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terça-feira, 12 de junho de 2012

A Transfobia Oculta nas Histórias de CDs Que Se Deram Mal

Por mais paradoxal que pareça, a maioria das pessoas transgêneras sentem medo, culpa e têm vergonha de serem transgêneras, como repudiam o contato com outras pessoas transgêneras.
Embora o aparente progresso na aceitação e no respeito à diversidade humana, a maior parte das pessoas transgêneras ainda permanecem trancadas nos seus armários, apavoradas com o “inferno de Dante” que aguarda quem ousa assumir publicamente essa condição. A questão é que, mesmo nesses tempos de pós-revolução feminista, com o homem cada vez mais confuso e perplexo com o esvaziamento dos seus papéis e privilégios pela mulher, o travestismo continua sendo uma das mais graves transgressões contra a milenar instituição da “masculinidade”. Em pleno século XXI, o ultraconservador “catecismo machista” continua tratando crossdressing (travestismo) como uma coisa intrinsecamente má, doentia e socialmente reprovável.
Educadas nos moldes de uma sociedade que ainda é essencialmente patriarcal e machista, até as próprias pessoas transgêneras tendem a enxergar o crossdressing (travestismo) como prática vexatória, ridícula e pecaminosa; algo inteiramente desaconselhável e fora-de-questão para “homens de bem”. Assim, é um conflito muito grande para qualquer pessoa transgênera tentar atender, de um lado, o desejo avassalador de se expressar como membro do gênero oposto ao seu e, de outro, corresponder ao modelo de homem (ou de mulher) que nos é imposto pela sociedade em função do seu sexo genital.
Diante do impasse, e sem meios de se impor como indivíduo diferente da maioria, a solução adotada pela maior parte das pessoas transgêneras é “permanecer no armário”, em total segurança – e sofrimento psíquico, claro. Os mais “ousados” encontram uma dose extraordinária de coragem para fazer incursões solitárias ao “reino do proibido”, tentando expressar sua transgeneridade através do crossdressing. Mas muitos quase enlouquecem para manter tudo debaixo do mais estrito controle e sigilo, temerosos das terríveis represálias que poderão sofrer caso venham a ser descobertos usando roupas, calçados e adereços socialmente atribuídos ao gênero feminino.
O folclore transgênero é repleto de “histórias exemplares” sobre crossdressers que tiveram suas vidas transformadas num “vale de lágrimas” depois que se abriram para suas esposas, namoradas, chefes e colegas de trabalho ou tiveram sua “compulsão de se travestir” acidentalmente descoberta ou revelada de maneira intempestiva.
Obviamente, a “moral” de tais histórias, em vez de contribuir para melhorar a combalida auto-estima dos crossdressers, apenas reforça o ideário machista onde crossdressing (travestismo) aparece como uma prática absolutamente abominável sob todos os pontos de vista.
Sob o inocente pretexto de alertar os “neófitos” e ”desavisados”, quanto às gravíssimas conseqüências de se deixarem apanhar nas suas “identidades secretas”, histórias de crossdressers “que se deram mal” traduzem apenas o clima de total baixa-estima e auto-rejeição de pessoas transgêneras pela sua própria transgeneridade.
Tanto desprezo e aversão pela condição transgênera tem nome: – chama-se transfobia. Por mais paradoxal que pareça, existe transfobia – e muita – dentro do próprio grupo transgênero. De fato, a maioria das pessoas transgêneras sentem medo, vergonha, culpa e têm repúdio de serem transgêneras, assim como repudiam o contato com outras pessoas transgêneras.
Apontado como o segmento transgênero onde a transfobia é mais evidente, a maioria dos chamados “crossdressers” – “armarizados” e até mesmo “assumidos” – sente e demonstra uma incrível repulsa pela sua própria “compulsão para se travestir”. Ao contrário das travestis e transexuais, cuja sobrevivência no dia-a-dia depende da constante afirmação de “si mesmas” perante a sociedade, os crossdressers adotam uma postura totalmente dissimulada, de permanente negação, distância e ocultação do seu status transgênero. De uma maneira geral, são absolutamente relutantes em admitir prontamente a sua “compulsão para se travestir” exibindo, muitas vezes, um grau elevado de desprezo e desvalorização do próprio ato de se travestir. Fazem questão de reafirmar sua “masculinidade a toda prova”, conferindo às suas montagens um caráter de lazer, hobby e coisa totalmente passageira. Assim, ao mesmo tempo que relatam enorme conforto e prazer no ato de se travestir, vivem um intenso conflito para se livrar da culpa que sentem de ser “crossdressers”. Esse permanente conflito – de natureza notoriamente transfóbica – é o grande responsável pelos crossdressers não permanecerem travestidos em tempo integral (como as travestis e transexuais, de quem eles tanto se esforçam para se diferenciar…), assim como pelas gigantescas “urges” e “purges” que caracterizam a vida de um CD típico.
Uma forte manifestação da “transfobia” existente no meio transgênero, conveniente e cuidadosamente disfarçada de “prudência”, tornou-se, na verdade, uma das características mais representativas dos “crossdressers”. Trata-se do temor absurdo que a maioria dos crossdressers têm de serem vistos/ reconhecidos/ identificados/ descobertos/ denunciados ou terem sua “identidade secreta” revelada publicamente. Numa sociedade que ainda engatinha na área dos direitos humanos, é bastante razoável que uma pessoa tenha medo de ser excluída do convívio social, além de outras retaliações possíveis, em função da sua transgeneridade. A transfobia existente na sociedade em geral é sabidamente uma das mais graves e permanentes ameaças à segurança e ao bem-estar das pessoas transgêneras. As histórias de crossdressers mal-sucedidos mostram como pessoas “de bem” deixaram de ser respeitadas como cidadãs, amadas como pessoas e privadas de ganhar a vida decentemente, em função da “transfobia dos outros”. Entretanto, o que é mais nítido em tais histórias é a própria “transfobia” dos protagonistas, caracterizada por sua baixa auto-estima, sua ostensiva desqualificação da condição transgênera e até mesmo seu reconhecimento de que “os outros” estavam certos em repudiá-los, tripudia-los e condena-los pois, afinal de contas, eles estavam errados…
Ora, quando os próprios crossdressers se tornam os primeiros a condenar seu “crossdressing” significa que a auto-estima do grupo atingiu o fundo do poço e a transfobia o cume da montanha. Em vez de histórias de insucessos, decepções e desditas, de cunho altamente homofóbico e que apenas reforçam a dissimulação e a repressão de algo totalmente natural, vamos contar histórias de pessoas transgêneras que superaram o medo e o preconceito e se afirmaram como pessoas dignas de amor, respeito e admiração dentro da sociedade.
Em vez de histórias sombrias de pessoas que se escondem até de si próprias, envergonhadas e repudiando a sua própria natureza, vamos contar histórias de gente que deixou o armário e vive uma vida digna e respeitável como qualquer outro cidadão ou cidadã decente.
É impossível esconder indefinidamente uma parte tão essencial de si mesmo sem causar grandes transtornos, sofrimentos e danos, físicos e psíquicos, a si próprio. Qualquer pessoa transgênera vai se sentir infinitamente melhor, mais confortável e mais confiante quando revelar ao mundo o seu “grande segredo”.
Ser crossdresser não é crime. Temos o direito de revelar nossa condição transgênera a quem desejarmos, sem que isso jamais represente pontos a menos na nossa reputação ou provoque um tsunami na nossa vida pessoal e profissional. Mas, pela mesma razão de que não constitui delito, estamos igualmente dispensados de “ter que confessar” nossa condição diante de delegado, juiz, chefe ou colega babaca ou esposa preconceituosa e mal-informada.
A tentativa de manter “sigilo absoluto” na prática do crossdressing pode resultar em conseqüências totalmente opostas às desejadas. Pessoas transgêneras que ocultam a sua condição tornam-se ainda mais vulneráveis a uma súbita e precipitada revelação pública do seu status.
Em lugar do medo permanente e absurdo de ser “exposto” ou “descoberto” na condição de transgênero (transfobia de último grau) tod@s nós devíamos erguer a cabeça e falar de nós mesm@s como as pessoas muito especiais que somos.
O maior aliado que nós transgêner@s podemos ter contra a transfobia – a nossa própria e a dos outros – é sentir e demonstrar orgulho de ser o que somos. Permanecer no armário não ajuda ninguém; é uma forma totalmente inconveniente de “proteção”, que inúmeras vezes termina em “descobertas indesejadas” e até em suicídio.
A saída do armário é a mais notável prova de auto-amor e de auto-aceitação por nós mesm@s, que nos leva a superar a vergonha de ser “diferente” e descobrir razões para sentir orgulho de ser transgênero.
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