O que eles levam para o divã? Quatro psicólogos falam sobre os temores
mais comuns do sexo masculino. Achar que o pênis poderia ser maior, ser
criticado e ter a relação terminada pela parceira são alguns deles.


“Não é o tipo de coisa que
eles falam socialmente, entre os amigos, mas na conversa surge”, diz
Marisa de Abreu, psicóloga clínica, sobre um dos medos dos homens que
costuma atender: o de ter muitas mulheres e não conseguir um
relacionamento sério com nenhuma.
Aos ouvidos de muitos caras,
este medo pode parecer uma piada e ir de encontro à imagem daquele
“macho alfa” rodeado de mulheres, mas Marisa afirma que embora eles
dificilmente admitam isso em uma mesa de bar, ele existe. “É o medo de
ter muitas garotas e não se apaixonar por nenhuma, ou seja, de que a
quantidade não ofereça uma pessoa com quem ele possa manter um
relacionamento de qualidade.” No fundo, soa mais como o medo de ficar
só.
E quando se trata de ficar
sozinho, a situação pode ser extremamente grave, segundo o psicólogo
Antonio Carlos Alves de Araújo, com 25 anos de experiência. “As relações
estão cada vez mais efêmeras, não aliviam a angústia. A rede social é
um passatempo, não vai eliminar o efeito da solidão porque não tem base
consistente, não é um amigo com história. Você vai eliminar o medo
quando tem uma história”, afirma.
Em seu consultório, Araújo
revela que boa parte de seus pacientes é do sexo masculino, opinião
compartilhada por outros dois especialistas, um em São Paulo e outro no
Rio de Janeiro, mas no caso de Marisa, isso não ocorre. “Não, a maioria
aqui é de mulheres. A proporção já foi bem maior há uns 15 anos, mas
elas são maioria. Às vezes tem aquela coisa machista de homem que é
homem resolveu seus problemas sozinhos.”
“Antigamente não tinha tanto
homem. Hoje em dia tem bastante, eu diria que é de igual para igual, e
tem crescido o número de adolescentes, entre 18 e 25 anos”, revela
Amaury Mendes, professor e médico do ambulatório de sexologia da UFRJ.
Ailton Amélio da Silva, psicólogo e professor da USP, acredita que eles
tendem a procurar por profissionais do mesmo gênero porque se sentem
mais à vontade: “Sendo outro homem, eles imaginam que serão
compreendidos, melhor acolhidos”.
Marisa pode ter menos
pacientes do sexo masculino que Antonio, Ailton e Amaury, mas ao serem
questionados sobre quais são os maiores medos que eles observam nos
homens, os quatro traçam panoramas parecidos – curiosamente, nem sempre
eles envolvem doença ou morte – que se complementam quando colocados
lado a lado. Veja quais são abaixo:
NU COM A MÃO NO BOLSO
“O homem é ligado à
identidade profissional dele. Na nossa cultura a identidade masculina é
muito definida pelo sucesso, e o grande medo deles é o fracasso na área
profissional. A autoestima vai para o brejo. Se a pessoa perde o emprego
e fica muito tempo sem, já começa a se deteriorar”, avalia Ailton. “O
maior medo não é nem doença e morte, é a pobreza, perder o emprego,
ficar em dívida, não pagar. É importante entender que as pessoas
adquiriram um padrão de vida que, comparado ao século passado, não se
imaginava. Isso traz um medo da perda”, completa Antonio.
SOLIDÃO
Autor de estudos sobre a
solidão, Antonio Carlos diz que um dos grandes temores do homem – e
possivelmente das pessoas em geral – é ficar sozinho. “As pessoas já não
querem casar tanto, não querem união estável. O pessoal quer ficar, e,
ao mesmo tempo, tem medo da solidão que bate. O maior índice de
suicídios acontece entre sexta e domingo, os dias em que há uma pressão
social para que você esteja com alguém. É um levantamento do Estado que
apenas profissionais têm acesso.”
TIMIDEZ E NÃO PODER FALAR “NÃO”
Para Marisa, a timidez
costuma ser um dos obstáculos para o homem na hora de tomar a iniciativa
em uma conversa com uma mulher. “Pega o homem para burro,
principalmente entre os mais jovens. A sociedade cobra aquele que não
toma iniciativa, que é menos proativo”, diz Ailton.
No entanto, quando elas tomam
a iniciativa, outro medo pode aparecer, de acordo com o professor da
USP, o de não poder “não”. “Existe um mito de que o homem tem que estar
sempre pronto, não pode falhar, tem que corresponder as expectativas
sociais. Ele se cobra, sente que não está funcionando, que não é tão
macho. Não pode.”
“Para alguns homens pode ser
extremamente incômodo porque eles acham que não podem recusar. O homem
generaliza, acha que mulher é mulher e acabou. Acha que não pode
recusar, que ela chegou, cantou, tem que comer. Mexe muito com a questão
da masculinidade, ele pensa que se recusar vão achar que ele é gay”,
analisa Amaury. No cenário levantado pelo especialista, eles se sentem
desconfortáveis ao serem abordados por elas, e vale aqui uma reflexão
que nada tem a ver com os medos masculinos e foi levantada recentemente
pelo site Olga e a campanha “Chega de Fiu Fiu”: quantas mulheres não se
sentiram incomodadas com a cantada que pode ter sido, na verdade, um
assédio da nossa parte? Pense um pouco nisso antes de seguir a leitura.
FIM DA RELAÇÃO
“O homem é mais dependente do
relacionamento que as mulheres. Nessa linha quem mais me liga aos
finais de semana é o homem, não as mulheres”, conta Ailton, que diz
manter um celular ligado o tempo todo caso os pacientes, quase sempre do
sexo masculino, se encontrem em situações de emergência. “Quem mais faz
uso são eles, ao contrário daquela imagem de durão. Com o terapeuta
eles sofrem.” O psicólogo afirma ainda que começa a sair com várias
mulheres após o fim de um relacionamento não é a solução: “Não é sinal
de força, é de fraqueza. Ele não suporta o vazio, essa porção de
encontros não preenche o vazio. Em 87% dos casos, segundo o IBGE, o
homem também perde a guarda dos filhos”.
E A TRAIÇÃO
“Com a independência feminina
o medo de ser traído também surge forte, pois antigamente a sociedade
repressora garantia a fidelidade da mulher”, analisa Marisa. Além da
“traição convencional”, Araújo ressalta que agora há também a pulada de
cerca no campo virtual.
“Cerca de 90% dos casos de
terapia de casal aqui são de infidelidade, e nem precisa ser no plano
real. O cara às vezes nunca transou com outra mulher, mas trocou e-mails
maliciosos. É um fenômeno moderno, de três anos para cá. O homem tem
esse medo, esse pânico porque é muito fácil hoje em dia. O engraçado é
que eles reclamam desses aplicativos, como Facebook e Tinder, mas não
saem deles”, diz Araújo. “Eu ria no começo. O pessoal fazia terapia por
causa de um e-mail. É para tanto? Quem está regulando a vida social das
pessoas é o Facebook.”
MEDO DA CRÍTICA
Na análise de Antonio Carlos,
as pessoas – ele não faz distinção de gêneros aqui – têm muito medo de
não serem aceitas no mundo corporativo ou social, trocam de carro – no
caso dos homens – a cada dois anos para agradar, e em alguns casos
chegam a ter um complexo de inferioridade. “Pessoas que podem ser ricas,
têm automóveis importados e não se julgam merecedores. Elas se sentem
culpadas por ter uma boa casa, apartamento, veículo, e passam esse
sentimento para quem está em volta, têm medo da crítica”, explica.
O psicólogo cita um exemplo
do meio artístico para exemplificar sua fala. “Pega a Karen Carpenter
(cantora dos anos 60 e 70). Eles eram certinhos, o Nixon os convidou
para tocar na Casa Branca, era um grande sucesso. Um dia disseram que
ela estava meio gorda, ela entrou em uma anorexia nervosa, morrendo em
1983. Opinião alheia tem um peso muito importante na autoestima. Aquela
eugenia de [Adolf] Hitler está aí. Quem não consegue corresponder a um
certo padrão dança. Pode ser famoso, rica, não tem aparato de
autoestima. Medo é questão do inconsciente, não vem de fatores externos.
Tem que trabalhar seu lado psicológico.”
“ISSO NUNCA ACONTECEU ANTES”
Segundo Amaury Mendes, não
importa a idade, o medo de falhar na hora H aflige todos os homens, com
uma tendência maior entre os jovens. “A gente tem visto uma geração de
meninos criados muito dentro de casa, com essa coisa do vídeo
(pornografia), a masturbação sendo uma prática constante. É masturbar e
gozar. Com isso os meninos acham que é sexo rápido ali, na festa, no
carro, em pé, rapidinho. Isso está fazendo com que muitos tenham
ejaculação precoce e disfunção erétil.”
“Quando a mulher era
submissa, duas gerações atrás, ela nem ousava dizer para o homem que
queria sexo oral ou anal. Hoje grande parte dos homens têm medo quando
ela diz isso, quando pede uma posição nova, eles pensam que ela já fez
isso, que ela está querendo que ele mostre o quanto ele é potente”,
completa o especialista.
TAMANHO É DOCUMENTO?
“O tamanho do pênis está
sempre presente. Está vinculado a ter uma maior ou menor masculinidade”,
diz Mendes. Segundo o ginecologista, “o grande valor do homem é o
documento”, a ponto de muitos darem nomes para os seus. “O Chico Buarque
comenta no filme ‘Vinicius’ que um pouco antes da morte do Vinicius, o
próprio Vinicius diz que se pudesse voltar da morte, voltaria exatamente
igual, mas com o pênis um pouco maior. Essa sensação [de achar que o
pênis não é grande o suficiente] de certa forma estimula uma inadequação
no momento do sexo. O homem fica pensando no pênis dele e que a
companheira também está pensando nisso.”