“Levei um susto! Foi uma total surpresa para mim, mas diferente da
maioria, o que me veio à cabeça naquele momento foi imaginar o
sofrimento da minha menina desde os 12 anos, idade em que se descobriu
lésbica, antes disso, ela só sabia que era diferente”.
O depoimento é de Angela Moysés, mãe de Thaís, de 21 anos. A jovem assumiu ser lésbica
aos 16 anos. Antes de saber o que estava acontecendo de fato, Angela
observava um comportamento estranho da filha - sempre calada, chorando a
toa e usando a desculpa que estava estressada pelo excesso de
atividades, que na verdade se tratava de uma válvula de escape.
“Um
dia, após chegarmos do cursinho, eu disse a ela que enquanto não me
contasse qual era o problema não levantaríamos da mesa. E foi aí que ela
me relatou que gostava de meninas e não de meninos”. Na mesma hora, a
mãe fez a seguinte pergunta: "Filha, você tem idéia de que seu caminho
será muito sofrido?" E ela respondeu: "mãe, se fosse opção você acha que
teria escolhido o caminho mais difícil para viver?"
A partir daí, Angela começou a ler sobre o assunto, além de se
preparar para falar com o seu marido e sua filha mais nova, Tatiana, que
na época tinha 13 anos. Para a sua surpresa, ele encarou a situação
normalmente. “Inclusive ele disse que iria entrar no mundo gay
pela porta da frente, de mãos dadas com ela e que não era necessário
continuar vivendo uma vida dupla. Nós queríamos conhecer as pessoas com
quem ela estava andando, e assim foi. Sabíamos que essa nossa postura
traria problemas - já sofremos com o preconceito - mas enfrentamos tudo
juntos”.
Angela passou a convidar amigos gays e lésbicas da filha
para a sua casa e percebeu que grande parte deles tinha histórias
tristes para contar. Certo dia, a filha trouxe uma cartilha do Grupo de
Pais de Homossexuais (GPH), ONG que promove reuniões presenciais ou
virtuais e conta com o apoio de psicólogos. Edith Modesto, a fundadora
do grupo, compilou alguns depoimentos e os reuniu no livro "Mãe sempre
sabe? Mitos e verdades sobre pais e seus filhos homossexuais", lançado
este mês.
“Foi um grande passo participar da ONG. Queria mostrar a
eles que é possível sim ter um filho ou filha homossexual e ser feliz. É
extremamente gratificante, principalmente quando conseguimos ajudar um
pouquinho aquela mãe que está um farrapo, destroçada, e que passa a
enxergar uma luz no fim do túnel!”, diz.
Sobre a falta de leis que reconheça a união de homossexuais
Angela é enfática: “Eles trabalham, pagam impostos, vivem toda uma vida
juntos e na hora que um deles morre, não há direito a pensão e nem a
herança. Isso é injusto. Temos que reconhecer de direito o que já existe
de fato!