Para defender seus direitos, para se conquistar segurança, qualidade
de vida, e a manutenção do que a Constituição deste país garante a todo
cidadão, foi que mais de três milhões de homens e mulheres se reuniram
mais uma vez na maior Parada do Orgulho Gay do Mundo, em São Paulo,
neste último domingo. De acordo com dados, o Programa Brasil Sem
Homofobia, lançado no governo Lula, registra cerca de três denúncias
diárias por crimes de homofobia, e isto é grave, num país republicano,
que galga seus passos no caminho do progresso, desenvolvimento e
direitos humanos. Jovens de todas as idades, homens e mulheres, médicos,
motoristas, odontólogos, atores, músicos, empresários, servidores
públicos, carnavalescos, jornalistas, pessoas igual a você, estão
morrendo por conta de um preconceito tolo, insensato, e brutal, não se
trata de uma ideologia "religiosa", trata-se de preservar a vida.
Foi pensando na vida das pessoas, que o ex-secretário estadual de
Assistência Social e Direitos Humanos, Rodrigo Neves, deu visibilidade
ao Programa Estadual Rio Sem Homofobia.
As Paradas que começam a acontecer em mais um ano por todo o Brasil,
representam um marco de resistência, e merecem muito mais do que apenas o
brilho da festa, mas uma reflexão dos valores que nossa sociedade
defende, e quer para seus filhos. Logo, o carnaval carioca tem sim sua
parcela de responsabilidade, uma festa que atrai milhões de pessoas, é
um importante espaço para o diálogo e interação entre as diversas
orientações sexuais. Qual outra festa neste país, senão o carnaval do
Rio de Janeiro, poderia abrigar tantos gays, lésbicas, travestis,
transexuais, simpatizantes, tanto na produção, no acompanhamento, na
torcida, e execução, como nosso carnaval, cheio de vida, alegria,
simpatia, a cara do povo brasileiro, que se despe de toda forma de
preconceito, para conhecer novas culturas, histórias, e vidas, através
das escolas de samba, todos os anos.
Este ano perdemos a nossa querida Kayka Sabatella, é fácil lembrar
desta top drag carioca no carnaval da Beija-Flor de Nilópolis, por
exemplo, defendendo os trabalhos do maravilhoso coreógrafo Hilton
Castro, um exemplo de talento e dedicação. Lembro-me ainda com saudades
do carnaval de 2006, da Parque Curicica, homenageando a noite gay
carioca, uma festa de alegria e vontade, de mostrar o que há de mais
belo em nossas vidas. Grandes personalidades como Rogéria, Meime dos
Brilhos, Suzy Brasil, e tantos outros que representam muito bem os
LGBT’s. O carnaval deste país, teve ao longo de sua jornada a atitude em
se libertar de muitos feudos, pré-conceitos, marginalização e guetos.
É bom que se saiba que gay, é como qualquer outra pessoa, e não pode e
nem quer ser tratado de maneira especial, quer ser simplesmente
cidadão, igual a qualquer outro brasileiro heterossexual. A Parada Gay
de São Paulo abre sim um espaço democrático que mais um ano vai se
estender por todo Brasil, para análise e reflexão, porque homofobia tem
cura sim, e ela está fundamentada na criminalização.
Como sambista, não poderia deixar, ainda que seja acusado por alguns
de legislar em causa própria, de defender neste espaço a importância que
as escolas de samba, e neste contexto, o carnaval carioca tem, em
defesa da diversidade, em defesa da vida. Pessoas estão morrendo por
crimes de homofobia, e isto é muito grave, não dá para aceitar a
empreitada de alguns líderes em se firmar uma "guerra santa". Nós,
sambistas, amantes do carnaval carioca podemos sim, abrir tanto em
nossas escolas, como em nossa comunidade, um espaço para o debate claro
de ideias e propostas para que os direitos humanos possam valer para
todos.
Tornem estas mal-traçadas linhas, como de alguém que milita na causa
dos direitos humanos, que é um sambista apaixonado, que é igual a você, e
tem um sonho gigante de viver num lugar igual para todos, com os mesmos
direitos e deveres, e é este sonho gigantesco , que uno a minha maior
paixão, o carnaval carioca, para que possamos viver em paz, todos juntos
enfim.
Vale lembrar que a ONG Arco-Íris, realiza a Parada do Orgulho Gay do
Rio de Janeiro no dia 14 de outubro, na Orla de Copacabana, e todos,
desde já, estão convidados.