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sábado, 8 de dezembro de 2012

Identidades Gay em Lisboa

Temática

Este estudo procurou explicitar de que forma a marginalidade sexual relativa é gerida por diferentes indivíduos e/ou grupos num contexto local preciso, nomeadamente Lisboa, através da mobilização de processos de negociação de poder simbólico e do reposicionamento do “estilo de vida gay”. Este último aparece definido positivamente pela maioria dos entrevistados aquando da análise e observação do seu discurso, do qual se constrói uma leitura da homossexualidade que a coloca mais próxima daquilo que são as normas e, ainda, o reforço do processo de marginalização de outras formas de experimentação da homossexualidade, tanto pela sociedade portuguesa no geral, como particularmente pela lisboeta. Como ponto de junção dos aspectos mais marcantes deste discurso surge a questão da conjugalidade como marco entre as formas de vivenciar a homossexualidade.
O estudo pretendeu, igualmente, analisar a relevância da frequência de locais públicos para a construção do discurso gay, bem como para o processo de gestão simbólica da marginalização sexual nas primeiras fases da construção de uma identidade gay. Já como reforço da globalização das referências e quadros de identificação nos percursos de vida gay surge a Internet.

Conclusões do autor

A autora conclui que ser gay induz ao domínio de técnicas de sedução em público aceitáveis neste meio, bem como uma definição muito clara do que (ou quem) pode ou não ser eroticamente atraente, aspectos construídos, em grande parte, pela frequência dos locais públicos. São estes, nomeadamente os bares, locais de resistência discursiva e de fronteiras de significação que, também por incluírem elementos de decoração, de utilização significativa da música e de performance, cumprem, através da sua frequência, uma função de aprendizagem do “ser gay”, quer no sentido individual, quer na elaboração de um corpo partilhável de significados, favorecendo a criação e manutenção de uma sociedade gay.
São os próprios espaços públicos, assim como as associações gay, a mobilizar a Internet como instrumento de identificação entre o público, ao qual se dirigem.
Assim, a questão gay, tal como a dos consumos culturais ao nível da cidade de Lisboa, integra-se num projecto de modernidade global que vem reforçando a marginalização relativa de alguns sectores da mesma, levando ao surgimento de uma definição mais clara das fronteiras entre dois mundos: homossexual e heterossexual.
Posto isto, para a maioria dos entrevistados, a bissexualidade é uma forma de transição para a total assumpção da comunidade gay, enquanto para outros esta é vista como uma espécie de disfarce ou recusa na aceitação das dificuldades compreendidas na homossexualidade. Estes últimos mantêm simultaneamente uma relação formal com a normalidade heterossexual visto que procuram os espaços públicos gay para experiências homossexuais esporádicas ainda que mantenham uma vivência social e familiar heterossexual.
No que respeita à diversidade interna da conjugalidade gay, além de se constituir como uma resposta a condições adversas específicas é, também, o reflexo de um contexto ideológico de classe média (urbana e escolarizada) no que toca à família e à sexualidade, visto que não se distribui de forma aleatória dentro do meio. Apesar disso existe, entre os inquiridos uma tendência evidente para o envolvimento em relações conjugais, muito embora sob formas distintas, particularidade da conjugalidade homossexual. A percepção da autora é, também, a de que quem se assume como homossexual, consegue depois mais facilmente construir as suas próprias normas noutros domínios além da sexualidade, edificando uma postura menos mediada por embaraços de carácter moral ou normativo, mais individualizada, independente e muito variável ao longo do percurso de vida.
Embora, partindo de uma posição marginalizada o grupo entrevistado, recorre a uma estratégia discursiva complexa a fim de contrariar essa marginalização e tende a ver-se a si mesmo como parte integrante da modernidade e globalização dos estilos de vida, projectando essa imagem dentro do seu meio e, também, para o exterior através de uma discursividade fortemente identitária.

Metodologia

da Amostra

Os sujeitos que constituem a amostra são na sua totalidade homens jovens, escolarizados, da classe média urbana de Lisboa, que se auto-identificaram como homossexuais face à sua orientação sexual.

dos Instrumentos

Os instrumentos utilizados foram: a entrevista, observação naturalista e material de uma investigação qualitativa realizada, anteriormente, no meio gay de Lisboa

dos Procedimentos

A investigação estruturou-se em torno de dois eixos de interesse: os espaços de sociabilidade pública especificamente gay e a esfera doméstica, em particular relacionada com a experiência de conjugalidade destes homens.

Quadro de referência do autor

A autora aponta a utilização da teoria de J. Pina Cabral em 1996, resultado de uma investigação qualitativa efectuada no meio gay de Lisboa, intitulada “ A difusão do limiar: margens, hegemonias e contradições na antropologia contemporânea”.

Quadro de referência do resenhista

Por termos de comparação com a quantitativa, denota-se que a investigação qualitativa aqui em causa é muito mais centrada no significado directo e imediato que o objecto de estudo tem nos sujeitos e na contribuição que essas significações acabam por ter no construto desses mesmos indivíduos.

Assim, o tema abordado não se obriga a uma análise obsessiva e sistemática de dados objectivos, deixando espaço de manobra para considerar alguma subjectividade inerente à abordagem efectuada. Consequentemente, em vez de termos uma procura incessante por resultados que nos possam permitir corroborar uma teoria e generalizá-la, acabamos por ter uma perspectiva mais particular e discritiva da(s) questão(ões) em causa. Logo a procura e selecção da amostra não se obriga a uma representatividade populacional no sentido lato.
Para tanto, constata-se que, neste método de investigação, a relação entre o investigador é de uma proximidade e envolvência com os sujeitos que não é passível de se verificar no método quantitativo, até porque, muito provavelmente, seria considerado contraproducente. Esta relação leva a que o ritmo da investigação se faça com grande respeito pelos timings dos sujeitos inseridos no estudo.
Em suma, podemos concluir que o método utilizado neste estudo tem uma vertente marcadamente mais humanista e um carácter eminentemente social de inspiração tendencialmente filosófica, quando comparado com o quantitativo.

Crítica do resenhista

Neste texto em particular, não podemos deixar de referir que a autora nem sempre consegue expor as suas ideias de forma clara e eloquente aos leitores, a começar pela própria apresentação dos reais objectivos do aludido, tornando complexa a compreensão do que pretende transmitir por parte dos receptores. Sendo que, no entanto, não se pode afirmar que se trata, por assim dizer, de um texto com elevado grau de complexidade linguística e/ou técnica.
No decorrer da exposição a investigadora apresenta várias ilações que, pese embora talvez possam não ser consideradas abusivas, parecem carecer de mais ou, pelo menos, diferentes fundamentos a vários níveis.
O grau de respeito, proximidade e humanidade evidenciada para com os indivíduos do estudo revelam uma empatia reconfortante para qualquer potencial alvo de estudos futuros.

Indicações do resenhista

O artigo que ora se analisou na medida do solicitado e o próprio estudo que está na génese, têm um certo e determinado interesse para a prossecução de outros estudos relacionados com a comunidade gay e os seus comportamentos pessoais e sociais.
Contudo, os investigadores que entendam enveredar por esta temática deverão sempre olhar as referidas produções científicas atendendo à data das suas publicações, pois, não podemos olvidar que os mais recentes desenvolvimentos políticos e legislativos levam a que determinadas aspectos passem a ter um enquadramento e uma leitura completamente distintas das de então.


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