Como os gays saem do armário cada vez mais, ficar a fim de um ou até namorá-lo é bem frequente
Faz sete meses que o ator Bruno de Oliveira, 22 anos, e a estudante
de comunicação social Daniele Vasconcelos, 19, ficam juntos. Eles
conversam muito, dividem segredos e, na balada, se beijam e trocam
carícias. Mas os dois sabem que essa amizade colorida nunca vai se
transformar em relacionamento sério. O motivo? Bruno é gay. "Até os 18
anos eu namorava meninas, mas hoje sei que fazia isso só para que as
pessoas não suspeitassem de mim", diz ele. "Com a Dani é só curtição
mesmo! Nenhuma mulher vai me fazer deixar de ser homossexual, tanto que
nossa relação nem inclui sexo." Daniele, que é supertímida e não tem
muitos amigos, encara Bruno como seu maior companheiro. "Quando a gente
se beija não parece que ele é gay, mas quando a gente conversa sim. Se
ele não fosse, seria meu parceiro ideal... Mas ele é!"
Segundo um levantamento divulgado pela Universidade de São Paulo
(USP) no fim do ano passado, em cada grupo de cem homens brasileiros,
oito assumem-se homossexuais e dois, bissexuais. Esse percentual seria
muito maior, claro, se nele fossem encaixados os homens que se
relacionam entre si em segredo ou esporadicamente. Como o mapeamento das
preferências sexuais em números é recente, não há dados antigos para se
comparar aos de hoje. Mas estatísticas não são necessárias para
enxergar o óbvio: os homossexuais saem do armário cada vez mais e, com
isso, interessar-se ou apaixonar-se por alguém que gosta de pessoas do
mesmo sexo vem se tornando comum.
Apaixonar-se por um gay é comum O que dói é a mentira Curiosidade ou atração? Carol foi apaixonada por um professor Cecília namorou quase dois anos com um Será que ele é gay?
O que dói é a mentira
A professora de história Sara Villas, 29
(foto), namorou um gay por quatro meses. Ela estava se formando na
faculdade quando um amigo homossexual lhe apresentou um calouro "muito
gentil e lindo". O amigo estava interessado no sujeito, mas ele quis
ficar mesmo foi com Sara, que sabia, por outras pessoas, que o
pretendente havia tido experiência com homens. Ela bem que tentou
conversar sobre o assunto, em vão. "Até inventei que tinha interesse por
mulheres para ver se ele se abria", conta. "Do ponto de vista sexual,
eu me sentia completamente realizada. Mas me incomodava que o cara não
falasse a verdade. Acho que continuaria com ele, porque não tenho
preconceito e não estava atrás de um relacionamento sério na época."
Tempos depois que o namoro acabou, sem drama, Sara encontrou o ex em uma
boate GLBT (a sigla vem de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais).
Ele estava com outro homem.
Pesquisador do homoerotismo e professor da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG), Carlos Magno Mendonça está convencido de que cada
vez mais as pessoas vão se permitir realizar todos os seus desejos,
independentemente de rótulos. Vão experimentar mais. "As gerações mais
jovens não estão muito preocupadas com a identidade sexual, sua ou do
parceiro, e sim com o prazer", diz ele. "O prazer é a prioridade." Mas, e
a questão afetiva, como fica? Afinal, prazer é uma coisa, amor é outra.
O coordenador do Núcleo de Direitos Humanos e Cidadania GLBT da UFMG,
Bruno Leal, acredita que muitas mulheres se apaixonam por homossexuais
porque "O modelo masculino padrão - barrigudo e com chulé - faliu". Ou
seja, o gay, perfumado, bem-vestido e sensível, seria uma espécie de
"novo homem". "Elas querem alguém com quem possam compartilhar mais",
diz Bruno. "Por isso os homens estão mudando. O metrossexual nasceu
nesse contexto."
Apaixonar-se por um gay é comum O que dói é a mentira Curiosidade ou atração? Carol foi apaixonada por um professor Cecília namorou quase dois anos com um Será que ele é gay?
Curiosidade ou atração?
Curiosidade e vontade de "converter" um
homo em hetero aparecem no discurso das meninas que já viveram uma
paixão arco-íris. A vestibulanda Cléia Faria, 24, surtou ao descobrir
que o ex, com quem havia ficado por oito meses, tinha ido a uma festa
gay um mês depois da separação. "Quando estávamos juntos, várias pessoas
me alertaram sobre a homossexualidade dele, mas eu achava que ele era
meigo por ser filho único", diz. "Eu só desconfiava quando algum bonitão
passava perto de nós e ele ficava olhando." Quando finalmente
reconheceu o que não queria acreditar nem vendo, Cléia passou a
perseguir o ex. Durante um ano frequentou boates gays, na tentativa de
"Fazer parte do mundo dele e, desse jeito, reconquistá-lo". Ela se
sentia culpada e confusa. "Comecei a achar que foi por minha causa que
ele começou a gostar de homens. Emagreci sete quilos e fiquei no pé dele
por um ano. Depois, aos poucos, toda essa tormenta foi passando. Hoje
somos amigos."
Uma dúvida que tira o sono de algumas mulheres é se o ex-namorado que
de uma hora para outra vira gay já era gay na época do namoro. A
resposta, claro, é talvez sim, talvez não. "As pessoas vão descobrindo
qual é a delas com o tempo, por meio de experiências", diz Bruno Leal.
"Boa parte, se não a maioria de rapazes que hoje em dia se declaram
gays, se apaixonou sinceramente e se relacionou com mulheres antes de se
permitir entrar no universo das relações homoeróticas", completa o
sociólogo Richard Miskolci, pesquisador do Núcleo de Estudos de Gênero
da Universidade de Campinas (Unicamp). Não existe fórmula para saber
quem é homo e quem não é. A preferência sexual nem sempre se traduz de
maneira óbvia. Um cara pode ter jeito másculo e transar com homens ou
ser delicado e gostar de mulheres. O que fazer então? O jeito é relaxar e
deixar a vida se encarregar de trazer a resposta. E como agir quando
ela é sim... e você já se apaixonou? Aí, cada caso é um caso. Mas, vale
para todas a recomendação: tire da cabeça a ideia de que você pode
fazê-lo mudar de time! Para amar um gay, é preciso aceitá-lo como ele é.
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Carol foi apaixonada por um professor gay
No
aniversário de uma amiga, a publicitária Carol Furtado, 24 anos, de
Belo Horizonte, se interessou por um homem lindo, simpático e muito
educado que estava entre os convidados. Chamou a amiga num canto para
saber mais informações sobre o moço. "Desiste, ele é gay", foi o parecer
que recebeu. Em seguida, para o consolo dela, chegou à festa um outro
rapaz muito atraente. Ela procurou a aniversariante para conferir se ele
estava solteiro. A resposta: "Não, querida, este gato é namorado do
outro".
Aos 18 anos, Carol foi apaixonada por um professor de literatura que é
gay. Mas nunca - que ela saiba - ficou ou namorou com um homem que
tenha assumido ser homossexual. Ela acredita que o público feminino
simpatiza tanto com eles porque eles são menos "pragmáticos" que os
héteros e mais capazes de ouvir e conversar.
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Cecília
Amaral, 26 anos, de Fortaleza, namorou por um ano e sete meses um
designer gráfico que conheceu no Carnaval de 2005. "Eu o amava, mas o
namoro era cheio de altos e baixos. Quando estávamos juntos, era ótimo,
formávamos um casal legal, pra cima, nos divertíamos muito e a relação
sexual era boa também". O namoro terminou porque "ele estava muito
ausente". Um tempo depois, Cecília descobriu que durante um ano enquanto
esteve com ela, o ex também namorava outro homem. Ela não teve raiva,
mas ficou decepcionada. "Me senti traída, sim. Gostaria que ele tivesse
sido sincero e dito que estava com outra pessoa, que gostava dos dois,
que se abrisse. A partir daí, eu escolheria qual caminho tomar. Raiva eu
senti foi do namorado dele, que se aproximou de mim e se passou por meu
amigo o tempo todo, até falei com ele quando estava para acabar o
namoro. Achava que ele estava me aconselhando. Mal sabia eu..."
Durante o namoro, um amigo contou a Cecília que o seu ex já havia
tido um caso com outro garoto quando ainda estava na escola. Ela não
acreditou. Por ter um "jeito másculo" e ser bom de cama, ela nunca
desconfiou que ele pudesse se relacionar com outros homens. Cecília diz
que ficou triste por ter sido traída, e não por descobrir que seu ex é
gay. "Numa mesa de bar uma vez eu até disse que preferia ser trocada por
outro homem, pois a questão não seria comigo. Quando a gente é trocada
por mulher fica pensando o que o cara viu na outra".
O ex a procurou para conversar e pediu desculpas. Hoje em dia eles
sentem "um enorme carinho um pelo outro", mas não convivem. Ele ainda
está com o mesmo homem. Cecília conta que seus amigos têm ódio do ex e
acham que ele é o culpado por ela não ter namorado mais ninguém. Ela
afirma que não ficou traumatizada, mas que não põe mais "a mão no fogo"
por homem nenhum.
Apaixonar-se por um gay é comum O que dói é a mentira Curiosidade ou atração? Carol foi apaixonada por um professor Cecília namorou quase dois anos com um Será que ele é gay?
Será que ele é?
>>
Simpatia, educação, formação cultural ampla e bom gosto para se vestir
mostram apenas se um cara é interessante. E não se ele é ou não gay!
>> Como ele olha para outros homens? Tenha sensibilidade para
captar os desejos dele (isso vale para qualquer relacionamento).
>> Conversa, muita conversa pode ajudar a saber mais sobre as
preferências sexuais do parceiro. Agir com naturalidade, e não com
repulsa, em relação ao sexo entre homossexuais pode ajudar o suspeito a
se abrir. Mas muitos não confessam de jeito nenhum.
>> Se alguém contar a você alguma coisa sobre ele, não se negue
veementemente a acreditar na possibilidade, mesmo apaixonada. A não ser
que não queira mesmo ver o que está diante do seu nariz.
Apaixonar-se por um gay é comum O que dói é a mentira Curiosidade ou atração? Carol foi apaixonada por um professor Cecília namorou quase dois anos com um Será que ele é gay?