimento ostensivo de expressar minha feminilidade acaba gerando mágoas e ressentimentos profundos que vão se manifestar na vida do casal sob a forma de brigas, cobranças e disputas, cada vez mais tolas e sem sentido. O sofrimento psíquico é assim inconscientemente imposto à companheira sem ela nem ao menos saber que a fonte de tanto stress doméstico é crossdressing do marido. É assim que muitos crossdressers acabam precipitando a separação que tanto temiam acontecer caso eles se revelassem às suas companheiras.
As estatísticas mostram que, embora a rejeição seja possível, na maioria das vezes os crossdressers que se revelam para suas cônjuges são surpreendidos por um elevado grau de compreensão e aceitação, muito além do que esperariam receber em suas melhores expectativas.Mesmo que muitas não se sintam à vontade, pelo menos de início, de participar do crossdressing de seus maridos, são raras as mulheres que reagem de maneira francamente hostil, injurioso e aversivo. Reações desse tipo são justamente mais comuns quando os maridos passam anos e anos se travestindo – e fazendo programas – sem que elas saibam, ou quando ficam sabendo através de terceiros ou por ocorrências fortuitas, como a descoberta de uma insuspeitada mala com roupas de mulher no porta-malas do carro do marido.
Também é verdade que algumas vezes a revelação pode resultar em divórcio. Mas o que se tem observado é que, de qualquer modo, esses casamentos já não andavam muito bem das pernas em inúmeros outros aspectos. Em outras palavras, o crossdressing jamais poderá ser apontado, sozinho, como motivo absoluto de separação do casal. Ninguém como a mulher de um crossdresser se enquadra melhor na definição de Emerson, quando ele dizia que “esposa é alguém com quem eu posso ser sincero”. Crossdressing é basicamente uma atividade solitária e que gera muita solidão. Se a esposa do crossdresser não puder ser sua amiga, tampouco estará qualificada para ser sua esposa. Nesse caso, a separação é melhor do que uma convivência insincera e forçada.
Mas é também graças à extraordinária compreensão e aceitação das esposas, as chamadas S/Os, ao seu “amor incondicional” pelos cônjuges, que muitos crossdressers conseguem não apenas obter uma melhoria substancial nos seus próprios níveis de auto-estima e auto-aceitação, mas, principalmente, sobreviver às piores crises existenciais. Meu caso.
O que é que vou dizer pra ela
Uma coisa fundamental, antes de compartilhar com nossas companheiras o grande segredo das nossas vidas, é saber exatamente que segredo é esse: – de que se trata, como se manifesta, que fins objetiva alcançar.
Muita gente, nessa era de comunicação rápida e fácil de Internet, de repente resolve “se achar” crossdresser porque “achou bonito” ser. Infelizmente, a longo prazo, há pouca “boniteza” e muita coisa confusa e complexa no crossdressing para alguém se auto-intitular crossdresser de modo tão leviano, na base do impulso, do deslumbramento e do oba-oba.
Um passo fundamental, portanto, antes de se abrir com a companheira é saber realmente quem você é nessa história de crossdressing e onde se situa. De repente, tudo que o sujeito faz é vestir uma calcinha de vez em quando e participar de um chat na Internet, altas horas da noite. Isso é ser crossdresser? Vale a pena uma angustiante revelação à esposa de uma coisa dessas? Ora convenhamos que é algo muito pequeno para merecer qualquer tipo de estardalhaço.
A maneira como a mulher vai reagir à revelação do marido ou namorado resulta, em grande parte, de como este lhe informa a respeito do que é ser crossdresser. Alguns maridos, buscando amenizar o estigma existente sobre homens que se vestem de mulher, dizem que travestir-se, para eles, é apenas um passatempo, uma forma de se livrarem do stress, de fazer algo “fora da rotina” de vez em quando. Embora seja uma fórmula simples e pouco comprometedora do CD se revelar à esposa, reduzir ou desqualificar a importância do crossdressing em sua vida pode acabar se revelando um péssimo expediente, a médio e longo prazo. Se o indivíduo é realmente um crossdresser, a mentira vai começar a aparecer logo na primeira crise de “urge” (montar ou morrer) ou quando sua mulher interior começar a botar as manguinhas de fora, nas horas mais “impróprias” e “inconvenientes”, como quando estiver na cama com a esposa e der vontade de transar ocupando o papel feminino da relação…
Outros crossdressers resolvem revelar-se somente na hora em que suas mulheres descobrem roupas femininas nos seus armários e, naturalmente, lhes pedem explicações. Aí o cara vai ter que lhe convencer que não se trata de outra; que “a outra”, no caso, é ele mesmo. E já que não existe “outra”, em cima de quem você acha que essa esposa vai descarregar sua raiva? Ou quando chega aos seus ouvidos, através de uma fofoca, ou aos seus olhos, numa foto insuspeita, a notícia pouco alvissareira das “reinações” do marido no mundo trans… Aí, então, é que a coisa pega mesmo e dessa vez não vai ser nem necessário perguntar quem é a outra: – a esposa já viu na foto quem é.
Devemos ter claro como crossdressers que nós somos muito mais do que as nossas roupas. Se alguém acha que seu crossdressing está somente nas suas roupas, ficará melhor classificado como fetichista, não como crossdresser. O principal aspecto da conduta crossdresser é que, a despeito de termos nascido homens, sabe-la lá porque cargas d’água, nos identificamos profundamente com valores, comportamentos e atitudes convencionados pela sociedade como próprios da mulher. Entretanto, para um verdadeiro crossdresser, a roupa, a maquiagem, a produção esmerada, é apenas um meio de auto-expressão – não um objetivo final.
Poder experimentar interiormente o outro sexo e buscas maneiras de expressa-lo externamente faz de nós criaturas muito especiais, completamente fora dos padrões convencionais. Como diz a minha amiga transgênera Diana Maria, uma esposa ou namorada que não compreender isso não merece desfrutar da companhia de um crossdresser. pois o que ela acha ser maldição, transgressão, ou desgraça é, na verdade, uma grande bênção dos céus!!!
Um crossdresser deveria apresentar sua mulher interior para a esposa como um bem precioso, uma dádiva do céu, um presente muito especial que Deus lhe concedeu.
Entretanto, por causa do estigma social de homem vestir-se de mulher, a maior parte dos crossdressers tendem a apresentar o seu lado feminino para a esposa sob a influência de um tremendo sentimento de vergonha e culpa, com a sua auto-estima “lá em baixo” e esperando que ela reaja de modo totalmente hostil. A pergunta aqui muito simples, e já foi formulada anteriormente é “como minha esposa poderá me aceitar se eu próprio imagino estar fazendo uma coisa má, feia, errada e pecaminosa sob todos os aspectos e pontos de vista?”
O mais importante de tudo, ao nos revelar para nossas esposas, é nos colocarmos NO LUGAR DELAS, abordando com ternura e coragem aqueles que são sempre os seus maiores temores. O mais comum de todos é de que a gente seja gay (e muitos de nós realmente somos, ora essa!) ou transexuais (e muitos de nós acabam sendo, não há como negar!). Esses assuntos devem ser abordados com nossas esposas o mais cedo possível, com toda clareza e sinceridade, sem rodeios ou subterfúgios de nenhuma espécie. Da mesma forma, as preocupações que elas apresentam quanto aos filhos, emprego, saúde e objetivos de vida devem ser colocadas na mesa e discutidas em todos os seus detalhes.
Toda mulher fica com muito medo das represálias sociais que podem recair sobre ela e os filhos pelo fato do seu marido ser um crossdresser. A grande maioria das esposas de crossdressers não escolheram estar nessa situação e vão precisar de um tempo para se adaptar a ela, de que modo for. Nesse período, será indispensável que tenham o apoio e a compreensão do seu marido crossdresser. Muitas poderão precisar até mesmo de ajuda profissional especializada para encontrarem novamente o seu “fio da meada”. O mais importante de tudo É NÃO FAZER DRAMA, já que o cenário preenche todos os requisitos para enredos trágicos. É preciso que a gente compreenda a nossa condição de crossdresser COMO UMA CONDIÇÃO QUALQUER, DAS INÚMERAS CONDIÇÕES QUE UM CASAL TEM QUE ENFRENTAR NO CURSO DA SUA VIDA EM COMUM, E NÃO COMO UM “DEUS NOS ACUDA”, QUE VAI DEMOLIR TODA A POSSIBILIDADE DE VIDA MATRIMONIAL. Se alguém tiver dúvida disso, basta substituir acima a palavra “crossdresser” pela palavra “alcoólatra”, “desempregado”, “doente mental”, “paciente terminal”, etc, que o texto fará sentido da mesma forma, às vezes com muito mais sofrimento e repercussões sociais bem mais desagradáveis do que no nosso caso.
Que tipo de marido eu posso ser, sendo crossdresser?
Em todos os fóruns CDs de que participo, sempre aparece alguém afirmando que a mulher do crossdresser tem o direito de exigir o homem com quem casou. Isso significaria que, revelando-se crossdresser, o marido deixa de preencher algum requisito indispensável para permanecer casado, restando-lhe, portanto, apenas separar-se e ir viver sozinho, se virando como puder. Trata-se, evidentemente, de duas grandes tolices.
Primeiro, que ninguém permanece a vida inteira sendo a mesma pessoa, nem do ponto de vista físico, que é o mais evidente, nem do ponto de vista mental e emocional. As pessoas mudam – e mudam muito – mesmo quando não estão dispostas a reconhecer isso prontamente. E todo mundo sabe que isso é uma verdade irrefutável. Assim, nenhuma mulher tem o direito de exigir que o marido permaneça sendo exatamente igual à pessoa com quem ela se casou, mesmo porque, a essa altura, ela também não é mais a mulher com quem ele se casou.
A segunda tolice é que, ao contrário do que acreditam algumas pessoas preconceituosas e mal informadas, os crossdressers constituem uma classe de maridos (e pais) que as mulheres reconhecem ser bem melhores do que a média de maridos machões existente no mercado. Do ponto de vista da sexualidade, as mulheres que continuam junto com seus maridos crossdressers são praticamente unânimes em afirmar que, depois da revelação, eles se tornaram melhores na cama, amantes altamente refinados, mais pacientes, sensuais, atentos e capazes de satisfazer os desejos mais secretos de uma mulher.
Falando claramente, as mulheres, pelo menos as mulheres independentes e amadurecidas que constituem hoje em dia uma expressiva parcela da população, têm expressado em todas as pesquisas uma preferência absoluta por HOMENS MAIS FEMININOS. Homens delicados, sensíveis e empáticos, sem os rasgos de arrogância e superioridade do HOMEM TRADICIONAL. Essas mulheres apreciam homens que se cuidam – e que sabem cuidar. Apreciam o humor e o gozo estético. Sobretudo, essas mulheres apreciam fazer SEXO DE QUALIDADE em companhia de PESSOAS DE QUALIDADE, sejam homens ou mulheres.
Diante dessa nítida e visível “tendência de mercado”, nós, CROSSDRESSERS, estamos com a faca e o queijo na mão, se quisermos ficar com nossas mulheres. Não há porque NOS VENDERMOS A ELAS COMO PRODUTO REFUGADO DO MACHISMO DECADENTE QUE INFESTA ESSE MUNDO. AO CONTRÁRIO, SOMOS O QUE O MACHISMO PRODUZIU DE MELHOR, POIS FOMOS FEITOS DA COSTELA DE EVA…
Em todos esses fóruns, também há sempre uma pessoa colocando em dúvida a real aceitação de uma esposa do travestismo do marido: – OK, ela pode até estar aceitando agora, mas em nome de que ela o faz, quanto disso ela é capaz de tolerar e até quando vai suportar essa história? Mais uma vez, o que essas pessoas preconceituosas não vêm é que questões como essa são pertinentes a qualquer aspecto ou evento de uma relação matrimonial, não sendo de maneira nenhuma “exclusivas” de casamentos onde o marido é crossdresser. Situações como a transferência do marido para uma outra cidade, por força do seu contrato de trabalho, ou até a descoberta de um “caso” extra-conjugal, encaixam-se perfeitamente no mesmo tipo de dúvidas acima. Contudo, as mentes preconceituosas e “mal-informadas” (melhor seria dizer “mal-intencionadas”…) continuam vendo o crossdressing como se fosse O TRAVESTISMO FOSSE RESPONSÁVEL PELOS MILHARES DE CASAIS QUE SE SEPARAM TODOS OS DIAS NESSE MUNDO… E o pior é que tem gente demais acreditando em mais uma bobagem dessas, das muitas que são ditas quando o assunto são os crossdressers casados.
Nada desagrada mais uma mulher do que um homem que permanece homem em todos os sentidos, exceto na roupa, no sapato de salto, na meia de seda e na peruca que está usando. O tipo de crossdresser que mais dificilmente será aceito pela esposa é justamente aquele que tenta manter todos os velhos padrões de machismo na sua vida conjugal. Nesse caso, a contradição fica forte demais para ser engolida pela esposa. Uma esposa de crossdresser declarou que um dos principais motivos dela odiar o crossdressing do marido era que, antes, ele se assentava diante do aparelho de TV e ficava tomando cerveja e assistindo futebol e agora se assenta diante do espelho e fica se maquiando ou desfilando pela casa, exibindo seus novos vestidos. Ou seja, ela não ganhou uma nova companheira, mas simplesmente continua a ter o velho companheiro arrogante e displicente de sempre.
Em vez de tentar convencer ou impor nosso modo de vida às nossas esposas, é mais interessante tentar participar com elas das atividades ditas tipicamente femininas. O mundo tipicamente feminino inclui cozinhar, costurar, decorar a casa, limpar, cuidar, conversar longamente com as amigas sobre intimidades e trivialidades. Um investimento nesse aprendizado permitirá ao crossdresser “estreitar suas relações” com o mundo da mulher, levando o seu travestismo a adquirir novos horizontes, muito além do simples ato de vestir-se como uma mulher e imitar seu gestual.
Atitude Feminina é algo muito mais amplo e mais importante do que a simples aquisição e aperfeiçoamento do modo de vestir e do gestual feminino. Atitude Feminina implica, além daqueles itens tão prosaicos enumerados no parágrafo anterior, no desenvolvimento de um senso estético mais apurado, no cultivo de uma inclinação para a arte, envolvendo a música, a dança, a literatura. Nossas esposas serão muito mais cooperativas se perceberem que ganharam uma amiga para as compras da casa, para o cuidado com os filhos, para a escolha da roupa que vão usar. Se isso acontecer, é provável que elas lamentem muito pouco a perda daquele antigo machão, que não agüentava esperar por elas do lado de fora da loja de calçados femininos. Agora, ele entra, opina e, se elas deixarem, acabam levando mais um par de scarpins para a sua coleção…
Relacionamento Sexual com a Esposa
Devemos lembrar que um dos maiores medos das nossas esposas é o de perder o companheiro de cama depois que ele revela ser crossdresser. Todas elas ficam profundamente assustadas com a idéia de que o marido pode acabar se decidindo por fazer uma cirurgia e mudar de sexo. Embora isso quase nunca aconteça com a maioria absoluta dos crossdressers casados, mesmo assim muitas esposas não gostam de se sentir como lésbicas – que não são – e se queixam de não estarem sendo bem atendidas nos encontros amorosos com seus maridos. De repente, eles passaram a cobrar delas que fiquem permanentemente por cima durante a relação ou se recusam, de modo sutil ou direto, em fazer-lhes aquelas longas e deliciosas preliminares que para uma mulher tem mais valor até do que a própria penetração.
Que pena perder terreno até mesmo num território em que, para todos os efeitos, deveríamos saber nos movimentar com o máximo de desenvoltura pois, sentir-se mulher implica, acima de tudo, em penetrar fundo nos segredos da sexualidade feminina! Uma sexualidade lindamente difusa, espalhada por todo o território do corpo, e completamente diversa daquela sexualidade pontual, exclusivamente genital, a que os homens estão acostumados.
Afirmo que boa parte, senão a maior parte, do treinamento crossdresser, consiste justamente em aprender a gozar como uma mulher. Se o cara aprende isso – que eu considero como um dos aprendizados mais difíceis e demorados de se obter, tanto para o homem quanto para as próprias mulheres genéticas – então o seu relacionamento sexual com a esposa fluirá como um rio de corrente caudalosa em direção a um oceano de prazer como o casal nunca experimentou antes!!! Porque não serão duas mulheres na cama, esperando que uma faça à outra o que a outra espera que a uma lhe faça. Será um homem fazendo com uma mulher o que apenas homens femininos (crossdressers, com certeza!) são capazes de fazer. E, ao fazer com ela, o CD claramente lhe ensina o que espera que ela lhe faça, tendo em vista a sua condição assumida de mulher não-genética. E antes que algum obstinado “cultor do pênis” venha correndo dizer alguma besteira, é preciso dizer que, numa relação assim, pinto é a última coisa que importa!!!
Afinal, Conto ou não conto?
Se você me acompanhou até aqui, viu que a minha posição clara e objetiva é “contar, sim, sempre!”, e o mais rápido possível, se você ainda não fez até agora e já está praticando crossdressing há mais tempo. Esconder da mulher ou praticar escondido é um jogo de alto risco, que estatisticamente tem muito probabilidade de por por terra a relação matrimonial do que uma revelação sincera e honesta do marido. Lembre-se que, sentir-se traída na confiança que depositou no marido um sentimento muito pior e muito mais difícil de se lidar do que sentir-se com medo de uma situação nova e desconhecida que apareceu na vida do casal. Agora, para que haja um desfecho no mínimo saudável, onde a gente tenha as melhores chances de sair inteiros, crescidos e melhorados, é necessário que a gente se prepare, nos aprofundando cada vez mais no entendimento e aceitação, em nós, desse fenômeno estranho, mas muito lindo e abençoado, que nos leva a querer nos expressar como mulher.
Comunicação é um permanente exercício de empatia com o outro. É por isso que as mulheres entendem as mulheres muito melhor do que entendem os homens ou são entendidas por eles. Se a gente realmente se considera TÃO MULHER como acha que é, então será até fácil a gente conversar com a nossa. Nada pode ser mais eficaz, ao revelarmos para elas o nosso crossdressing, do que FALAR COM ELAS DE MULHER PARA MULHER, COMO SE FÔSSEMOS VERDADEIRAMENTE MULHERES – E NÃO DE HOMEM PARA MULHER OU DE HOMEM PRA HOMEM (o que pode ser ainda mais desastroso).
Para isso, basta empregarmos a linguagem que elas mais entendem, que é a linguagem do sentimento, da sensibilidade, da emoção, da ternura, do amor. Se nos comunicarmos com o CORAÇÃO – e não com a cabeça, como manda o figurino do macho – TEREMOS INFINITAMENTE MAIS CHANCES DE QUE ELAS NOS COMPREENDAM, AINDA QUE NÃO NOS ACEITEM (embora, acredito eu, seja muito difícil elas não nos aceitarem, nem que seja um pouquinho, se agirmos dessa forma).
Picasso, duas mulheres correndo na praia
Sendo honestos, verdadeiros e amorosos, sem apelarmos para o papel de vítima ou nos envaidecermos com fantasias impossíveis de que agora somos mulher e pronto, podemos ter a certeza de caminhar para desfechos muito menos dolorosos e mesquinhos no nosso relacionamento conjugal. Melhor é impossível pois, se continuarmos na relação, será com incríveis ganhos adicionais para ambos os cônjuges e, se sairmos dela, não será cheios de culpa, feito criminosos, de cabeça baixa e coração ferido, profundamente “mexidos” e frustrados. Será de cabeça erguida, como verdadeiros vencedores, que souberam respeitar suas próprias escolhas e as escolhas das suas esposas.

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